O Escaped One
Num país onde a matemática não é o forte, torna-se complicado para muito boa gente entreter-se a fazer o Sodoku ou outro jogo onde se impõe a lógica. Por isso, o que faz para surprir esta carência? Analisasse poesia e poetas.
- A minha análise ao poema não é a mais correcta ?
- Desculpe, o amigo é que se está a esqueçer dos pormenores históricos posteriores ao lançamento. E as hemorroidas que pertubaram o autor durante a escrita, não são importantes?
Muito vezes um “escuro como a noite” pode ser mesmo o autor a querer dizer que a côr tinha tonalidade escura, e não uma forma de parecer misterioso, ou criticar quem está no poder. Algumas vezes, devido a erros de imprensa, um determinado poema ganha uma interpretação que não era a pretendida pelo autor. Olhando para o exemplo abaixo:
- A minha análise ao poema não é a mais correcta ?
- Desculpe, o amigo é que se está a esqueçer dos pormenores históricos posteriores ao lançamento. E as hemorroidas que pertubaram o autor durante a escrita, não são importantes?
Muito vezes um “escuro como a noite” pode ser mesmo o autor a querer dizer que a côr tinha tonalidade escura, e não uma forma de parecer misterioso, ou criticar quem está no poder. Algumas vezes, devido a erros de imprensa, um determinado poema ganha uma interpretação que não era a pretendida pelo autor. Olhando para o exemplo abaixo:
I am the escaped one,
After I was born
They locked me up inside me
But I left.
My soul seeks me,
Through hills and valley,
I hope my soul
Never finds me.
Fernando Pessoa
Este exemplo mostra muito bem a importância de dois aspectos na edição de um livro:a gráfica onde o livro vai ser impresso, e os revisores(???) que fazem a revisão final. Em conversa, ontem com um seu familiar afastado, ele disse-me que o seu tio tinha originalmente escrito “special one” em vez de “escaped one”. Quem lê fica com pena do homem. Olha o coitado a fugir dele próprio. Já sabia que cada um tem a alma que merece, não imaginava é que o Pessoa tinha uma alma assim tão cabra ao ponto de o perseguir por montes e vales. Não podia fazer quixa na polícia? Mas lá está, como o poema está escrito, ele passa por maricas, por até da própria alma fugir, quando o que queria dizer não era isso. O seu objectivo era apenas dizer que na poesia da época não via ninguém comparável a ele, não fosse apenas pela qualidade dos seus poemas mas também por ter uma alma que o persegue para todo o lado, tipo pastor alemão que compreende três linguas. E assim o erro perdurou, dando-me, até ontem quando soube da verdade, uma visão de um Pessoa frágil, com medo de tudo e de todos. O que era errado. O Campos parece que na realidade era um verdadeiro Cabra-macho. A obra não foi toda re-impressa apenas porque o editor o conveceu pagando-lhe uns carapaus com arroz de feijão e um tinto da casa no tasco da Mariquinhas. O Pessoa era um Special One bacano, não se estava para chatear com auto-promoções. Se falhou esta, não falharia a do próximo livro.