Blue Velvet

terça-feira, fevereiro 14, 2006

A Ofensa de S. Valentim

Num clima de tensão social, política e religiosa como vivemos hoje, será legítimo, respeitoso e sensato festejar o dia de S. Valentim? Uma efeméride com nome de santo mas com carácter pagão que pode ajudar de novo a incendiar os ânimos. Sim, porque para os Testemunhas de Jeová este não é dia de S. Valentim, para a Igreja do Reino de Deus o S. Valentim é o padroeiro das pedras dos rins, e para os Muçulmanos nem se quer se pode namorar. Será então legítimo que nós nas nossas sociedades pluralistas possamos adoptar uma postura de confronto, festejando um dia que não preenche as crenças e as convicções de outras faixas da sociedade? E não ficarão os chamados “encalhados” numa posição de marginalização, visto não terem nenhum motivo para festejar, e servindo até este dia para os lembrar do quanto se sentem sozinhos? Obrigando todos os não crentes em S. Valentim a passar por este dia, não deveríamos nós também jejuar no Ramadão por respeito com o Islão?

Ao raio com isto tudo! Festejemos sim! A febre do politicamente correcto enerva-me tanto que fico com vontade de blasfemar indiscriminadamente e em vão, em nome da liberdade de expressão e da minha liberdade individual. Irrita-me ver o Ocidente a querer auto controlar-se tentando não ferir terceiros, quando qualquer um com dois dedos de testa e alguma atenção ao cenário é capaz de dizer que o problema aqui não foram as caricaturas, mas que estas foram apenas um pretexto, como aquele tipo na discoteca que vai contra outro só para armar porrada. Se o ocidente se encolhe agora e pede desculpas pelo encontrão que não deu, pode estar a dar um passo gigante na direcção errada. Abre um precedente gravíssimo de ingerência em matérias da nossa política interna e da nossa cultura democrática que os outros deviam respeitar, e curva-se perante os cada vez mais atrevidos radicais islâmicos, que vêm sempre na moderação expectante da Europa um aliado na sua sede de confrontação e ódio aos valores mais caros e representativos das civilizações ocidentais. Há muitas alturas para se ser moderado tal como já tenho defendido, mas esta não é uma delas.

A minha paródia acima sobre o dia de S. Valentim tem um paralelo num país Ocidental. Este último Natal nos EUA foi envolto numa certa polémica sobre a designação da árvore de Natal. Segundo indicações de uma instituição qualquer, não sei mesmo se governamental, a árvore não deveria ser chamada de “árvore de Natal” pois o Natal é cristão, e como todos celebram o feriado de dia 25 e compram uma árvore e têm férias nessa semana, a árvore devia ter outro nome, limpo e neutro. E este é o tipo de respeito que se pratica nos EUA em muitos casos. O caso é tão ridículo que quase afasta de si o perigo que ele representa. É o perigo da Europa se tornar numa sociedade podre e aparentemente inócua, onde cada vez mais a pluralidade será reprimida e desencorajada, em nome de um falso respeito e do proibir da discussão aberta dos temas mais delicados. Há princípios dos quais não devemos abdicar, ou então mais vale deixar de celebrar datas como o 25 de Abril ou a libertação dos Aliados do domínio nazi, porque a luta pela liberdade foi em vão.