Blue Velvet

terça-feira, julho 05, 2005

Sanitas e afins

Considero a qualidade das nossas sanitas muito fraquinha, pelo menos comparada com as que se utilizam no país das tulipas. Não tem nada a ver com existência de aquecimento central no sítio onde um gajo se senta ou o aparecimento de um jacto de água para posterior lavagem, o chamado after-eight da cagada. Afinal, com todos estes extras não estaria a falar de sanitas, mas sim sobre postos de serviço nas gasolineiras, só faltando depois o ucraniano para pôr o perfume e limpar o rabo.
O que está em discussão é a ergonomia e posterior utilização desta por partes dos dois povos. Em Portugal a sanita mais utilizada é a tipo funil, \ / , isto é, com um grande declive onde favorece o desaparecimento quasi imediato do monstro. A não ser que a entidade se tenha acumulado desmesuradamente no portador devido a uma prisão de ventre ou então devido à falta de treino diário na ida à dita, o que vai contra as recomendações da minha antiga professora de biologia que com enorme sapiência e dominio sobre o assunto dizia que isto nunca devia acontecer, desde o nascimento dos primeiros dentes de leite devia existir um treino bidiário do nosso corpo para a expulsão destes monstros, afinal se o objectivo destes aliens é sair e eles se acumulam algum mal hão-de fazer, é raro olharmos com atenção para uma parte do nosso ser. Durante a saída o monstro vai escorregando pelo azulejo e se for preciso desaparece sem lhe pôrmos a vista em cima e sem se despedir. Claro que não nos podemos esqueçer que o português é um avido consumidor de literatura durante estes estágios, e existe uma proporcionalidade entre o desaparecimento do monstro e o tempo dedicado à leitura (no meu caso depende sempre do interesse das dúvidas postas na ajuda sexual da Maria). O caso holandês é diferente, dava um case-study nas nossas universidade. As sua sanitas são da forma ,T\ /, (não liguem aquela perna marota do T visto não estar lá a fazer nada, a parte superior do T está ao mesmo nível do \) com uma parte onde o monstro repousa após o parto, habituando-se à temperatura, ambiente que o rodeia, para depois existir a saída escapatória (mas esta tem que existir em qualquer sanita). Quando o monstro sai, fica ali a repousar sobre a plataforma de azulejo à espera quiçá, de um adeus, de uma breve análise às carnes e textura, estando o seu desaparecimento dependente da paixão que surja no momento entre o casal. Dutch apaixonado é pior que italiano. É gajo para cheirar com atenção, olhar, limpar-se, lavar as mãos e só no fim, quando não consegue arranjar justificação para mais demora no WC despejar o autoclismo, deixando escapar uma lágrima pelo canto do olho sempre que o resultado final a empreitada correu como o esperado. Agora se é um mostro sem alma, sem osso e musculatura, ein aborto, só pensam: “O que fiz mal para isto me ter acontecido?”, despejando a triste visualização logo de seguida. E aqui
está o busilis da questão, a grande diferença entre os dois povos.
Enquanto os holandeses desde pequenos se habituam a analisar a própria merda, podendo detectar uma má alimentação, um ligeiro problema de saúde através da análise momentanea das suas próprias fezes, nós não. Não aguentamos o cheiro, queremos é despachar aquilo o mais rapidamente possivel, tentando esquecer como um ser perfeito como o povo que descobriu o caminho marítimo para a India é capaz de fazer uma coisa tão nojenta como aquela. Mas se não conseguimos analisar a nossa merda como analisaremos outros problemas mais complicados? Se tudo fosse tão simples como puxar o autoclismo...
Adenda: Um grande vantagem do modelo holandês como bem me lembrou o unknown soldier, é o salpico no rabo. Com esta sanita ele é practicamente inexistente.