Violação de Privacidade
Regresso ao vosso convívio com um assunto pouco agradável. Diria mesmo, um assunto de merda. Numa sociedade cada vez mais voyerista, ávida da privacidade alheia, o Homem necessitou de encontrar locais de refugio, onde o olhar indiscreto e inoportuno não fosse capaz de penetrar, onde o Homem se pudesse exprimir em toda a sua plenitude, sem medo de censuras ou julgamentos. O Homem sempre necessitou de momentos de solidão e introspecção. Hoje, esses lugares são cada vez mais reduzidos, rareando no mundo civilizado. E mesmo o ultimo reduto, o retiro total, o bastião da solidão, está a desaparecer na sua forma hermética e absolutamente estanque. Estou a falar, como todos já devem ter percebido, da casa de banho.
A casa de banho tem sido um local de culto, onde lemos aquilo que nos dá na gana, onde contamos o número de azulejos da parede, onde fazemos barulhos nunca revelados ao mais intimo dos amigos, onde estudamos a composição química de cremes, loções, analgésicos, pomadas e anti inflamatórios, ou onde simplesmente nos sentamos descansados a pensar no dia que passou, no que há-de vir, no que poderia vir, ou no que nunca virá. É um descanso do mundo exterior, um descanso mental, minutos de puro relaxamento, livros devorados, revistas desinteressantes folheadas apaixonadamente, enfim. São o que eu chamo de revistas de merda. Aquelas com notícias do mundo social. As mais apropriadas para uma latrina.
A verdade meus amigos, e que essa pequena fortaleza da nossa intimidade tem sido vandalizada. Depois do fast food, teria inevitavelmente que ser introduzido o conceito do fast shit. O conceito é o seguinte: tira-se todo o conforto, toda a sensação de segurança a uma casa de banho, e as pessoas usam-na menos tempo e menos vezes. A casa de banho tornou-se um espaço aberto, de comunhão e intercâmbio. Segundo este conceito, ao entrarmos numa casa de banho destinada a vários usuários, como em shopings, empresas, espacos públicos, deparamos com um espaço para a intimidade reduzidissimo, aberto junto ao chão e acima da cabeça, apenas resguardando a privacidade mínima. São autênticas barracas pré fabricadas de qualidade duvidosa que nos separam do mundo exterior. É uma verdadeira violência tentar ter um momento relaxado, quando é possível ver as sombras de pessoas apressadamente a dirigirem-se para os urinóis, sermos bafejados pelo sopro indiscreto da maquina de secar as mãos, ouvirmos as conversas exteriores, ouvir a porta a abrir, a porta a bater. É um momento de alerta constante, em que estamos sempre a ver quem entra, quem sai, e é um alivio quando o espaço se esvazia, voltando a pertencer-nos exclusivamente. Esforçamo-nos por não nos fazer notar, e jogamos o timing dos nossos afazeres com a baforada ruidosa da máquina de secar as mãos ou com a descarga do urinol. E se nos descuidamos fora de tempo e damos sinal de presença, pensamos “vão-me reconhecer pelas sapatilhas!”, enquanto tentamos elevar os pés a uma altura de segurança. O que é feito das paredes? Das portas até ao chão? Depois disto, o que falta?
A casa de banho tem sido um local de culto, onde lemos aquilo que nos dá na gana, onde contamos o número de azulejos da parede, onde fazemos barulhos nunca revelados ao mais intimo dos amigos, onde estudamos a composição química de cremes, loções, analgésicos, pomadas e anti inflamatórios, ou onde simplesmente nos sentamos descansados a pensar no dia que passou, no que há-de vir, no que poderia vir, ou no que nunca virá. É um descanso do mundo exterior, um descanso mental, minutos de puro relaxamento, livros devorados, revistas desinteressantes folheadas apaixonadamente, enfim. São o que eu chamo de revistas de merda. Aquelas com notícias do mundo social. As mais apropriadas para uma latrina.
A verdade meus amigos, e que essa pequena fortaleza da nossa intimidade tem sido vandalizada. Depois do fast food, teria inevitavelmente que ser introduzido o conceito do fast shit. O conceito é o seguinte: tira-se todo o conforto, toda a sensação de segurança a uma casa de banho, e as pessoas usam-na menos tempo e menos vezes. A casa de banho tornou-se um espaço aberto, de comunhão e intercâmbio. Segundo este conceito, ao entrarmos numa casa de banho destinada a vários usuários, como em shopings, empresas, espacos públicos, deparamos com um espaço para a intimidade reduzidissimo, aberto junto ao chão e acima da cabeça, apenas resguardando a privacidade mínima. São autênticas barracas pré fabricadas de qualidade duvidosa que nos separam do mundo exterior. É uma verdadeira violência tentar ter um momento relaxado, quando é possível ver as sombras de pessoas apressadamente a dirigirem-se para os urinóis, sermos bafejados pelo sopro indiscreto da maquina de secar as mãos, ouvirmos as conversas exteriores, ouvir a porta a abrir, a porta a bater. É um momento de alerta constante, em que estamos sempre a ver quem entra, quem sai, e é um alivio quando o espaço se esvazia, voltando a pertencer-nos exclusivamente. Esforçamo-nos por não nos fazer notar, e jogamos o timing dos nossos afazeres com a baforada ruidosa da máquina de secar as mãos ou com a descarga do urinol. E se nos descuidamos fora de tempo e damos sinal de presença, pensamos “vão-me reconhecer pelas sapatilhas!”, enquanto tentamos elevar os pés a uma altura de segurança. O que é feito das paredes? Das portas até ao chão? Depois disto, o que falta?