Blue Velvet

quinta-feira, dezembro 30, 2004

Basta!!!

Sempre que o fim do ano se aproxima, faço um apanhado mental daquilo que foi a minha vida. Que momentos me marcaram, o que correu bem, o que não correu tão bem(para mim o copo está sempre meio cheio), o que preciso de melhorar tanto pessoalmente como profissionalmente e que objectivos pretendo alcançar no ano vindouro. E já decidi uma coisa a melhorar pessoalmente. Tenho um mundo imaginário fabuloso mas de vez em quando também é necessário sentir as emoções no mundo real. Tenho que arriscar a nível pessoal o mesmo que normalmente arrisco a nível profissional. Deixar de lado os ses, a timidez e as ideias pré-concebidas. No fim se resultar, por mais díficil que seja valerá sempre a pena, nem que o final não seja o pretendido(till death leave us apart). Caso não resulte, ao menos não carregarei esta dúvida durante toda uma vida.Esperei por esta oportunidade muito tempo, e só agora ela surgiu. Cansei-me de sonhar, agora quero ver tudo numa perspectiva TRI-DIMENSIONAL.

Ps: Alguma dia tinha que acontecer. O primeiro post sentimental do Blue Velvet.

Pena não ter ido mais cedo

A SIC Notícias deu uma reportagem onde entrevistaram portugueses que partiram depois da tragédia para a Tailândia, mantendo as férias marcadas como antes de tudo acontecer. Dulce Ferreira respondeu que já tinha as férias marcadas, que não tinha ficado nada preocupada com o que tinha acontecido, porque os pais, que lá estavam, tinham enviado uma msg a dizer que tinha havido "uns tsunamis e umas coisas", mas estavam bem. Quando a jornalista lhe pergunta se estava triste com toda a situação Dulce Ferreira respondeu "sim, claro, agora já não vou ter todas as condições de férias que iria ter se por acaso não tivesse acontecido nada disto, por outro lado, estou contente, porque vejo as coisas mais ao natural, como elas são."
Para começar gostava de dizer que, felizmente, o dinheiro não compra tudo. Pode dar para uns passeios à Conchichina mas, para já, ainda não compra inteligência e sensatez. Quanto aos pais da menina ainda se compreende. Em principio, devem ser um casal que trabalhou muito durante a vida para poderem dar à filha uma vida descansada onde nada lhe falte. Eles próprios começaram a aproveitar merecidamente os frutos do seu trabalho, por isso o que disseram é facilmente perdoável.
Quanto à Dulce... Palavras para quê ??? Desde já aviso que se não tem estômago e não aguenta malcriadezas pare aqui mesmo e espere pelo próximo post um destes dias. Até amanhã.

- Deus não foi generoso com ela, e onde devia estar um tecido esponjoso, só la pôs pedra.
- Se houvesse justiça na terra, a nossa amiga Dulce tinha ido para a Tailândia uma semana mais cedo, e podia aproveitar para ver de perto o que “uns tsumanis e umas coisas podem fazer”.
- Nem tudo está perdido Dulce. Podes-te abrir a novas experiências. Necrofilia e canibalismo. É um modo de vida muito natural.

O embaixador da Tailândia em Portugal depois de ter visto esta reportagem, telefonou imediatamente à nossa Dulce. Pediu-lhe desculpas pelo sucedido, dizendo que o povo tailandês se vai esforçar para, o mais rápido possível, conseguir enterrar todos os mortos, limpar todas as ruas e reconstruir todos os hotéis e piscinas de modo à Srª. Dulce Ferreira ter o mínimo de condições.

Quanto a mim só posso rezar e pedir urgentemente a despenalização do aborto. O erro podia ter sido detectado durante a produção e não chegava ao consumidor final...

Nome do Pai...do Filho... e do Espírito Santo.
Pai nosso que estais no céu, santificado seja o vosso Nome...

quinta-feira, dezembro 23, 2004

A Marta

Não sei o que a Marta pensa fazer a nível publicitário numa perspectiva a médio-longo prazo, mas uma coisa tenho a certeza. A menos que tenha um acidente onde fique inválida, a sua ligação com a companhia de seguros acabará brevemente. Embora, seja uma personagem familiar, e querida entre os telespectadores já se começa a tornar o Alberto João Jardim da publicidade a seguros. No fundo, a Marta tornou-se aquilo que o Santana queria fazer na vida política. Encontrou uma oportunidade e agarrou-a com ambos os braços. Mas enquanto numa basta uma voz bonita e um palminho de cara, na outra já se está a falar em liderança e inteligência, qualidades que costumam ser importantes na eleição daquele(s) que nos vai guiar rumo ao futuro. Para meu espanto, olhando para os candidatos que se perfilam, tirando obviamente o secretário geral do PCP (que é muito macho, afinal foi torneiro mecânico), estou com algumas dúvidas. Vão existir eleições para eleger o próximo PR ou para se contratar o substituto para a Marta? É que procurando as duas qualidades acima evidenciadas (liderança e inteligência) não encontro nenhuma em nenhum deles. Se falarmos em chico-espertismo, limitação intelectual, snobismo, vitimização e popularismo (da esquerda para a direita, começando e acabando nos radicais) aí a conversa já pia mais fino.Espero que a Marta esteja cheia de fazer publicidade e não se veja aos 70 anos a fazer publicidade para a promoção de chouriços e salpicões de um qualquer distribuidor. Ou então, que a ideia de publicitar faldras para a incontinência não seja a sua ideia de trabalho ideal. Por isso se quiser ter uma velhice descansada, ter um subsídio de reforma com 4 ou 5 zeros, depois de 2 ou 3 anos como directora-executiva de uma multinacional ou empresa ligada ao estado candidata-se a PR. Além de ser muito mais bonita, aposto que não tem metade dos defeitos. Mostrava que nós portugueses deixamos de ser burros. De querer mais do mesmo, de eleição para eleição e sempre a piorar. Dizem que pior é impossível, mas eu divido. Esperem pelas próximas. Por isso é que confesso: No dia que as urnas abrirem ou voto na Marta ou então terá que ser em branco.

