quarta-feira, abril 19, 2006
terça-feira, abril 18, 2006
Uma viagem sempre pop
Imaginem que davam a alguém, como prenda de aniversário, uma constelação, além de um meio de transporte para lá chegar. Como se pode constatar rapidamente, tem-se aqui viagem para pelo menos 74 minutos. Existindo uma viagem acima dos 74 minutos é obrigatório o aparecimento de uma compilação sonora para acompanhar a viagem, mais não seja para evitar comportamentos depressivos e desviantes. Se tivessem a oportunidade de ser os engenheiros de tão importante cd que musicas gravariam? E que nome lhe davam? Era engraçado, associado à compilação e às músicas que a compoem a existência de um conceito subjacente (ex. A saida de casa – troposfera – estratosfera – mesosfera – termosfera - viagem no espaço - home sweet home).
O último minuto
- Então rapaz? Isso está mau, a bala trespassou-te o estômago.
- Ai... Ai.... Ai....
- Queres um rebuçado?
- Ai... Ai... Ai...
- Aproveita meu. É que a não ser que aconteça um milagre, vais morrer não tarda nada. Nem vais chegar a ver a ambulância.
- Ai... És cá um amigo do caralho... Ai... Ai...
- Oh pá, os amigos são para dizer as verdades.
- Ai... Ai... Podes dizer à minha girl que a amarei na eternidade.
- Pois. Estou a ver que sim. Mas também só na eternidade, porque no fim da missa do sétimo dia a fila de gajos a oferecerem-se para a amar até antes da eternidade vai ser longa.
- Ai... Não me digas que também tu me vais espetar a faca? Ai...
- Achas. Nos próximos cinco minutos a tua namorada para mim é homem. Depois...
- Ai... Foda-se... Isso diz-se?
- Queres que te diga o quê? ” Está bem. Ela vestirá o luto e não vai olhar para mais nenhum homem.”. Se não for eu é outro qualquer. Preferes alguem que saibas que a vai tratar bem ou um gajo que tu nem sequer conheces? E depois quem diz a verdade não merece castigo.
- Ai... Ai... Diz à minha familia que os amo muito também... Ai...
- Tou a ver que comeste arroz de frango
- Ai... Por acaso não... Ai... Foi frango de churrasco e arroz de tomate... Ai...
- Ok. E não queres um rebuçado? São de laranja. Dos que gostas.
- Ai... Cala-te com a porra do rebuçado. Estou aqui com a merda do estômago aberto. Para que queres que coma o rebuçado? Ai... Ai... Ai... Ai.... Para o veres a jorrar como o frango e o arroz?
- Por acaso era boa ideia, mas não sou assim tão mórbido. Estás com um hálito de merda e o rebuçado ajudava a disfarçar.
- Ai... Ai... Estou-me a sentir ir... Ai...
- Um último desejo?
- Ai... Um estômago novo? Ai...
- AhAhAh... Estão esgotados no Continente. Ihihih. Mesmo a morrer não perdes o sentido de humor. Mais nada sem ser um estômago novo?
- Ai... Olha... Ai... Podias me tirar uma dúvida... O que são purpurinas? Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii...
- Purpurinas são... Olha morreu...
quinta-feira, abril 13, 2006
quarta-feira, abril 12, 2006
Feliz dia dos namorados
My name is Cupid Valentino, the modern day Cupid
And I just want to say one thing
Happy Valentine's Day
Every day the 14th!
I don't think y'all heard me!
I just wanna say Happy Valentine's Day!
Every day the 14th!
Can y'all dig that?
Now when arrows don't penetrate, see
Cupid grabs the pistol (Uh, yeah, now, now lookie here!)
And he shoots straight for your heart
And when he won't miss you!
That's alright 'cause y'all won't believe in me anyways
But..
Ya won't believe in me, but you would fancy
leprechauns or groundhogs
No thank you, Easter Bunny!
(There's all this talk about Santa Claus, but see
love will rule reign supreme)
Happy Valentine's Day
Every day the 14th! (You got it!)
When Cupid knocks at your door
You can't ignore me!
There's no need to run!
So, Happy Valentine's Day (Hey!)
Every day the 14th!
