A Claúsula
O Japão deve ser um país fantástico de se conhecer com algum detalhe. Ir viver para o Japão por um certo período de tempo, é uma experiência que deve ter tanto de fascinante como de chocante. As diferenças culturais, linguísticas, hierárquicas, simbólicas, iconográficas, tecnológicas, e quantas mais quisermos mencionar, fazem dessa experiência tanto rica como difícil. E acontece que tenho um amigo que está neste momento a viver tal experiência. Como manda o bom senso, cedo tratou de tentar aprender algo da língua e da cultura nipónica. Mas nada o preparou para assinar um contrato de arrendamento com cláusulas próximas do absurdo. Ora, ao assinar o contrato, o jovem deparou-se com as seguintes condições: não poderá utilizar o seu apartamento de 22 metros quadrados para reuniões com a máfia; e não poderá jogar mah jong. Interessante a cláusula relacionada com a máfia. Pensei que as reuniões com a máfia seriam já por si proibidas pela lei judicial nipónica. É como eu ir assinar um contrato de arrendamento aqui em Portugal e ter uma cláusula a proibir-me de assassinar pessoas no meu apartamento. É claro, há quem assassine, mas em geral a coisa é crime e já por si providencia uma outra morada ao usuário do imóvel. Mas será necessário especificar isso no contrato de arrendamento? E se estiver a planear reunir-se com a máfia será que pode escolher um apartamento onde de facto venha no contrato que se pode reunir com a máfia? Haverá condomínios só para mafiosos, com morgue, salas de tiro, poços onde despachar corpos, bares de strip, e claro… salas de reunião de mafiosos! E depois, aprecio bastante a ironia e bom humor, assim como o optimismo do senhorio do apartamento. Contando que deverá existir uma cama, uma cadeira ou sofá, uma casa de banho, pelo menos, dentro do apartamento… como espera o senhorio que o pobre rapaz faça reuniões com quem quer que seja no seu apartamento de 22 metros quadrados? Estará a pensar na videoconferência? Depois temos o pormenor da proibição de jogar mah jong. Portanto, será como proibirem aqui um inquilino de jogar dominó. Aparentemente, o barulho das peças a tocar umas nas outras, ou no tampo de uma mesa (será que tem espaço para a mesa), é insuportável para os vizinhos. E queixamo-nos nós da qualidade de construção cá em Portugal! Se é assim, o rapaz nem pode mexer-se dentro do quarto, porque só o barulho dos pés deve ser ensurdecedor. Provavelmente viria no contrato também a obrigatoriedade do uso daquelas sabrinas pretas que os ninjas utilizam, assim como a aplicação da técnica ancestral de caminhar silenciosamente e calmamente, pé ante pé, como quem prepara um ataque letal. Parece que o estou a ver a caminhar pelo quarto, como se esperasse um ataque do Chuck Norris em qualquer canto da casa. Isto é, se couberem lá os dois.