Blue Velvet

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

O Senhor Nonsense

Não gostaria de voltar ao tema tão cedo, mas acabei por ser obrigado e, para mostrar que a tolerância e a liberdade de expressão ainda é um assunto que não é consensual na sua extensão e nem mesmo na sua essência, dou aqui mais um exemplo actual. Vinha este domingo no Público que o CDS, pela pessoa do seu errante líder, queria que Portugal considerasse o embaixador do Irão “persona non grata” devido ás suas declarações na sequência da verborreia alucinada do nosso Ministro dos Negócios Estrangeiros em que, entre outras coisas, questionava o Holocausto.

Corrijam-me, se estiver enganado, mas não estamos numa mesma situação de liberdade de expressão? Há a diferença de ele ser um representante oficial de um país, mas como Portugal não cortou relações com o Irão por causa das suas posições oficiais, seria ridículo fazê-lo agora. Mas, não terá ele o direito de manifestar a sua posição, ainda que aos nossos olhos nos pareça absurda, ou até ofensiva? Temos o direito de resposta, mas teremos agora o direito de o expulsar, sendo Portugal um país da EU que respeita e fomenta a liberdade de expressão? Se quisermos tomar uma acção política, tudo bem, é legítimo. Mas se estivermos a falar do cidadão, não terá ele o direito de o dizer? Não é isso tão óbvio, especialmente agora? Não seria a hipocrisia maior fazer o que o lírico Dr. Ribeiro e Castro propõe que se faça?

O que vale é que isto foi dito por este senhor obscuro que considerou que o fundamentalismo islâmico tinha origens no extremismo de esquerda, o que lhe retira qualquer credibilidade à partida. Mas começo a gostar das suas intervenções. São coerentes no seu non sense, com um aguçado sentido de ironia política e sarcasmo ideológico. Um verdadeiro John Cleese da política. Ficamos à espera de outras declarações deste ex-candidato a Presidente do Benfica que viria a ser derrotado pelo inigualável Vale e Azevedo.