I may have it all wrong, see
If you know what loves mean, well
Well, somebody tell me!
'Cuz they just don't believe in me!
Ya' won't believe in me, but you would fancy
leprechauns or groundhogs
No thank you, Easter Bunny!
(There's so much fuss about Santa Claus, but see
Cupid will not be defeated!)
Happy Valentine's Day
Every day the 14th!
Now I know your hearts have grown cold
And that bothers me
Now I understand 'cause I use to be a bad boy in my day
I know you're trying to protect your lil' feelings
but you can't run away
Oooh ooh!
Ya' won't believe in me, but you would fancy..
(Hey! Don't you supposed to be some kind of player or something?)
Bunny!
Well keep on runnin', player
'Cause I got my good shoes on
And I got 'em tied up tight
So, you're going to find out tonightttttttttt!
Got a sweet lil' darling back in my corner
Below I know I love her, but act like I don't want her
Surrounded by the lonely, but yet feel like a loner
Could be an organ donor
The way I give up my heart, but
Never know because - shit, I never tell her!
Ask me about my feelings I'd holla' that it's irrela'
I don't get myself caught up in the Jello gella'
And puddin' pops, that others opt to call falling in love, but
For the record, have you ever rode a horse?
Would I like for you to take me to Pluto?
I said, "Of course!"
But if you ain't a sweety indeedy, I won't endorse
Hans Solo till I'm hit by the bullet, so may the force
Be with you, and I'll hit you when better time permits
For now, give me examples of why you're the shit!
But how am I to know with the profession that I'm in?
And if you do not know me, then how could you be my friend?
Happy Valentine's, Happy Valentine's
Happy Valentine's Day, Happy Valentine's Day
Outkast - "Speakerboxxx/The Love Below"
Ao menos tirem-lhe os pregos
sexta-feira, abril 07, 2006
J.
Falência De Um Modelo
Como podemos ver os modelos sociais de muitos dos países europeus está a falir. Salvam-se os países nórdicos como a Dinamarca, que há uns 10 anos se deparou com uma elevada taxa de desemprego e reformou eficazmente o seu sistema social e económico, e a Inglaterra. O resto vai penando, uns mais e outros menos, para conseguir equilibrar contentamentos e conseguir manter a economia a funcionar.
A França, coitadita, está de rastos. Nem a lei polémica é muito feliz, nem os estudantes e sindicatos mostram bom senso. É interessante a entrevista do Público de hoje (6 de Abril) sobre o assunto a Jacques Marseille, o director do Instituto de História Económica e Social de Paris, na medida em que analisa friamente a situação, e é até possível traçar alguns paralelismos com Portugal ou tirar de lá algumas ilações.
O modelo social e económico europeu típico é ultra protector do trabalho, dos direitos adquiridos, protege uma agricultura ineficaz e obsoleta, protege os funcionários públicos, tem um estado super interventivo na economia, enfim, tal qual o modelo português. Isto só torna a economia pouco flexível, pesada, pouco atractiva, dependente do estado e, ironia das ironias, apesar de ser considerado um modelo mais justo socialmente, cria mais injustiças, pois ao proteger uns há sempre outros que são prejudicados. É o que se passa em França. Tanto se protegeu o estatuto do trabalhador que agora os jovens estão barrados por pessoas mais velhas com lugares cativos. Vou citar um pequeno momento da entrevista de Jacques Marseille:
Jornalista: Como define o modelo francês?
JM: É adular um Estado todo-poderoso. É tornar o funcionalismo público na profissão mais apetecível. É um modelo em que a norma é ter o mesmo emprego toda a vida, e que cria um clima de suspeita em relação ao mundo empresarial. É promover a ruralidade como modo de vida supremo a salvaguardar a todo o custo. Hoje, assistimos ás convulsões de uma ruptura.
Reconhecem este modelo? Não vos faz lembrar nada? Sei lá… parece Portugal! Também aqui, no último ano, temos tido a nossa quota-parte de contestação ao governo. Tudo porque parece estar a querer mexer no corpo moribundo da função pública. É normal… o ser humano é um ser de hábitos e rotinas. Acomoda-se, engorda, fica estúpido, adormece a babar em frente ao televisor, até que o cérebro empapa e deixa de elaborar raciocínios lógicos. A mudança faz-lhe confusão. Principalmente quando parece haver a possibilidade de ter que voltar a usar o cérebro, os membros, e até se calhar levantar-se de vez em quando. É uma chatice.
