A Queda Dos Senhores Da Música
Quem já recebeu a intimidante carta a exigir uma indemnização pela violação dos direitos de autor pelo download ilegal de ficheiros de música? Agora lembraram-se desta! Não é um procedimento original, já que pelos EUA e outros países já foram processadas algumas pessoas. Mas será este realmente o cerne da questão para a indústria discográfica?
Fala-se de violação do direito de autor, mas na realidade não é o autor que perde. É a editora, e por arrasto os retalhistas. O autor ganha por cd não mais que 8% ou 10%. Alguns grandes nomes da música serão capazes de exigir mais umas migalhas ás editoras, mas regra geral não passa disso. E até vou mais longe. O autor é altamente beneficiado por esta circulação livre de música. Hoje é possível um pequeno autor disponibilizar a sua música na internet e chegar a um universo imenso de ouvintes. Para o autor o que realmente interessa é ser conhecido, pois os cds proporcionam-lhe um ganho simbólico. Onde um músico ganha realmente dinheiro é nos concertos. Bandas como os Arcade Fire ou Danger Mouse foram conhecidos pela internet, a edição de um cd foi um passo posterior. O que se passa aqui é que a industria discográfica não está disposta a abdicar de um cêntimo das suas margens de lucro, e então continua a subir preços e a tentar proteger os cds em tentativas falhadas e deprimentes de tornar um cd inviolável. Ridículo!
A industria discográfica ainda se vai safando porque há melómanos puristas como eu, que gostam de ter a peça para além da música, que acham que o objecto é conteúdo e forma, que gostam de pegar no livrinho e ler as letras ou ver as fotografias, e que gostam de ver as prateleiras a encherem-se de lombadas de plástico coloridas que eu conheço de cor. E vão-se safando também porque há ainda algumas gerações que são analfabetas em termos informáticos, e que são incapazes de fazer um único download. Mas mesmo eu não estou limpo nesta treta. Ninguém é de ferro e o meu amor pela música suplanta tudo.
Apesar de a indústria discográfica continuar na sua posição autista de não mudar, não deixa de haver gente inteligente neste mundo. Passo a dar um exemplo: Steve Jobbs e a Apple. O iTunes da Apple de Jobbs aumenta brutalmente a facturação todos os anos, apoiado no sensacional iPod e numa estratégia bem pensada e inteligente. No iTunes cada música custa 99 cêntimos de dólar, o que dá uns 80 cêntimos de euro. Por este preço, um álbum de 10 músicas fica por 8 euros. Podia ser melhor, mas é menos de metade do que custa um cd numa loja aqui em Portugal. Tem a vantagem de podermos ouvir excertos de todas as músicas, procurar outros trabalhos do artista, procurar o tempo que quisermos e quando quisermos. Enfim, é um serviço mais personalizado porque é gerido por nós. Não é definitivamente a minha forma de comprar música. Gosto do contacto físico, de ir à loja, pegar ao acaso num punhado de cds por razões diversas, e encontrar pérolas perdidas nas prateleiras à espera de serem resgatadas do abandono. Como o iTunes temos o Napster e outros menos conhecidos. Mas este tipo de negócio prospera e continuará a crescer, enquanto os senhores das editoras continuam com o seu ar ofendido a processar putos, a subir os preços e a ficarem cada vez mais isolados. Por outro lado, se baixassem consideravelmente os preços, apostassem na multidisciplinaridade dos formatos, e estendessem a mão ao consumidor, certamente veriam os seus lucros crescer. Eu compro um cd e gasto 17 ou 19 euros. Se eles custassem 8 eu provavelmente até compraria 3 e acabava por gastar 24 euros.