Uma Questão de Coerência
Ontem, na revista de economia do Público, a Dia D, vinha um artigo sobre a Meca Cola, a Cola que não é Coca nem americana, mas antes de um espertalhão e oportuníssimo árabe, que algum tempo depois do 11 de Setembro e de a contestação aos EUA no médio oriente subir a níveis históricos, resolveu lançar esta Cola islâmica.
Já nem falo do absurdo que é, formalmente, rejeitarem o símbolo do capitalismo americano que é a Cola, mas correrem a produzir uma idêntica, e note-se que mesmo a apresentação gráfica é muito semelhante à Coca-Cola. No fundo mostram que apreciam alguns dos conceitos culturais ocidentais, mas o ressentimento e a auto penitência deve impedi-los de beber um trago de Coca-Cola sem se engasgarem com as borbulhinhas do refrigerante. Ou não! Não aparecesse o sucedâneo sagrado e não faltariam provavelmente muçulmanos a bebê-la. Isto faz-me lembrar os vegetarianos, que assumem uma posição válida e com que até simpatizo, mas que depois aparecem com produtos como a salsicha vegetariana, o chouriço vegetariano, ou a francesinha vegetariana. Quando se toma uma posição, assume-se de peito aberto. Agora andar a comer cachorros e francesinhas vegetarianas é expor-se ao ridículo. Em mais uma analogia, lembra-me os tóxico-dependentes que deixam a heroína para se enterrarem na metadona, com as devidas e merecidas diferenças.
Mas agora, o que me saltou à vista, em mais uma incoerência em que correm o risco de cair os que tomam posições extremas, é o uso para fins comerciais da palavra Meca, a terra sagrada dos muçulmanos. Confesso ignorância quanto ao conteúdo do Corão, mas não será esse uso uma blasfémia equiparável ao uso da figuração do profeta Maomé em cartoons satíricos? Parece-me lógico que o seja. Pelo menos, se eu fosse muçulmano devoto ficaria irritado, como ficaria com os cartoons, e como fiquei como português por a PT ter usado o hino nacional num spot publicitário. Mas ok. Eles são muçulmanos que se entendam.