O Carnaval já passou...
E ainda bem. Tirando a minha adolescência nunca mas nunca gostei do Carnaval. A maioria dos disfarces que usei já não se encontram alojados no meu CPU, mas ainda me lembro de ter andado disfarçado de cowboy, drácula e de pierrot. Já não sei dizer se gostava muito ou pouco, mas acho que era tudo uma questão de seguir o grupo. Quando um gajo é puto não pensa, apenas age. E se todos se mascaravam, aqui o vosso amigo seguia a banda.
O tempo foi passando e cada vez mais punha, a mim próprio, a questão: “ Que piada tem o Carnaval ?”
Seria pela necessidade de pôr uma máscara e encarnar um personagem? Não, porque para encarnar um personagem prefiro ir para o teatro amador ou fazer figuras cómicas à frente do espelho. Gostava que reparassem que cada vez é maior o número de homens que se mascaram de mulher...Como também é maior o número de homens que estão a assumir a sua homossexualidade... E não é preciso chegar ao Carnaval para se usar uma máscara. O ser humano mascara-se todos os dias.
Seria pela música, especialmente pelo samba? Sempre me considerei um pé de chumbo, tirando certas alturas em que me encontro na companhia do Deus Baco e julgo que sou o novo Fred Astaire, e mesmo assim... Se ainda fosse um rock-samba...
Seria pelas mulatas, com os seus bumbuns generosos, semi-escondidos (semi, eu é que sou um bom semi) por aquela maravilhosa invenção brasileira chamada fio dental? Estou em Portugal, não no Brasil. Estou num país onde a temperatura no Carnaval ronda os 10ºC ou menos e as mulheres não têm nem os atríbutos, nem o jeito herdado pelas brasileiras. Têm outros, mas não aqueles. Então para quê virem para a rua, desfilar, sambar (quando o jeito não é muito), com aqueles pequenos trajes, quase a dizer: “Pronto, estou em condições para morrer de frio. Anda, vem a mim espírito branco do inverno e leva-me para baixo da terra.”. Não era preferível, sendo a vontade muita, requesitar o namorado(a) ou um amigo(a) sempre pronto para as ocasiões e ir sambar para um local mais sossegado. Quiçã mais quente. De preferência com ar condicionado?
Acima de tudo falta-nos atitude. Pode-se fazer umas coisas engraçadas mas somos um país de fado, não de samba. Já viram os italianos ou os alemães, de traje brasileiro a sambar pelas ruas fora? Numa discoteca, pode ser que sim. Eles adaptaram o Carnaval aos seus costumes e não querendo imitar ninguém, criaram uma cultura específica da própria festa. Não precisam de trazer artistas brasileiros pagos a peso de ouro simplesmente para mostar o sorriso Colgate (a Pepsodent deixou de me patrocinar) e dizer:” Eu tou muito feliz de vir a Portugau. Já cá tinha estado uma vez e amei. Quê posso dizer. É o povo irmão. Existe um carinho grande. A comida é muito boa. Amei, amei e amei.” E ao mesmo tempo pensar: “Foda-se, cara. Ondi mi vim metê. Estes portugas são doidos. Tá um frio de rachá. Aí que sou tão burro. Tava tão bem no Brasiu....Mas a grana dá cá um jeitaço...”
Prefiro juntar-me com amigos que, como eu não apreciam o Carnaval. Sim, nós existimos e exigimos o direito à diferença e ao reconhecimento. Exigimos o direito de não alugar fatos nem comprar máscaras. Gostavamos de passar pelo meio dos foliões sem ouvir bocas maldosas, nem levar com serpentinas e bombas de mau-cheiro. Gostavamos de frequentar bares com samba-free e onde fosse possível adoptar livremente o género de música pretendido. Gostavamos...
A associação Opus-Carnaval está a ser criada para ajudar todos a viver num mundo mais tolerante, onde o direito à diferença seja sempre possível... mas, sem Carnaval.
O tempo foi passando e cada vez mais punha, a mim próprio, a questão: “ Que piada tem o Carnaval ?”
Seria pela necessidade de pôr uma máscara e encarnar um personagem? Não, porque para encarnar um personagem prefiro ir para o teatro amador ou fazer figuras cómicas à frente do espelho. Gostava que reparassem que cada vez é maior o número de homens que se mascaram de mulher...Como também é maior o número de homens que estão a assumir a sua homossexualidade... E não é preciso chegar ao Carnaval para se usar uma máscara. O ser humano mascara-se todos os dias.
Seria pela música, especialmente pelo samba? Sempre me considerei um pé de chumbo, tirando certas alturas em que me encontro na companhia do Deus Baco e julgo que sou o novo Fred Astaire, e mesmo assim... Se ainda fosse um rock-samba...
Seria pelas mulatas, com os seus bumbuns generosos, semi-escondidos (semi, eu é que sou um bom semi) por aquela maravilhosa invenção brasileira chamada fio dental? Estou em Portugal, não no Brasil. Estou num país onde a temperatura no Carnaval ronda os 10ºC ou menos e as mulheres não têm nem os atríbutos, nem o jeito herdado pelas brasileiras. Têm outros, mas não aqueles. Então para quê virem para a rua, desfilar, sambar (quando o jeito não é muito), com aqueles pequenos trajes, quase a dizer: “Pronto, estou em condições para morrer de frio. Anda, vem a mim espírito branco do inverno e leva-me para baixo da terra.”. Não era preferível, sendo a vontade muita, requesitar o namorado(a) ou um amigo(a) sempre pronto para as ocasiões e ir sambar para um local mais sossegado. Quiçã mais quente. De preferência com ar condicionado?
Acima de tudo falta-nos atitude. Pode-se fazer umas coisas engraçadas mas somos um país de fado, não de samba. Já viram os italianos ou os alemães, de traje brasileiro a sambar pelas ruas fora? Numa discoteca, pode ser que sim. Eles adaptaram o Carnaval aos seus costumes e não querendo imitar ninguém, criaram uma cultura específica da própria festa. Não precisam de trazer artistas brasileiros pagos a peso de ouro simplesmente para mostar o sorriso Colgate (a Pepsodent deixou de me patrocinar) e dizer:” Eu tou muito feliz de vir a Portugau. Já cá tinha estado uma vez e amei. Quê posso dizer. É o povo irmão. Existe um carinho grande. A comida é muito boa. Amei, amei e amei.” E ao mesmo tempo pensar: “Foda-se, cara. Ondi mi vim metê. Estes portugas são doidos. Tá um frio de rachá. Aí que sou tão burro. Tava tão bem no Brasiu....Mas a grana dá cá um jeitaço...”
Prefiro juntar-me com amigos que, como eu não apreciam o Carnaval. Sim, nós existimos e exigimos o direito à diferença e ao reconhecimento. Exigimos o direito de não alugar fatos nem comprar máscaras. Gostavamos de passar pelo meio dos foliões sem ouvir bocas maldosas, nem levar com serpentinas e bombas de mau-cheiro. Gostavamos de frequentar bares com samba-free e onde fosse possível adoptar livremente o género de música pretendido. Gostavamos...
A associação Opus-Carnaval está a ser criada para ajudar todos a viver num mundo mais tolerante, onde o direito à diferença seja sempre possível... mas, sem Carnaval.