segunda-feira, dezembro 20, 2004

Promover a Promoção

Toda a gente sabe que o turismo é uma arma económica forte que Portugal deve explorar. Tem recursos magníficos, embora precise de investir em algumas infra-estruturas e na qualidade da oferta. Publicidade é logicamente um caminho essencial para a promoção dos nossos encantos. Já pudemos assistir a belos filmes promocionais que enaltecem as nossas belezas naturais, a nossa história (como sempre Portugal agarrado à história), as gentes, a cultura. Mas, pergunto eu, por que raio temos que gramar com os filmes publicitários de Portugal na televisão Portuguesa em línguas que não a nossa? Qual é o objectivo de passarem esses filmes? Eu acho que um dos objectivos é fazer publicidade à publicidade. Ou seja, estão a tentar dizer-nos qualquer coisa como isto: “Vejam lá os filmes catitas que nós fizemos para os estrangeiros! Estão giros ou não estão? É isto que andamos para aqui a fazer com o vosso dinheiro. Depois não nos chateiem que não sabem para onde ele vai! Foi o helicópetero para as vistas aéreas, os voz off estrangeiros, o realizador e essas tretas todas… isto custa dinheiro! E estamos a publicitar na Alemanha, em Inglaterra e nos Estados Unidos, em Itália, em França, e mais…”. É uma promoção do trabalho feito. E é tão arrogante esta atitude, que até dá a sensação de dever cumprido. Como se com estes filmes tivéssemos os aeroportos cheios de estrangeiros para nos visitarem, e para procurarem aqueles castelos e quedas de água que aparecem nas filmagens, e que por uma vez pelo menos não perguntem pela porcaria do Algarve. Ou então é querer fugir ás responsabilidades, como quem diz “Os vídeos estão aqui, estão feitos, várias línguas, imagens bonitas. Agora pessoal, se os estranjas não aparecem a culpa é vossa. São feios, cheiram mal e cospem para o chão. Daqui está tudo feito!”. E mesmo tendo este objectivo, acho que bastava passar uma ou duas vezes em cada língua. Mas meses seguidos! É por demais!

domingo, dezembro 19, 2004

10:10 ... Hora de Publicidade

Recebi, não sei por que carga d’água, uma revista dedicada aos relógios, muito chique por sinal. Chegou-me pelo correio sem aviso prévio e nem pediu licença para entrar. Chama-se “Espiral do Tempo”, tem um tratamento dedicado, um grafismo interessante, bom papel, bons colaboradores incluindo o desaparecido Miguel Esteves Cardoso, e aborda os relógios de todas as formas e feitios. Tem lá relógios do preço de um apartamento na Foz, dos mais prestigiados relojoeiros mundiais, e artigos de actividades paralelas que levam sempre pelas vias mais improváveis aos relógios. As fotografias dos entrevistados que ilustram os artigos dão sempre ênfase aos relógios. Por exemplo, aquele senhor de braços cruzados com os pulsos à mostra de relógio proeminente. Pose da maior naturalidade, quando todos sabemos que quando cruzamos os braços, enfiamos os punhos e os pulsos contíguos pelo meio do corpo, até ficarem bem entalados entre o antebraço e o tronco de forma a que nos segurem a posição sem grande esforço. Como não podia deixar de ser, a publicidade assegurada pela revista é a referente a relógios. E foi aí que notei um padrão de comportamento que nunca me tinha sido exposto de forma tão evidente, pois é raro deparar-me com tanta publicidade a relógios de uma vez só. Se repararem bem, as horas que os relógios registam nas fotos publicitárias a relógios são sempre as 10 horas e 10 minutos. É claro que encontrei uma ou duas fotos que fugiram a esse padrão, como se diz por aí, para confirmar a regra. Mas o resto está invariavelmente nas 10:10. Por vezes 10:09, para dar um ar mais desalinhado. Mas é incrível! Será que faz parte do código da ordem do relojoeiros? Será que está estudado que a estética dos ponteiros atinge a sua perfeição harmoniosa naquela posição? Será que está provado que 10:10 é a hora em que a mais pessoas olha para o relógio, e que o uso dessa hora induza um clima de familiaridade e simpatia entre o observador e o relógio? Ou será que 10:10 tem um significado subliminar, invisível aos estranhos do mundo do relógio? Qualquer que seja a razão, a verdade é que alguma coisa há de ser, pois isto não acontece por acaso. De qualquer maneira, e já que falamos de tempo, não percam muito a pensar nisto.

