Uma Espécie Complexa - Comportamentos
A sociedade portuguesa produz personagens emblemáticas, dignas de registo em estudos complexos do comportamento social do indivíduo e da sociedade. Todos vocês conhecem estas espécies, já as viram algumas, ou muitas vezes, e percebem que há ali comportamentos desviantes e intrigantes.
A praia é um habitat natural do Homo domyngueyrus, esta espécie transfigurada de comportamentos e trejeitos irritantes. Esta personagem insiste em ir para a praia de calças de ganga, apesar de repetidamente perceber de diversas formas que essa não é a melhor indumentária para o efeito. Isto leva-nos a pensar que esta espécie tem uma capacidade de aprendizagem reduzida, pois apesar de frequentemente assar as pernas na ganga suada e ver toda a gente em volta de calções, continua a fazê-lo indefinidamente. De calça arregaçada pela canela, o domingueiro senta-se na areia a ler A Bola enquanto o sol aquece a ganga das malditas calças. De realçar que às calças de ganga se associa um tronco nu esquálido abrilhantado pela antiga “volta” da comunhão, e uns antebraços escuros a condizer com o couro do cinto. Outra posição típica do domingueiro é a vertical, qual pau espetado na areia, de braços sobre a zona lombar, a receber nos tornozelos as vagas de mar trazidas pela rebentação das ondas, enquanto as crias chafurdam na água gelada e atiram seixos contra as rochas. A fêmea de domingueiro tem comportamentos diferentes, optando pelo recato do guarda sol, ostentando um chapéu de abas curtas da CIN ainda com bocados de tinta da pintura do quarto da criança, ou por outro lado o interior do Renault 5 no estacionamento enquanto pratica o crochet e ouve o relato na rádio.
Estranhamente, o domingueiro opta por um look mais casual noutras situações, deixando a insuspeita calça de ganga em casa. No shoping, este camaleão muda radicalmente o aspecto, envergando um fato de treino de “tactel” (nome para uma estranha fibra sintética entre o terylene e a fibra de vidro) em geral roxo de aplicações verdes, e um chinelo da Repsol ganho nas promoções de verão da dita gasolineira. É possível, variadas vezes, observar uma meia branca desportiva de riscas horizontais azuis ou vermelhas, escondida por baixo do tenebroso chanato. Aqui, o bicho apresenta os membros inferiores atrás das costas numa posição expectante, onde A Bola figura também como um adorno, desta feita na zona sovaqueira, dobrada e trilhada entre o braço e o tronco. Já a fêmea assume as despesas da caça, entrando de loja em loja, remexendo montes de roupas inocentes, em busca daquela blusa branca bordada com motivos campestres como a que viu no bazar/drogaria da sua rua há um mês atrás. Entretanto, os sogros descansam sentados a comer um gelado em frente à loja da Singer, de olhos postos no 16:9 onde passa a Sportv. Por fim as crianças que já se perderam dos progenitores, passeiam de bicicleta pelos corredores do continente, onde em vez da matrícula se pode ver um cartão rosa onde se lê “Promoção – 49.90”.
Ao fim da tarde, encontram-se com alguma dificuldade com o propósito de voltarem para casa. É aqui que o Renault 5 supra lotado se faz à estrada majestoso, rumo ao Quim das Farturas. E falemos deste elemento que é o dito R5. Esta magnífica obra de engenharia francesa não escapou ao espírito inventivo e à criatividade do Homo domyngueyrus. Umas jantes “espaciais” douradas dão brilho, diria mesmo que ofuscam, a pintura amarela choque que rompe o preto metalizado do carro. Umas almofadas rendadas (os especialistas pensam que talvez se tratem dos primeiros airbags conhecidos na história automóvel, embora duvidem da sua utilidade), estão colocadas na cobertura da mala, aconchegando Tatiana, a boneca de louça e trapos que ali repousa. Na frente, um inevitável dragão pendurado no espelho retrovisor, a dividir espaço com o CD virgem que enigmaticamente ali foi colocado. Os dois tubos de escape e os quatro faróis de nevoeiro amarelos são imagem de marca, e pensa-se que serão usados em disputas com outros machos, tanto por território, como por fêmeas da mesma espécie.
Depois de abastecidos no Quim das Farturas, seguem para o conforto da toca, onde os aguarda um verde tinto, coca cola e limonada para acompanhar o famoso frito. As últimas horas do dia são passadas a ver o resumo da jornada futebolística e a ler os panfletos publicitários de todas as lojas em que entraram durante o dia.
Há muita coisa ainda a aprender com esta espécie fascinante (ou não), por isso atentem nas suas movimentações. Há locais óptimos para a sua observação, de excelente visibilidade e climatizados, como o Norteshoping, o Gaiashoping e qualquer local que contenha a terminação “shoping”. A melhor altura para a observação é aos domingos, embora sábados também seja de considerar, a partir das 14:00h até ás 24.00h. O Homo domyngueyrus não é perigoso embora não goste de se sentir observado. Apesar de não atacar, há que ter cuidado com as manadas, pois podem derrubá-lo facilmente, assim como com os carrinhos de supermercado que causam contusões de média gravidade em calcanhares, tornozelos, canelas e joanetes. As crias tendem a ser irritantes e abusadoras, mas por vezes um indiscreto beliscão num braço pode resolver o problema.
Espero que este estudo etológico sirva para melhor compreenderem esta espécie. Se serviu acho estranho, porque eu ainda não os compreendo, e sinceramente acho difícil vir a compreender, e até acho mesmo que não quero. No entanto, a ciência é isto, tentar compreender os mistérios mais enigmáticos. Mais algum dado adicional que julgue ser relevante não se coíba de nos dar o seu contributo.
