Ser do Porto
Ontem, num acordar de Domingo sempre difícil, ouvi de esguelha um programa qualquer que tentava chamar a atenção de uma sala desatenta, e acabei por ouvir uma frase que registei. Falava-se do Carlos do Carmo e do seu concerto na Casa da Música acompanhado a preceito por uma orquestra. A começar pela percepção musical, posso dizer que o fado acompanhado pela erudição das cordas nobres de uma orquestra soa bem e recomenda-se, e vem esta opinião de quem não é um grande fã de fado. Mas falava o Carlos do Carmo sobre a experiência de vir tocar ao Porto e à Casa da Música, e da expectativa que o concerto lhe causava, quando solta para o ar algo que um amigo lhe dissera:
“No Porto é assim: ou gostam ou não gostam. Se não gostam, escusas de cá voltar. Se gostam cuida-te, porque exigem!”
Acho que está aqui uma boa maneira de descrever a frontalidade das pessoas do Porto, aquela que muitos que a desconhecem ou não a compreendem gostam de, com muita facilidade, classificar de rudeza e má criação. Lembro-me de um amigo meu dos Açores, que adoptou o Porto como sua casa há já alguns anos, e que não se cansa de elogiar a nossa personalidade e a nossa forma de ser. E apesar de, ou talvez devido a, estar em Coimbra há uns tempos, e de deambular por outras paragens frequentemente, cada vez mais se sente com orgulho como um Portuense adoptado. Tal como eu, quanto mais viajo, emigro, vivo, sinto, quanto mais vejo, mais me orgulho da nossa cidade sincera e genuína e da nossa gente, que tão depressa é capaz de nos reprovar com um palavrão e uma chapada, como também é capaz de nos abraçar com o calor de um amigo e de não mais nos largar.