Há uns tempos vi uma notícia na televisão sobre uma empresa grande que ía fechar, na zona centro se não me engano. Notificou os empregados, foram negociadas condições para os trabalhadores saírem, e foi então acordado um valor de indemnização a atribuir aos empregados. Tudo conforme a lei, transparente. Os trabalhadores foram chamados para assinar o acordo e dois tipos do sindicato estavam à porta da empresa a chatear as pessoas para não assinarem. Impressionante! O que queriam eles? Que a empresa optasse por abrir falência sem pagar a ninguém? E que depois fosse tudo para tribunal e ninguém visse cheta por meia dúzia de anos? A empresa tratou de tudo correctamente, exemplarmente! Mas afinal de onde vêm estes tipos dos sindicatos? Alguém me explica? Deve ser a segunda divisão do PCP. Alguém devia explicar a estes senhores que as empresas ás vezes fecham. Faz parte de ciclos económicos ou de políticas de empresa, e os trabalhadores devem estar preparados para isso. O trabalhador também pode sair quando quiser, sob determinadas condições que não são muito rígidas. E quem protege as empresas, se por exemplo um excelente profissional que aprendeu tudo na empresa deseja sair para uma empresa concorrente? Quem a indemniza? E o dinheiro que foi investido no trabalhador para que este se tornasse um especialista? São as duas faces de um problema.
Segundo o Público, em Portugal, um quinto daqueles a quem o estado pagou doutoramentos, pós doutoramentos, ou outros cursos, foi trabalhar para fora do país em busca de trabalho e do justo reconhecimento das suas competências. Eu conheço muitos. E conheço muitos que estão na iminência de ir. Agora está na moda a expressão “geração mil euros”, um título nascido em Itália para descrever os jovens até aos trinta anos que não conseguem arranjar emprego, ou se arranjam são sempre sob valorizados. Vivem num marasmo desmotivante, num beco. É claro que quando se fala da “geração mil euros” em Itália, se está a falar da “geração 600 euros” em Portugal. Dou o meu exemplo: cheguei há quase 4 meses dos EUA de uma boa experiência de trabalho, tenho uma experiência diversificada, embora não muito extensa, já trabalhei em dois países estrangeiros, investi em formação pós universitária. O que faço agora? Coço o esquerdo e o direito, alternadamente, para não entrar na rotina. Já enviei diversos CVs e nunca fui chamado sequer para uma entrevista, em alguns casos para trabalhos em que o meu perfil encaixava bastante bem. Perspectivas? Vou-me embora daqui outra vez. Eu mantenho os meus objectivos. Tenho pena é que eu tenha objectivos mais ambiciosos do que a maior parte das empresas, e porque não dizê-lo, da maior parte dos portugueses. Continuo a achar que aqui é mal visto querer fazer algo diferente, inovar, ter objectivos, lutar pelas coisas. Ás vezes penso que o facto de ter estado a trabalhar lá fora me prejudica, incrivelmente. Imagino um tacanho director de uma empresa a olhar para o meu CV e a dizer: “Este tipo veio dos EUA agora? Ele vem para cá armado em engenheiro, nós vamos oferecer-lhe um emprego e 500 ou 600 euros e ele vai mandar-nos foder”. Será? Claro que sim! Mandava-os logo dar uma curva! Eu podia neste momento estar a trabalhar na empresa medíocre em que trabalhava antes de ir para os EUA. A ser explorado, mas o pior ainda, a trabalhar com gente curta de vistas, ignorante, sem o mínimo saber estar na vida, mesquinha e intriguista. Mas no momento certo decidi arriscar e fui para fora sem nenhuma garantia a médio prazo. Agora estou aqui. Valeu a pena? Fazia tudo outra vez sem pensar.
