Acção - Reflexão
Nos Estados Unidos, liga-se a televisão e há sempre alguém a dizer ás pessoas o que elas devem pensar. Há sempre uns gurus a guiar, a dirigir, a garantir, a explicar… Mas o papel do cinema também é confrontar o público com esta questão tão simples e tão difícil: o que é que tu pensas?”
“Nos Estados Unidos, fazer um filme que não aborde a questão do médio oriente de forma simplista é difícil. Existe pressão para tratar o assunto de forma redutora, em tons de preto e branco, e essa é uma pressão que os jornalistas também sofrem. Não é por acaso que muitas vezes, em entrevistas sobre «Jarhead», me perguntavam porque é que o filme não tomava partido nem posição. «O que é que se deve pensar?», queriam saber. Mas eu não quero levar as audiências a pensar uma coisa concreta. O que eu quis com este filme de guerra existencial foi que as pessoas pensassem por elas próprias.”
“Mas claro que há uma intenção de lembrar ás pessoas que hoje, como há trinta anos, o medo do inimigo não nos pode fazer esquecer os limites.”
“A forma como o público consome informação hoje é diferente da de há 30 anos. Há três décadas havia 3 canais de televisão que ás 6 da tarde apresentavam as mesmas notícias. Agora há vários canais com notícias 24 horas por dia, e cada um tem as suas. Antes da guerra do Iraque, alguns canais garantiam a ligação de Saddam Hussein com Osama Bin Laden, outros diziam que a Al Qaeda nada tinha a haver com o Iraque. E não estavam a inventar nada, estavam a citar as suas fontes, a seguir as suas orientações editoriais ou empresariais. As pessoas vêem os canais que melhor correspondem ás suas convicções pessoais”
“Vamos pelo menos reconhecer que devia haver um debate aberto e não aceitar que nos digam que é pouco patriótico fazer perguntas.”
Eu sabia que íamos ser metralhados pela direita. Fiquei surpreendido pela metralha, mais pequena mas não menos dolorosa que veio da esquerda. Fez-me ficar um pouco mais consciente do dogma e da posição reaccionária que as pessoas assumem sempre que se discute o Médio Oriente”
As pessoas ou adoraram o Crash ou odiaram-no. Uma das primeiras críticas dizia «Paul Haggis acha que nada mudou nas relações raciais em Los Angeles desde Rodney King». E eu pensei: «Bem, podem ter piorado um pouco.»
Paul Haggis – Realizador de Crash in Única 11/02/2006