A praia é um habitat natural do Homo domyngueyrus, esta espécie transfigurada de comportamentos e trejeitos irritantes. Esta personagem insiste em ir para a praia de calças de ganga, apesar de repetidamente perceber de diversas formas que essa não é a melhor indumentária para o efeito. Isto leva-nos a pensar que esta espécie tem uma capacidade de aprendizagem reduzida, pois apesar de frequentemente assar as pernas na ganga suada e ver toda a gente em volta de calções, continua a fazê-lo indefinidamente. De calça arregaçada pela canela, o domingueiro senta-se na areia a ler A Bola enquanto o sol aquece a ganga das malditas calças. De realçar que às calças de ganga se associa um tronco nu esquálido abrilhantado pela antiga “volta” da comunhão, e uns antebraços escuros a condizer com o couro do cinto. Outra posição típica do domingueiro é a vertical, qual pau espetado na areia, de braços sobre a zona lombar, a receber nos tornozelos as vagas de mar trazidas pela rebentação das ondas, enquanto as crias chafurdam na água gelada e atiram seixos contra as rochas. A fêmea de domingueiro tem comportamentos diferentes, optando pelo recato do guarda sol, ostentando um chapéu de abas curtas da CIN ainda com bocados de tinta da pintura do quarto da criança, ou por outro lado o interior do Renault 5 no estacionamento enquanto pratica o crochet e ouve o relato na rádio.
Estranhamente, o domingueiro opta por um look mais casual noutras situações, deixando a insuspeita calça de ganga em casa. No shoping, este camaleão muda radicalmente o aspecto, envergando um fato de treino de “tactel” (nome para uma estranha fibra sintética entre o terylene e a fibra de vidro) em geral roxo de aplicações verdes, e um chinelo da Repsol ganho nas promoções de verão da dita gasolineira. É possível, variadas vezes, observar uma meia branca desportiva de riscas horizontais azuis ou vermelhas, escondida por baixo do tenebroso chanato. Aqui, o bicho apresenta os membros inferiores atrás das costas numa posição expectante, onde A Bola figura também como um adorno, desta feita na zona sovaqueira, dobrada e trilhada entre o braço e o tronco. Já a fêmea assume as despesas da caça, entrando de loja em loja, remexendo montes de roupas inocentes, em busca daquela blusa branca bordada com motivos campestres como a que viu no bazar/drogaria da sua rua há um mês atrás. Entretanto, os sogros descansam sentados a comer um gelado em frente à loja da Singer, de olhos postos no 16:9 onde passa a Sportv. Por fim as crianças que já se perderam dos progenitores, passeiam de bicicleta pelos corredores do continente, onde em vez da matrícula se pode ver um cartão rosa onde se lê “Promoção – 49.90”.
Ao fim da tarde, encontram-se com alguma dificuldade com o propósito de voltarem para casa. É aqui que o Renault 5 supra lotado se faz à estrada majestoso, rumo ao Quim das Farturas. E falemos deste elemento que é o dito R5. Esta magnífica obra de engenharia francesa não escapou ao espírito inventivo e à criatividade do Homo domyngueyrus. Umas jantes “espaciais” douradas dão brilho, diria mesmo que ofuscam, a pintura amarela choque que rompe o preto metalizado do carro. Umas almofadas rendadas (os especialistas pensam que talvez se tratem dos primeiros airbags conhecidos na história automóvel, embora duvidem da sua utilidade), estão colocadas na cobertura da mala, aconchegando Tatiana, a boneca de louça e trapos que ali repousa. Na frente, um inevitável dragão pendurado no espelho retrovisor, a dividir espaço com o CD virgem que enigmaticamente ali foi colocado. Os dois tubos de escape e os quatro faróis de nevoeiro amarelos são imagem de marca, e pensa-se que serão usados em disputas com outros machos, tanto por território, como por fêmeas da mesma espécie.
Depois de abastecidos no Quim das Farturas, seguem para o conforto da toca, onde os aguarda um verde tinto, coca cola e limonada para acompanhar o famoso frito. As últimas horas do dia são passadas a ver o resumo da jornada futebolística e a ler os panfletos publicitários de todas as lojas em que entraram durante o dia.
Há muita coisa ainda a aprender com esta espécie fascinante (ou não), por isso atentem nas suas movimentações. Há locais óptimos para a sua observação, de excelente visibilidade e climatizados, como o Norteshoping, o Gaiashoping e qualquer local que contenha a terminação “shoping”. A melhor altura para a observação é aos domingos, embora sábados também seja de considerar, a partir das 14:00h até ás 24.00h. O Homo domyngueyrus não é perigoso embora não goste de se sentir observado. Apesar de não atacar, há que ter cuidado com as manadas, pois podem derrubá-lo facilmente, assim como com os carrinhos de supermercado que causam contusões de média gravidade em calcanhares, tornozelos, canelas e joanetes. As crias tendem a ser irritantes e abusadoras, mas por vezes um indiscreto beliscão num braço pode resolver o problema.
Espero que este estudo etológico sirva para melhor compreenderem esta espécie. Se serviu acho estranho, porque eu ainda não os compreendo, e sinceramente acho difícil vir a compreender, e até acho mesmo que não quero. No entanto, a ciência é isto, tentar compreender os mistérios mais enigmáticos. Mais algum dado adicional que julgue ser relevante não se coíba de nos dar o seu contributo.