Permitam-me que cite mais uma vez o Público, agora no editorial do José Manuel Fernandes:
“Temos pois uma juventude enfiada num beco sem saída ou cuja a única saída é ir para o estrangeiro. É o que já faz um quinto daqueles em que o Estado português investiu fortunas para que estudassem, se licenciassem e se doutorassem. Ou é o que fazem cada vez mais jovens franceses que atravessam a Mancha à procura de empregos no Reino Unido, de acordo com uma reportagem do Liberation.
Ora isto sucede porque protegemos de mais os que estão empregados e desprotegemos em absoluto os que aspiram ao primeiro emprego. A protecção social resulta na maior injustiça social. E, em nome da rigidez do Estado social, os melhores de entre os jovens fogem para o mundo anglo-saxónico, onde impera o tal horroroso neoliberalismo. Deve ser por masoquismo…”
Pois deixem-me que vos fale do neoliberalismo. Nos EUA, o que eu conheço, ninguém tem medo de ser despedido, apesar de ser muito mais fácil lá uma empresa despedir do que por aqui. A empresa onde eu estava passou momentos difíceis em termos financeiros devido ao falhanço comercial de alguns produtos, e tratando-se de uma empresa assente na inovação e I&D a balança dos gastos pesou significativamente. Acham que houve protestos? Greves? Sindicatos à porta? Nada! Absolutamente nada! Os meus colegas e as pessoas com que falava da empresa brincavam com a situação. Riam e continuavam a trabalhar, sem grandes preocupações. Muitos estavam já a tratar do assunto, como o meu chefe que já lá não trabalha, tendo ido para uma empresa maior e ganhar mais. Os outros estavam despreocupados porque sabiam que se fossem despedidos em pouco tempo teriam um novo emprego.
No departamento onde estive durante menos de um ano vi entrar e sair pessoas sem grande turbulência. Foi despedido o Steve que lá trabalhava há 4 anos e era dos mais experientes, e em 2 semanas estava já a trabalhar noutra empresa. Vi também quem decidisse procurar um futuro melhor, tendo arranjado empregos mais atractivos, e assim largando a empresa. Nada de ressentimentos. Tiveram jantar de despedida e tudo. Num departamento não muito grande, em cerca de 9 meses, vi circularem fora e dentro umas 7 ou 8 pessoas. Lá todos percebem melhor a dinâmica empresarial, e sabem jogar com isso. Dirão muitos que a cultura deles é diferente. E é verdade. Mas estas coisas educam-se. Nos EUA todos têm uma mentalidade competitiva. Sabem que é assim que tiram partido do sistema, e que é apenas pelo mérito e pela iniciativa que conseguem uma vida melhor. O que aqui para muitos Europeus é uma ameaça, para eles é uma oportunidade: a flexibilidade da lei do trabalho. Se é verdade que é muito mais fácil despedir nos EUA, também é verdade que obriga os trabalhadores a dar o litro e a lutarem por ser os melhores, tornando assim as empresas muito mais competitivas e dinâmicas. Por outro lado, o trabalhador sai beneficiado, pois o patrão vê-se obrigado a blindar os seus trabalhadores competitivos que são uma mais valia para a empresa com salários atractivos e com programas de benefícios extra, como seguros de saúde, planos de acções, pagamento de mais valias, prémios, etc, sob pena de estes estarem insatisfeitos e serem seduzidos por uma empresa concorrente com uma oferta mais atractiva. É que se é mais fácil despedir, também é mais fácil despedir-se. Assim, os EUA têm uma massa trabalhadora dinâmica, competitiva, flexível, aberta à mudança, ciente de que beneficia com ela, e um mercado de trabalho que está em constante movimento e equilíbrio.
As diferenças são enormes. Espero que se encontre um modelo que nos sirva, e que flexibilize o mercado de trabalho e o torne mais competitivo. Todos ganham com isso. Há muita gente de valor, jovem, com sonhos, com ambições, com competências e vivências muito úteis ao país, que estão a desesperar, a penar, a perder a motivação, a ser empurrados para fora de Portugal. E estão a ir, juntando-se à cada vez maior massa imigrante super qualificada que Portugal exporta para os grandes centros de decisão. Eles publicam artigos científicos nas revistas de referência, por laboratórios de referência, eles dirigem empresas estrangeiras, ocupam lugares de destaque em multinacionais, enfim… eles vencem e têm sucesso. Estão pelo menos ao nível dos melhores. Por que ninguém aqui lhes deu uma oportunidade justa?
