Blue Velvet

quinta-feira, setembro 23, 2004

Avô/Avó

Urge falar, o mais rapidamente possível, sobre a forma como se escreve, em português, as palavras AVÔ e AVÓ. Não sei se alguma vez pensaram neste assunto, mas no meu entender, este caso requer a máxima atenção. Quantas noites, estava eu a dar os primeiros passos na iniciação da escrita portuguesa, fiquei sem sono só de pensar em tão grande berbicacho.
Está mais que provado por A+B (pelo menos na minha cabeça) que o nome dado a um ser humano influenciará a sua vida para todo o sempre. Podem pensar que é paranóia minha, mas para não dizerem que sou apenas um teórico da NOMELOGIA vou dar alguns exemplos práticos. O nome Sandra diz-vos alguma coisa? Mulheres com um apetite devorador que não gostam de comer comida aquecida. Quanto muito podem repetir o prato passado uma semana, mas entretanto já tiveram que comer outros produtos bem diferentes. E o nome Tatiana? Conhecem alguma mulher chamada Tatiana que seja feia? E já agora Vanessa? Nas orelhas, umas argolas roubadas nos jogos olímpicos no final da respectiva competição, devido ao facto de não ter encontrado numa ourivesaria normal um par com um tamanho (na sua opinião) aceitável. Grande parte do ouro armazenado no Fort Knox posto ao pescoço e braços, deixando como é obvio, um bocado para derreter e pôr como talha dourada nos sapatos e em algumas peças de roupa.
Só que chega-se a uma determinada idade, o nome desaparece e passamos a ser o velhinho ou a velhinha, ou então no caso de termos netos, o avô ou a avó. E aqui chegamos ao busílis da questão: QUEM É QUE TEM PILA???
È que se olharmos para a palavra avô, esta tem um acento circunflexo que é uma das pontuações mais abichanadas que existem. Uma coisa flácida, quase a partir que está a cobrir a letra O. Podem-me dizer que se o acento circunflexo está a cobrir é uma pontuação bastante macha, mas se olharmos para a palavra avó e o seu acento viril, sempre em pé, o avô fica sempre a perder.
Não é a toa que nesta altura, devido à mudança da conjectura, a avó é que usa as calças em casa. E é mais que justo porque se começou a usar pila porque razão não há-de começar a dar as ordens em casa, e libertar-se das amarras de toda uma vida a imaginar o que seria mandar.
Sendo assim, é imperioso a comunidade das letras não deixar este debate órfão de filho e filha, assinar um pacto de regime e fazer alguma coisa que inverta esta situação preocupante, que se arrasta à já alguns séculos. Lembrem-se que mais importante que a língua é a dignidade humana. E não há nada mais triste que vermos os reis da selva, para além das muitas maleitas coleccionadas ao longo de uma vida como a impotência (ainda têm que passar a vergonha de ir à farmácia), próstata, pulmões, cérebro, ainda passam a fazer um papel que eles nunca quiseram, mulher. Não é à toa que a esperança de vida das mulheres é superior à dos homens. Imaginem a tristeza que um avô não deve sentir. E só este sentimento chama todas as doenças possíveis e imaginárias para um acampamento lá no burgo.Reformule-se a língua ou então adoptemos outra que não tenha estas paneleirices.