Blue Velvet

terça-feira, julho 04, 2006

Onde estavas no 9 de Julho de 2006?

Espero que Portugal seja campeão do mundo. Claro que o factor de nunca termos sido campeões europeus ou mundiais pesa. Mas não é o mais importante.
Estando a caminho dos trinta, uma frase que estou farto de ouvir é a mítica: “Onde você estava no 25 de Abril de 1974?”. No meu caso não tenho que puxar muito pela cabeça. Simples. Estava nos tomates do meu pai. E por lá me mantive a estagiar ainda uns anitos. Mas é triste ter que dar esta resposta. Ainda para mais quem normalmente tem o privilégio de responder são os grandes coveiros do regime, desculpem, grandes democratas do regime. Sempre com os coeficientes de bazófia no máximo, tentando demonstrar alguma humildade, tal e qual os avós ensinaram, penso que, seguindo os ensinamentos da bíblia. “Podes ser dotado, mas se não fores humilde, fica mal demonstrar isso perante os outros, visto haver uma probabilidade de ficarem inibidos e leva-te ao Inferno” – Jacob, versículo 10, linha 162. Mas já falei disso há uns tempos atrás e não me apetece voltar ao mesmo.
Claro que se formos campeões do mundo, essa frase vai passar a ter concorrência, ainda para mais no país da bola, fuga aos impostos, desrespeito pelo próximo e quem tem um olho é rei. “Onde estavas no 9 de Julho de 2006?”.
Aqui já vou poder responder com propriedade e não vou estar dependente do Zé Tolas do meu pai. Até, caso amanhã ganhemos, posso preparar o cenário convenientemente, ao contrário do pessoal da classe de ’74 que foram apanhados de surpresa. Preparar uma santola, comprar umas tostas, cervejas e arranjar uma amiga com gosto pela aventura.
Imaginam daqui a 50 anos, o meu neto, virar-se para mim e perguntar: “Avô onde estavas no 9 de Julho 2006, quando Portugal foi campeão de mundo?”. E eu, com os coeficientes de bazófia no máximo, sem nenhuma vergonha ou humildade. “Filho estava, e só após um mês é que soube, a fazer o teu pai. Nunca mais me esqueço. Minuto 90. Emoção ao rubro. Os preservativos tinham sido esquecidos. O objectivo era tirar antes de me vir. A tua avó de quatro porque ela sempre foi mais fanática do que eu, e o Cristiano Ronaldo, nesse momento, após passe fabuloso do Deco isola-se a meio do meio campo e começa-se a dirigir ao guarda redes italiano, que era na altura o melhor do mundo. Buffon. Ele a aumentar a pedalada para não ser alcançado e eu inconscientemente também. A tua avó já não corria, voava. Só me dizia “Apanha o Cristiano Ronaldo, apanha o Cristiano Ronaldo. Corre caralho, apanha o Cristiano Ronaldo.” E eu... Olha miúdo. Posso-te dizer que no minuto 90 aconteceu aquilo a que eu passei a chamar golo duplo. Só que com uma nuance. O Ronaldo quis marcar, e eu queria falhar."