quinta-feira, abril 06, 2006
GT On The Blog
quarta-feira, abril 05, 2006
As Fridas
As next big thing são como as famosas pomadas para calos. Endurecem, apodrecem e caem. Sejam assuntos jornalisticos, artisticos ou até mesmo blogoesfericos. Existe uma necessidade intensa de sacar estes sapos. Caso não exista nada de novo, desenterram-se uns velhos injustiçados e faz-se um embrulho novinho em folha para a prenda não parecer que foi comprada em loja de segunda mão . De à uns tempos para cá parece-me que uma dessas descobertas é a Frida. Como qualquer artista imagino que é uma boa artista. Qualquer pessoa que tem a coragem de demonstrar a sua arte ao público merece ser aplaudido de pé, mesmo que essa arte seja fraca. Caso a falta de qualidade seja a palavra chave o culpado é quem ajuda o artista a expôr e lhe dá força. A carga de porrada que um promotor destes deveria apanhar deve ser directamente proporcional aos incentivos que deu. Claro que no caso da Frida isto não acontece, ela é uma boa artista. Quem deveria apanhar uma carga de lenha era o marido ou então a enorme falange de amantes que teve. O problema na Frida não é o produto em si visto ela ser uma boa artista, mas sim o conteudo desse trabalho. Será que nunca ninguém lhe disse algo do tipo: “Fridinha, eu sei que tiveste uns azares na vida. Ficaste coxa devido à poliamite. Tiveste aquele azar do caralho com o ferro, mas e que tal pintares umas gajas boas de vez em quando? É que embora sejas fogo na cama essa beleza deixa um bocado a desejar. Ao menos faz o bigode de vez em quando”. Compreendo que ter uma mãe cega complica o ensinamento destes cuidados higiénicos durante a fase do pepino, a chamada meninice. Nunca lhe ter podido ensinar o que era uma gilete ou uma descoloração foi de facto uma peninha. Deu-lhe foi um espelho para pôr no quarto. Enganar assim uma adolescente devia ser pecado. Devia dar pena de morte e uma eternidade no inferno. Fazia-lhe falta uma mãe como a minha que não tem problemas em dizer-me as verdades. Ainda à menos de um mês virou-se para mim e disse-me: ”Eras tão bonito quando eras pequeno. Tão bonito. O cabelo todo loirinho. Agora estás tão...uhhhh...”. É bonito o amor de uma mãe, especialmente expresso com este arco-iris de sentimentos. Claro que no caso da Frida não se põe em causa o valor do trabalho. Ela só pode ser uma boa artista, afinal a blogoesfera é o algodão do inicio do século XXI, e se a blogoesfera lhe canta hossanas para mim é quanto baste. Agora, se a senhora ao morrer disse: “Espero alegremente a saída - e espero nunca mais voltar”, obviamente que quer ser esquecida. Por alguma coisa é. Eu imagino o que seja, mas não quero levantar falsos testumunhos. É aquela famosa cena do eu sei que ela sabe que eu imagino o que ela imaginou que vocês sabem que eu sei que ela sabe que eu sei mas sou demasiado bem educado para dizer. Compreendem? Deixem a senhora descansar em paz. Já chega de tempos a tempos termos que aguentar esta Frida ressuscitada na Islândia. Ao menos esta sabe o que é uma gilete, ou máquina de barbear. É pena não ter o mesmo talento para a pintura.
Eu...Porco...estou de luto.
Quando vi a posta de despedida do Cigano Mágico, o meu primeiro pensamento foi que ele estava bebado, devido a uma elevada mistura de tequilla e vinho do porto. Pelos vistos estava enganado. Desistiu mesmo. Estaria cansado de dar perolas a porcos? Sinceramente não sei. O que sei é que ele não pode alegar uma repentina falta de ideias, porque uma mente daquelas, totalmente drug-free, nunca se há-de eclipsar. Falta dinheiro para comprar ginseng? Que não seja por isso. Cria-se já a Associação de Compradores de Ginseng para o Cigano Mágico. Como é que um gajo de esquerda que se preocupa, acima de tudo, com o bem do povo, o deixa assim orfão da sua genialidade. A única explicação lógica para isto é o Magic ter virado benfiquista, só pode. Assim sendo, não me resta outra alternativa que fazer luto e entrar em greve de fome até ao seu retorno. Nem meia bolota que seja entrará nesta boca. Juro!!!
