Blue Velvet

quinta-feira, setembro 30, 2004

Não Me Querendo Meter, Mas Metendo-me Já Um Bocadinho ...

Neste blog não queria meter-me em questões políticas, ou futebol, ou outras questões desse género. Queria que fosse um espaço de recreação, onde me divertisse a escrever uns textos, e pudesse divertir os outros. Mas pronto, teve que ser… E para non sense a política tem características únicas.
Vai hoje a concelho de ministros a aprovação da cobrança de portagens nas SCUTS, as auto-estradas sem custos para os utentes. E assim se vai penalizando os portugueses pela inépcia dos incompetentes que têm passado pelo governo.
Vamos ver uma coisa. Há milhares de pessoas a utilizar as SCUTS diariamente por extrema necessidade. Eu trabalho a 30 quilómetros do Porto e utilizo todos os dias o IC1 para poupar alguns Euros. Usando a auto-estrada para todo o percurso, gasto 46 Euros por mês em portagens, o que é algum dinheiro. E é um percurso que tenho que fazer obrigatoriamente. Em situações bem piores estão milhares de pessoas.
Depois de dois anos de salários congelados, os aumentos ficam aquém das expectativas, fazendo com que os portugueses ganhem cada vez menos em relação aos preços das coisas e aos seus parceiros europeus. Os aumentos para serem reais, têm que ser superiores à inflação. Se os salários congelados estes dois anos não forem compensados agora pelas inflações dos últimos dois anos, mais a inflação prevista para 2005, então é claro que cada vez mais vamos perdendo poder de compra. Ao mesmo tempo, um tipo que esteve cerca de um ano como director geral da Caixa Geral de Depósitos é afastado, e sai com direito a uma pensão mensal de cerca de 18 mil euros! Isto não é brincar com as pessoas? E pedem que aceitemos constantemente medidas restritivas!
A minha opinião, para quem percebe pouco de economia, é a de que nos últimos anos se tem seguido uma verdadeira política de merceeiro. Assim eu também sou gestor! Vender património e aumentar os valores dos impostos, e controlar os custos (mas não muito) é uma actuação que qualquer merceeiro sabe fazer. Só que um país não é uma merceeria. Ao cortar os movimentos assim ao povo, criando-lhes dificuldades, e acima de tudo acenando com o papão da recessão, estamos a matar um grande motor de uma economia, que é o consumidor. Se o dinheiro não circular, a economia está parada, e assim é impossível recuperar. Vejamos o que fez a França e a Alemanha. Em vez de se fechar no buraco, criou incentivos para as empresas e estimulou a economia para que ela não morresse com a recessão. Aconteceu que o défice ultrapassou o estipulado, mas a economia está a recuperar e em bem melhor posição que a nossa. A desobediência foi perdoada como se esperava, e levou a que os critérios fossem revistos, admitindo-se que eram obtusos. Os idiotas dos bons alunos portugueses, que cumpriram o défice nem que para isso tivessem que vender a própria mãe, continuam na penúria, a continuar a vender património, e agora a cobrar novas portagens… Enfim …
Muitos autarcas, e a maioria deles das cores políticas do governo, já anunciaram que os seus munícipes não vão aceitar pagar as portagens, e que vão protestar. Lembram-se como começou a cair o governo de Cavaco Silva? Pois… com as portagens da ponte 25 de Abril. Será que a história se pode repetir. É provável… Só uma diferença! Este governo já se enterrou bem antes.