Blue Velvet

quarta-feira, março 22, 2006

Carlos e Bruna

Carlos Nunes, era conhecido na terra pela sua simpatia. Pessoa bastante amistosa seguia à letra a palavra do senhor. Se lhe batassem na façe esquerda, ele dava a direita. E sempre com um sorriso nos lábios. Para acentuar esta sua caracteristica, sempre que podia acrescentava um diminutivo na frase. Tornava-a mais ternurenta. “All we need is ternura”, diziam os beatles e cumpria o Carlos Nunes.
Bruna Cardoso Santos, desculpem, Bruna Santos Cardoso era uma contestatária. Bloquista convicta, era uma revoltada da sociedade. Incomodava-a profundamente o politicamente incorrecto, desde que um dia à entrada para o Papa Açorda, o seu namorado, entrou primeiro do que ela e não segurou a porta à sua passagem. O seu nariz nunca mais foi o mesmo, assim como as suas convicções. Até o seu nome tinha sido alterado para ser politicamente correcto. Santos pela parte do pai, Cardoso pelo lado da mãe.
Um dia, por carga uma das coincidências do destino esta dupla está sentada à mesma mesa, onde um grupo de amigos comuns está em pleno debate filosófico.
- O meu velho, anda-me a chagar a cabeça. Quer que começa a trabalhar lá na empresa, já viram? Tenho 26 anos. Ainda sou um teenager. Disse que se não começasse já, não me patrocinava a minha ansiada ida à Bolivia para fazer cabanas para os indios. (Amigo 1)
- O teu velho? Isso é expressão. Velho, Cota. O teu pai. E mesmo que não fosse pai, velho é palavra depreciativa. Idoso é o que se deve usar. (Bruna)
- Idoso? Que palavra sem alma. Velhinho é que é. Penso que demonstra muito mais respeito e carinho pelas pessoas mais velhas.(Carlos)
- Velhinho. Demonstra pena... Isso sim. Idoso é a palavra certa e não se fala mais nisso. (Bruna)
(...)
Quando iam a sair, Carlos, como era seu hábito abre a porta e faz questão que as senhoras presentes saiam primeiro. Bruna ainda não refeita do trauma que a atormenta à 10 anos passa, mas sempre com as mãos à frente do peito. Não vá o diabo tece-las. A porta não bate. Estava ali um cavalheiro.
(...)
Com o passar do tempo Bruna e Carlos começaram a se encontrar e a ir tomar um cafézinho juntos. Outra vezes iam a um cinemazinho perto da casa dos dois. Uma tensão sexual estava a crescer. Até que depois de uma noite muito alegre, Bruna convida o Carlinhos para ir a sua casa. Beijam-se mal entram em casa. Começam-se a despir, e Bruna dando um passo atrás com o seu politicamente correcto, exclama:
- Carlos, que pilinha tão bonita!!!
O que aconteceu, não estava nos planos. Carlos sem pensar, puxou a culatra atrás e deu uma estaladela na sua bloquista preferida. Pegou na roupa, vestiu-se e foi-se embora. A face esquerda da Bruna nunca mais foi a mesma.