Blue Velvet

domingo, dezembro 19, 2004

10:10 ... Hora de Publicidade

Recebi, não sei por que carga d’água, uma revista dedicada aos relógios, muito chique por sinal. Chegou-me pelo correio sem aviso prévio e nem pediu licença para entrar. Chama-se “Espiral do Tempo”, tem um tratamento dedicado, um grafismo interessante, bom papel, bons colaboradores incluindo o desaparecido Miguel Esteves Cardoso, e aborda os relógios de todas as formas e feitios. Tem lá relógios do preço de um apartamento na Foz, dos mais prestigiados relojoeiros mundiais, e artigos de actividades paralelas que levam sempre pelas vias mais improváveis aos relógios. As fotografias dos entrevistados que ilustram os artigos dão sempre ênfase aos relógios. Por exemplo, aquele senhor de braços cruzados com os pulsos à mostra de relógio proeminente. Pose da maior naturalidade, quando todos sabemos que quando cruzamos os braços, enfiamos os punhos e os pulsos contíguos pelo meio do corpo, até ficarem bem entalados entre o antebraço e o tronco de forma a que nos segurem a posição sem grande esforço. Como não podia deixar de ser, a publicidade assegurada pela revista é a referente a relógios. E foi aí que notei um padrão de comportamento que nunca me tinha sido exposto de forma tão evidente, pois é raro deparar-me com tanta publicidade a relógios de uma vez só. Se repararem bem, as horas que os relógios registam nas fotos publicitárias a relógios são sempre as 10 horas e 10 minutos. É claro que encontrei uma ou duas fotos que fugiram a esse padrão, como se diz por aí, para confirmar a regra. Mas o resto está invariavelmente nas 10:10. Por vezes 10:09, para dar um ar mais desalinhado. Mas é incrível! Será que faz parte do código da ordem do relojoeiros? Será que está estudado que a estética dos ponteiros atinge a sua perfeição harmoniosa naquela posição? Será que está provado que 10:10 é a hora em que a mais pessoas olha para o relógio, e que o uso dessa hora induza um clima de familiaridade e simpatia entre o observador e o relógio? Ou será que 10:10 tem um significado subliminar, invisível aos estranhos do mundo do relógio? Qualquer que seja a razão, a verdade é que alguma coisa há de ser, pois isto não acontece por acaso. De qualquer maneira, e já que falamos de tempo, não percam muito a pensar nisto.