A Queda Dos Senhores Da Música
Quem já recebeu a intimidante carta a exigir uma indemnização pela violação dos direitos de autor pelo download ilegal de ficheiros de música? Agora lembraram-se desta! Não é um procedimento original, já que pelos EUA e outros países já foram processadas algumas pessoas. Mas será este realmente o cerne da questão para a indústria discográfica?
Fala-se de violação do direito de autor, mas na realidade não é o autor que perde. É a editora, e por arrasto os retalhistas. O autor ganha por cd não mais que 8% ou 10%. Alguns grandes nomes da música serão capazes de exigir mais umas migalhas ás editoras, mas regra geral não passa disso. E até vou mais longe. O autor é altamente beneficiado por esta circulação livre de música. Hoje é possível um pequeno autor disponibilizar a sua música na internet e chegar a um universo imenso de ouvintes. Para o autor o que realmente interessa é ser conhecido, pois os cds proporcionam-lhe um ganho simbólico. Onde um músico ganha realmente dinheiro é nos concertos. Bandas como os Arcade Fire ou Danger Mouse foram conhecidos pela internet, a edição de um cd foi um passo posterior. O que se passa aqui é que a industria discográfica não está disposta a abdicar de um cêntimo das suas margens de lucro, e então continua a subir preços e a tentar proteger os cds em tentativas falhadas e deprimentes de tornar um cd inviolável. Ridículo!
A industria discográfica ainda se vai safando porque há melómanos puristas como eu, que gostam de ter a peça para além da música, que acham que o objecto é conteúdo e forma, que gostam de pegar no livrinho e ler as letras ou ver as fotografias, e que gostam de ver as prateleiras a encherem-se de lombadas de plástico coloridas que eu conheço de cor. E vão-se safando também porque há ainda algumas gerações que são analfabetas em termos informáticos, e que são incapazes de fazer um único download. Mas mesmo eu não estou limpo nesta treta. Ninguém é de ferro e o meu amor pela música suplanta tudo.
Apesar de a indústria discográfica continuar na sua posição autista de não mudar, não deixa de haver gente inteligente neste mundo. Passo a dar um exemplo: Steve Jobbs e a Apple. O iTunes da Apple de Jobbs aumenta brutalmente a facturação todos os anos, apoiado no sensacional iPod e numa estratégia bem pensada e inteligente. No iTunes cada música custa 99 cêntimos de dólar, o que dá uns 80 cêntimos de euro. Por este preço, um álbum de 10 músicas fica por 8 euros. Podia ser melhor, mas é menos de metade do que custa um cd numa loja aqui em Portugal. Tem a vantagem de podermos ouvir excertos de todas as músicas, procurar outros trabalhos do artista, procurar o tempo que quisermos e quando quisermos. Enfim, é um serviço mais personalizado porque é gerido por nós. Não é definitivamente a minha forma de comprar música. Gosto do contacto físico, de ir à loja, pegar ao acaso num punhado de cds por razões diversas, e encontrar pérolas perdidas nas prateleiras à espera de serem resgatadas do abandono. Como o iTunes temos o Napster e outros menos conhecidos. Mas este tipo de negócio prospera e continuará a crescer, enquanto os senhores das editoras continuam com o seu ar ofendido a processar putos, a subir os preços e a ficarem cada vez mais isolados. Por outro lado, se baixassem consideravelmente os preços, apostassem na multidisciplinaridade dos formatos, e estendessem a mão ao consumidor, certamente veriam os seus lucros crescer. Eu compro um cd e gasto 17 ou 19 euros. Se eles custassem 8 eu provavelmente até compraria 3 e acabava por gastar 24 euros.
