O Papel da Decoração nas Forças de Segurança e As Doses da Discórdia
Sempre gostei de ver as notícias na televisão referentes a apreensões policiais, rusgas e operações afins. Há sempre aquele momento na reportagem em que vemos o espólio apreendido disposto criteriosamente de uma forma harmoniosa que só barras de haxixe, pacotes de coca, armas, dinheiro e telemóveis conseguem proporcionar. E está tudo apresentado de uma forma pensada, com as facas de mato junto das barras de haxixe, havendo sempre o cuidado de uma das barras estar semi despida de papel aderente e meio partida como nas revistas de culinária estão os bolos cortados para se ver o interior. Os cartões de crédito estão sempre perto dos pacotinhos de coca, e mais uma vez umas gramas do pó branco estão expostas em cima de um papel de prata. Depois temos as armas em fundo com as notas à frente, dispostas por ordem crescente de poder. Par a par encontram-se as baixo calibre com as notas de cinco euros, e vai subindo até a Uzi e a Caçadeira de canos serrados e as notas de 500 euros. Depois há imagens de marca, que sobem de nível conforme a polícia envolvida. As apreensões da Polícia Judiciária têm sempre o distintivo galhardete atrás, em fundo, encostado à parede, notando-se também um maior cuidado na escolha dos atoalhados que forram a mesa, adoptando um estilo sumptuoso. As próprias armas apreendidas e os telemóveis são mais sofisticados, e há sempre a presença de notas de 500 euros e automóveis. As da PSP destacam-se pela discrição e a sobriedade, num estilo mais minimalista, figurando uma discreta menção à PSP, e onde podemos ver armas de todo o tipo, uns atoalhados menos elaborados, e onde as notas de 500 euros aparecem mais dificilmente. Depois temos as apreensões das GNR, que proporcionam de longe as apresentações televisivas mais toscas. É raro apresentarem o emblema da força, o critério da exposição das peças é mais desmazelado, muitas vezes nem sequer há uma toalhinha para tapar o tampo da mesa carunchosa, e os telemóveis apreendidos são já desactualizados, as notas não ultrapassam os 20 euros e as armas são do tempo do John Waine.
Agora fica a pergunta... Quem faz este trabalho de pura decoração? Terão as forças policiais à disposição um(a) decorador(a) de serviço para preparar estas apresentações. Parece que estou a ver um senhor de botins de pele de crocodilo, um blazer muito avant garde e umas calças a fazer conjunto, colete à prova de bala e pistola de alarme, capacete de design, a corres pelos arbustos e blocos de bairros degradados, atrás das forças de intervenção. “Deixem passar o decorador!! Cubram-no!! Disparem mas não acertem nas armas nem nos carros! Se não estragam a apresentação toda!!” E claro que a GNR não possui nenhum, ou então contratou o homem do talho para fazer uns biscates, pois aquelas montras são autêntico trabalho de carniceiro.
E mais uma observação! Nas apreensões começou a ser hábito dizer “foram apreendidas 47.271 doses de haxixe” em vez do anteriormente utilizado “foram aprendidos 325 quilos de haxixe”. Como é que se chega a esse valor? Eu vejo dois caminhos: o estatístico e o científico. No estatístico, a polícia fará questionários anuais a consumidores de referência, pesando mesmo a pedrita do charro que eles enrolam, chegando a um valor médio que dividido pelos quilos das apreensões dará as doses. Já no método científico, será testada em voluntários em laboratório sobre condições controladas, a dose necessária para uma moca aceitável que é encontrada por análises sanguíneas, testes cognitivos e opiniões individuais. Qualquer dos caminhos para mim é falacioso. Poder-se-ia falar do teor de substância activa que seria o mais rigoroso. Porque se é para não ser rigoroso, mais vale dizerem o peso, pouparem em investigações caras pagas pelos contribuintes, e deixarem os rapazes enrolá-los à vontade sem preocupações de doses e meias doses. Até porque o pessoal fuma-os em rodas amigáveis, o que pressupõe outra pergunta. As doses têm em conta o facto de um charro ser fumado por várias pessoas? Então deviam dizer “uma dose dá para cinco pessoas, mas esticadinho chega às seis e fica tudo a rir”. E aí também já se conseguia a distinção dos fornecedores de uma forma mais eficaz. “As doses daquele gajo são mesmo mal servidas! E vem sem mortalhas”.
Aqui ficam interrogações que raramente são postas às forças de segurança e que importa esclarecer rapidamente a bem do rigor.
Agora fica a pergunta... Quem faz este trabalho de pura decoração? Terão as forças policiais à disposição um(a) decorador(a) de serviço para preparar estas apresentações. Parece que estou a ver um senhor de botins de pele de crocodilo, um blazer muito avant garde e umas calças a fazer conjunto, colete à prova de bala e pistola de alarme, capacete de design, a corres pelos arbustos e blocos de bairros degradados, atrás das forças de intervenção. “Deixem passar o decorador!! Cubram-no!! Disparem mas não acertem nas armas nem nos carros! Se não estragam a apresentação toda!!” E claro que a GNR não possui nenhum, ou então contratou o homem do talho para fazer uns biscates, pois aquelas montras são autêntico trabalho de carniceiro.
E mais uma observação! Nas apreensões começou a ser hábito dizer “foram apreendidas 47.271 doses de haxixe” em vez do anteriormente utilizado “foram aprendidos 325 quilos de haxixe”. Como é que se chega a esse valor? Eu vejo dois caminhos: o estatístico e o científico. No estatístico, a polícia fará questionários anuais a consumidores de referência, pesando mesmo a pedrita do charro que eles enrolam, chegando a um valor médio que dividido pelos quilos das apreensões dará as doses. Já no método científico, será testada em voluntários em laboratório sobre condições controladas, a dose necessária para uma moca aceitável que é encontrada por análises sanguíneas, testes cognitivos e opiniões individuais. Qualquer dos caminhos para mim é falacioso. Poder-se-ia falar do teor de substância activa que seria o mais rigoroso. Porque se é para não ser rigoroso, mais vale dizerem o peso, pouparem em investigações caras pagas pelos contribuintes, e deixarem os rapazes enrolá-los à vontade sem preocupações de doses e meias doses. Até porque o pessoal fuma-os em rodas amigáveis, o que pressupõe outra pergunta. As doses têm em conta o facto de um charro ser fumado por várias pessoas? Então deviam dizer “uma dose dá para cinco pessoas, mas esticadinho chega às seis e fica tudo a rir”. E aí também já se conseguia a distinção dos fornecedores de uma forma mais eficaz. “As doses daquele gajo são mesmo mal servidas! E vem sem mortalhas”.
Aqui ficam interrogações que raramente são postas às forças de segurança e que importa esclarecer rapidamente a bem do rigor.