O Centro do Mundo ...

Irrita-me a necessidade que os portugueses têm de serem falados pelos outros. Uma equipa portuguesa vai jogar lá fora com um clube europeu de média dimensão, e no dia seguinte é ver nos jornais cá da praça um artigo inchado de orgulho com as manchetes sobre o feito nos principais jornais europeus, quer a equipa ganhe ou perca. Quando a Maddie desapareceu, deu-me sempre a ideia que um dos grandes alimentadores do caso em termos mediáticos foi o entusiasmo que gerou o facto de Portugal ser durante mais de um mês falado em meio mundo. Chegou a ser triste ver o José Rodrigues dos Santos dar a notícia de que Portugual tinha sido notícia de abertura na CNN. Que orgulho! Isso é que é mesmo importante! Raio de egocentrismo idiota e terceiro mundista. Nesse sentido, os portugueses que mais nos merecem admiração são aqueles que mais conseguem ser falados lá fora: o Mourinho e o Ronaldo. É sempre um “ice breaker” em qualquer país por esse mundo fora. “Where are you from? Oh Portugal! Ronaldo! Ronaldo! Hihihihi! Very nice!”. Isso reflecte-se também na indignação que os portugueses têm em geral por um americano, um austriaco, ou um colombiano não saberem onde é Portugal. Ou se souberem, por não saberem por exemplo quem foi o Vasco da Gama ou a Padeira de Aljobarrota. Como se eles não tivessem também os seus bonequinhos históricos para decorar. Porque raio se haviam de interessar mais por Portugal do que se interessam pelo Gabão ou pela casa amarela do quarteirão adjacente? Por acaso o português médio também sabe quem é o Governador do Nebraska, qual é o nome de todos os estados americanos ou quem é o 1º ministro da Eslováquia? Eu não sei.
Enquanto tivermos esta necessidade idiota e patológica de atenção e esta convicção de que Portugal é o centro do mundo vamos estar sempre demasiado preocupados com o folclore das aparências do que com os reais problemas do país e das pessoas.