Blue Velvet

quinta-feira, setembro 23, 2004

Dia Europeu Sem Carros?

O dia europeu sem carros é como se fizessem o domingo europeu sem futebol. Não se joga ao domingo, joga-se nos outros 6 dias da semana. É um dos dias mais hipócritas do ano. Não tem nexo, é uma iniciativa estéril e sem seguimento, e serve só para dizer "Nós passamos o ano a construir parques de estacionamento na baixa, a melhorar os corredores automóveis, a reduzir o espaço para peões e os espaços verdes, mas hoje preocupamos-nos mesmo muito com vocês! Proibimos a circulação por 12 horas em 5 ruas e uma avenida! Aproveitem bem que é só hoje". E depois o que quer dizer Dia Europeu sem carros? Quer dizer Dia Europeu Com Trânsito Como o Caraças No Resto das Ruas! Porque é aquele tipo de iniciativa feita em cima do joelho, e porque os transportes públicos estão pensados para satisfazer apenas aqueles que não têm outra maneira de se locomoverem. Ou seja, não satisfazem ninguém só que uns têm obrigatoriamente que andar por que não têm outro meio.

Vamos ser justos e reconhecer que se tem tentado agir de algum modo (falo do porto que é o que conheço). Principalmente o Metro veio dar um abanão nos transportes públicos. Agora já vê interacção entre os diferentes tipos de transportes públicos, tenho notado também um aumento interessante das faixas exclusivas para autocarros, e até uma melhoria na frota dos STCP. E agora que tal começar a proporcionar um serviço de excelência, não falhar horários, ter funcionários educados, equipamentos de primeira linha, e preparar aos poucos que o Dia Europeu sem Carros deixe de ser necessário e passemos a ter o Ano Todo Com Poucos Carros. Já sei que alguém me vai escrever aqui "de certeza que pegas no carro por tudo e por nada e queres é que o pessoal comece a andar de autocarro para tu andares à vontade". É verdade que é raro entrar num transporte público, mas porque não tenho alternativas válidas perto de casa, e principalmente para os sítios para onde me desloco. Já estive a viver 6 meses fora de Portugal e tinha carro onde vivia. Os transportes mostravam-se tão atraentes em termos de mobilidade, pontualidade, e ok ... conforto nem por isso... que eu fui gradualmente deixando o carro e andando de transportes públicos. E não havia restrições aos carros no centro.

Penso que era importante tirar os carros do centro da cidade, reduzi-los ao mínimo. Revitalizar a baixa, promovendo a habitação jovem. A maioria das pessoas que conheço adorava ir viver para uma casa recuperada na baixa, mas queixam-se dos preços, da falta de qualidade de vida devido ao trânsito, poluição, desertificação. Enfim ... este é um problema para outras núpcias.