Epileptic
Como podem ver existem excepções ao que escrevi abaixo. A novela gráfica chamada Epileptic, escrita por David B. é uma delas. Esta novela reune os livros da série onde o autor conta a sua história pessoal sobre como é crescer com um irmão mais velho que tem epilepsia, e como isso o afectou a ele e todos que o rodeiam. Toda feita a preto e branco, esta história é contada com uma candura, um arrebatamento, uma imaginação que não me deixou indiferente. Além disso foca um assunto que, em geral, ainda é desconhecido para a maioria das pessoas, a epilepsia. Não, uma pessoa com epilepsia não é louca nem um coitadinho. Eu tenho epilepsia, herdei-a do meu pai. É daquelas coisas que ninguém gosta que lhe calhe na rifa, mas o que se há-de fazer? Embora fosse dado como curado desde os quatro anos, à sete anos atrás, ela apareceu-me para dar um olá. Estava cheia de saudades minhas. Desde então, nunca mais apareceu, duvidam até que apareça mas, pelo sim pelo não, todo o santo dia, à hora de jantar, lá vai o comprimido amarelo pela garganta abaixo, pelo menos nos próximos anos. Existem cuidados que se devem ter, mas basicamente tudo se resume a um, ter uma vida regrada. Descansar as oito horas indo para a cama o mais tardar às 23h, evitar café, coca-cola, alcool e não falhar no(s) medicamento(s). Eu confesso que muitas vezes não cumpro estas regras, mas unicamente devido ao facto não ter uma epilepsia forte. Caso tivesse uma epilepsia forte como o irmão do David B., aí não falharia. E esta “vida regrada”, penso eu, é a parte mais difícil para quem é jovem, tem esta doença, mas tem aquele bichinho do querer viver e do querer experimentar, esqueçendo-se que não pode. Cumprir todas estas regras obriga um jovem nos tempos que correm a, em parte, isolar-se dos outros, quando cada vez mais o convivio é feito à noite nos bares e discotecas entre copos, mulheres bonitas e música. Além disso existe o mito, e por influência familiar ou por vergonha(???), muitas pessoas com esta doença não contam nem mesmo ao amigos mais chegados o que têm e o porquê de se preservarem mais e passarem mais tempo em casa. É uma opção, respeitável mas a meu ver errada. Penso que a epilepsia deve ser encarada perante os outros como uma gripe ou até uma herpes. Não é preciso andar com um cartaz, mas convem, pelo menos os amigos mais próximos, saberem. Pode-se dar o caso de uma crise aparecer para um chá das quatro e o retornar do limbo com a língua toda fodida durante umas semanas não é uma sensação nada agradável. Se a pessoa ao lado ao menos souber que é só abrir a boca e pôr lá um lenço... vai ajudar muito, especialmente as refeições. Simples, não?