sábado, abril 01, 2006
A Propósito Das Quotas
Com esta coisa da lei da paridade surgem-me sentimentos contraditórios. Por um lado acho que a lei acaba por ser humilhante para as mulheres, pois consagra-lhes por decreto aquilo que elas como grupo ainda não conseguiram atingir. Acredito que desperte um sentimento de frustração em mulheres como Odete Santos, uma fervorosa defensora dos direitos das mulheres, ver a sua luta resolvida por um despacho legal. Mas por outro lado, deveremos ficar parados face a uma evolução que não surge? É assim tão mau querer dar a mão a milhares de mulheres que por uma razão ou outra têm sido discriminadas silenciosamente? Li em mais que um artigo de opinião, como o editorial no Público do José Manuel Fernandes, que uma lei deste tipo é uma tentativa de mudar mentalidades por imposição legal, e foi pintado um cenário maniqueísta como se o governo tentasse manipular vontades globais como as de um povo através de um dispositivo legal proteccionista de discriminação positiva. Era aliás dito no artigo que a representação feminina no parlamento evoluiu em 30 anos de 6% para os 26% actuais, e sugeria-se que se deixasse ao tempo a evolução cultural e mental de todo um povo que continuasse a elevar esses número naturalmente. Esquece-se que estes 26% são conseguidos em grande parte ás custas de um partido que impôs internamente quotas de representação feminina.
Eu penso que nem tanto ao mar nem tanto à terra. Concordo que acabará por saber a pouco um lugar ganho por discriminação positiva, e poderá até fazer pairar a ideia de que se ocupa um lugar para fazer número nas listas dos partidos. Poderá haver uma aura de dúvida sobre o mérito próprio de tal lugar. Mas por outro lado, se virmos as coisas de forma diferente, poderá também abrir portas a mulheres de mérito e valor que outrora se fechavam por desconfiança de uma sociedade latina de preconceitos machistas baseada numa estratificação patriarcal. Ou seja, o conceito poderá beliscar o orgulho de mulheres inteligentes e valorosas que preferem ganhar o seu espaço com base na luta diária por uma auto afirmação como pessoa, e em última instância como género, em vez de verem a sua escalada ser facilitada por um sistema quotas. Mas, por outro lado, esta lei pode vir a dar visibilidade a mulheres que de outra forma poderiam encontrar obstáculos para sair da sombra dos partidos altamente masculinizados, onde apenas um punhado de mulheres consegue esgravatar até uma posição de destaque. Pode até encorajar mulheres que se sentiram discriminadas no passado a voltarem a procurar um lugar onde defender as suas ideias, pois sabem que há um lugar para elas.
É muito fácil analisar esta situação de forma simplista e demagógica como tenho lido em vários textos. É muito fácil dizer que as mulheres se devem afirmar por direito próprio e que numa sociedade ideal não deve haver obstáculos claros ou obscuros a essa afirmação. Mas a verdade é que há obstáculos, antes de tudo, culturais. Também seria muito fácil dizer que numa sociedade evoluída uma pessoa deve ter assimilada a ideia que não pode matar outra, ou que não se deve conduzir embriagado, mas a verdade é que essas verdades universais e básicas são violadas constantemente. O que seria hoje do mundo de Abraham Lincoln não tivesse libertado os escravos por lei, e tivesse antes esperado que os seus exploradores fossem iluminados por uma luz humanista que os levasse, sem tumultos, a libertá-los de livre vontade? E não nos esqueçamos que ainda há muito pouco tempo no mundo considerado civilizado as mulheres não tinham direitos como o voto. Apesar da tristeza que nos deve invadir por ser preciso haver uma lei que obrigue os partidos a ter mulheres nas suas listas, não devemos ser tão duros com a existência dessa lei. Não devemos deixar que a frustração por não termos conseguido ainda chegar a um patamar que nos permita praticar a igualdade nos leve a odiar uma lei que a impõe. Por ventura, no futuro, todos nos habituaremos a ver mulheres em lugares de destaque, e o preconceito que se move discreto no seio dos portugueses se vá desvanecendo, e então as mulheres que ganharam terreno à força de uma lei serão reconhecidas por mérito próprio, tal como as incompetentes serão afastadas por uma selecção natural, não devendo haver lei que perpetue ou pactue com a mediocridade, feminina ou masculina.