Damian "Jr. Gong" Marley
Ontem retomei a minha vida social em Portugal no que a concertos diz respeito. O último tinha sido Nine Inch Nails em San Diego. Ontem voltei ao local de crimes anteriores, um local que faz parte do meu crescimento musical e pessoal, onde já vi tantos concertos marcantes, e outros bem menos que isso. Ao princípio da noite rumei ao Coliseu, a velhinha sala de espectáculos portuenses, que fica a dever um pouco à modernidade dos equipamentos e do design, mas que ganha a muitas salas e pavilhões pseudo sala de concertos no que à acústica diz respeito. O motivo: o concerto de Damian "Jr. Gong" Marley, o filho mais novo do Bob Marley. O que se pode dizer do rapaz? Bem… pode-se dizer que o Bob demorou mas acertou quando fecundou pela última vez. Este rapaz tem atitude e criatividade. Sempre com a chama tradicional do reggae por trás, não renegando as origens, mas reinventando as fórmulas, fundindo os vários estilos reggae, como o ragga, o rocksteady ou o dancehall, com estilos mais contemporâneos como o hip hop, e não se coibindo de utilizar samples. Tem músicas muito boas, utilizando legados do pai em duas ou três músicas, mas reinventando-as completamente à luz da sua filosofia. No concerto as músicas são tocadas bastante na linha do disco, mas com liberdade para acalmar ou acelerar a música conforme se pretende incendiar ou acalmar o público. O concerto começou só com os músicos em palco a tocarem um pequeno medley instrumental de músicas de Bob Marley, das quais se destacam o Jammin’ que serviu para aquecer o público, e no fim deste um mestre de cerimónias todo ele rastafari jamaicano na casa dos 50 bem vividos veio apresentar Damian "Jr. Gong" Marley com retórica tão típica da cultura rasta. E a partir daí foi uma viagem bem agradável pelo 3º álbum de Damian Marley. Muita energia, muito salto, frases políticas e discurso rebelde. Mas também houve espaço para os isqueiros, que foram pedidos por Damian por duas vezes, para acompanhar músicas mais tranquilas como por exemplo a excelente “There For You”. O encore foi muito enérgico e substancial, não se limitando a uma musiquinha. Deixou-nos aliás com 3 ou 4 músicas, entre as quais duas das melhores músicas do álbum, o hit “Welcome to Jamrock” e a excelente “Road to Zion”. Pelo meio posso assinalar também a “In 2 Deep” onde Damian levou mais longe a mensagem e onde a participação do público foi esmagadora, a “Move” com a reminiscência do pai presente por intermédio de “Exodus” com muito calor e energia, a animada “We’re Gonna Make It”, ou o meddley homenagem ao pai Bob onde cantou “Could You Be Loved”, “War” e “No More Trouble”, onde o público não parou de cantar e dançar. Globalmente foi um concerto muito bom, onde se pode recordar e homenagear Bob Marley, mas onde a estrela foi o seu filho Damian, não se deixando este enredar pela facilidade do tributo ao pai e acreditando na sua música. Aconselho vivamente o álbum de Damian Marley, principalmente para quem gosta das sonoridades mais reggae, mas desenganem-se pois “Welcome to Jamrock” é bem mais que um algum reggae. Como curiosidade posso dizer-vos que um rastafari com cerca de 2 metros bem fumados esteve em palco o concerto todo a abanar uma bandeira da Jamaica, compenetrado e determinado na sua missão. Um espectáculo dentro do próprio espectáculo. No fim a pergunta surgia natural: porquê? O raio do homem não fez mais nada! Só agitava a bandeira e parava nos silêncios musicais, num ritmo desencontrado e numa atitude determinada e misteriosa. No meio da nuvem aromática que se apoderou do Coliseu surgiu-me um significado pertinente por trás da performance da bandeira, uma simples mensagem de validade duvidosa e de moralidade questionável: jovem, diz não à droga. Posso dizer-vos pela observação local que os jovens se marimbaram para a suposta mensagem subliminar.
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