A Lei Oulmers?
O Charleroi, um mediano clube Belga, pôs a FIFA em tribunal. O motivo: o facto de não ter podido contar com um seu jogador Oulmers durante 8 meses devido a uma lesão contraída ao serviço da selecção Marroquina a que o jogador pertence, tendo pago os seus salários em 8 meses de lesão, e ainda custeado toda a sua recuperação. Alegações: violação das leis comunitárias da concorrência e abuso de posição dominante.
Nem de propósito, a situação é em tudo idêntica à de Nuno Valente e FC Porto. Veremos agora a posição de comentadores e opinantes da nossa imprensa, esses que crucificaram o FC Porto pela posição tomada perante a Federação Portuguesa de Futebol e o jogador Nuno Valente. Vão agora surgir os iluminados a dizer que os clubes são prejudicados pela situação vigente, que custeiam totalmente um jogador do qual não obtêm exclusividade, que custeiam paragens do jogador causadas ao serviço de outrem, que custeiam a sua recuperação, numa posição de benefícios num só sentido. Claro que o FC Porto, perfeitamente alinhado pela posição dominante nos grandes clubes da Europa, seus parceiros no G14, já há uns 3 ou 4 anos vem reclamando o alterar da situação e tentando chegar a entendimento com a Federação e com o autista e absurdo seleccionador nacional. Claro também, que tem sido fustigado pela imprensa, salvo alguns comentadores mais bem formados que lhe fizeram justiça. E claro que a posição desses iluminados há duas semanas atrás era outra, quando se falava do Nuno Valente e do FC Porto.
Vamos por partes. Existe situação idêntica ou semelhante em qualquer outra actividade económica na Europa ou no resto do mundo? Em que uma entidade usufrui de assalariados de outros indiscriminadamente nas datas em que este define previamente, e em que nenhuma contrapartida é dada ao fornecedor? E pior, que em caso de incapacidade adquirida por esse assalariado, o fornecedor ainda acarreta com os prejuízos infligidos por terceira parte? A resposta é clara: não! A UEFA e, ainda mais, a FIFA, têm comportamentos ditatoriais perante os clubes, e agem livremente sem que muitos levantem a voz. Vão inventando torneios para encher os bolsos com transmissões televisivas e sponsorização, enquanto sustentam estilos de vida principescos a uma data de privilegiados e parasitas. Isto tudo à custa de jogadores pagos a peso de ouro pelos clubes, que nada podem fazer para salvaguardar os seus investimentos e os seus bens. Aconteceu ao FC Porto com o Nuno Valente, e já não é a primeira vez. Acontece anualmente a vários clubes pelo mundo fora. E a FIFA e a UEFA continuam a encher os bolsos.
Terá sido a posição do FC Porto correcta? Dirão uns, que apesar de ser legítima a preocupação por trás da atitude tomada, esta não terá sido justa para com o jogador, nem em última instância com a Selecção Nacional, essa entidade intocável. Mas o FC Porto foi muito claro. Perante a avaliação do estado do jogador, seria arriscar a integridade e operacionalidade do jogador submete-lo aos jogos todos que se avizinham na presente temporada. Visto isso, como é lógico, foi-lhe proposto que não realizasse os de quem não lhe paga. O FC Porto não fez chantagem nem ostracizou o jogador. Tratou de tudo claramente, e conhecida a posição do jogador tratou de o colocar no mercado a tempo do fim das inscrições, assim como de providenciar um substituto. Isto é errado? Uma empresa tem um camião que não aguenta 100.000 km num ano, que é a quilometragem esperada para o ano de negócios. Ou diminui a distância anual do camião, ou troca o equipamento. Ou então, se for uma empresa falível e mal gerida, tenta aguentar o camião mais um ano, até rebentar. Mas como o FC. Porto é uma empresa bem gerida, com uma estrutura organizada e profissional, tratou de salvaguardar os seus interesses.
O futebol é uma indústria e tem que ser olhada como tal. São precisos resultados económicos. As SAD’s têm accionistas e grupos interessados que querem ver retorno nos investimentos efectuados. Não há mais benesses municipais ou fiscais para ajudar os clubes. Não há mais Euros. E isto foi um acto de gestão. Claro que se o Nuno Valente aguentar a época toda no Everton, mais a Selecção, o FC Porto vai ser criticado mais uma vez. Mas provavelmente o FC Porto estará satisfeito com um jogador que custou metade da venda do Nuno Valente, que tem 23 anos e um futuro à sua frente.
Acho que estamos perante o que pode ser a maior revolução no futebol desde o caso Bosman. Esperemos pelos próximos capítulos. Será que viremos a ter a Lei Oulmers?