sábado, dezembro 18, 2004

O Grande Ditador ou ... O Grande Devedor

Estão agora tiradas as dúvidas. Adolf Hitler era de facto um criminoso da pior espécie. Ele torturou, matou, invadiu, mentiu, humilhou, dizimou, exterminou, e realizou outras façanhas comparáveis, mas agora descobriu-se mais um crime negro. Um crime hediondo, de contornos macabros, segundo relata o Público de hoje na sua última página. O ditador fugia aos impostos! Afinal ele também recorreu ao crime fiscal. E pasme-se, não pagou impostos sobre os lucros do seu best seller “Mein Kampf”, onde exacerbava a supremacia ariana alemã sobre as outras raças e nações, e onde estabelecia a doutrina que o viria a dirigir durante os seus anos loucos. Já não basta o imposto que o mundo todo pagou por causa daquilo, e ele não pagou nenhum por causa do livro. Ditador sanguinário já se sabia que ele era. Mas fugir aos impostos senhor Adolfo, até lhe fica mal. E houve alguém que passou os últimos anos a olhar para números e factos para descobrir estas contas mal feitas e este crime impensável. Para quê? O homem não tem já um cadastro bem recheado? O que é que este crime vem acrescentar à história? Será que pensaram “Ah! Agora sim é que vão ver quem este homem era! Do que ele era capaz!”. Isto é como o Belmiro de Azevedo ganhar 250 euros na raspadinha. Não lhe vem acrescentar nada. Por cima do que ele fez, só se tivessem descoberto que fora ele o crucificador de Jesus Cristo. Mas mesmo com o martelinho e tudo, não era só como mandante! Aí sim estaríamos a adicionar realmente qualquer coisa ao currículo desse senhor. E agora esperam o quê? Que alguém pague o que ele ficou a dever? Estou a ver que na Alemanha não deve haver grande problema de fuga ao fisco, porque estarem a perder tempo com um crime com mais de 60 anos é algo como um hobby de fim de semana. Venham para cá e investiguem uma data de pequenos ditadores que andam aí, e o trabalhinho era mais bem empregue. Enfim, corram todos a corrigir o livrinho de história e actualizem a folhinha do senhor do bigode ridículo, a bem da verdade dos factos e da justiça.

Link

Outra Vez ...

Peço mais uma vez desculpas pela interrupção de actividade no nosso blog, mas tanto a minha vida como a do Transpose andam em grandes transformações, e não nos tem sido possível contribuir aquilo que gostariamos para o nosso blog, e para os nossos leitores que são poucos mas bons. Espero que isto vá melhorando...

terça-feira, dezembro 07, 2004

Conto de Natal

Dia 25 de Dezembro, 0 horas e 23 minutos. O menino Pedro espera ansiosamente o Pai Natal em frente à lareira. Os amiguinhos têm tudo a postos para a sua chegada. Pedro é o chamariz. Enquanto o Pai Natal lhe entrega a prenda, os outros entram em acção. O menino Felix já tem a postos o seu bando de meninos fiscais para lhe apreenderem toda a mercadoria. Apesar das suas contas se encontrarem no offshore da Lapónia, o Pai Natal não se livrará de uma investigação. Aparentemente, os seus sinais exteriores de riqueza são evidentes. Não é que o trenó se compare a um Ferrari, mas alguém que dá prendas a milhões de pessoas tem que ter rendimentos extraordinários, e nos porquinhos de Felix não entra nem um cêntimo referente a impostos. Ou seja, o Pai Natal está em maus lençóis. Se quisesse distribuir este ano presentes em Portugal, devia ter pago o Pagamento Especial Por Conta, e não o fez. Entretanto, os meninos da Judite acomodam-se atrás dos sofás, e um paisana enfiou-se destemidamente numa meia na lareira. A verdade é que as ligações entre o Pai Natal, e a escandalosa avestruz Leopoldina da Modelo Continente não estão totalmente esclarecidas. O Pai Natal fornece as prendas à ave falante a troco de quê? E o Ancião barbudo ainda terá que enfrentar os meninos do IDICT e da SGTP. Em causa está a situação laboral dos anões e dos gnomos que o Pai Natal emprega. Não paga horas extraordinárias, não tem seguro, e obriga-os a trabalhar no Natal.
Na sala de Pedrinho respira-se confiança. Uma caneca de leite quente e um pratinho com bolachas estão ao lado da lareira. Os meninos estão todos ansiosos. Vai ser uma grande festa. E com jeito apanham-no antes de deixar as prendas na casa do Zézinho. O menino Sócrates não se dá muito bem com eles, e apreender a prenda dele também, era a cereja em cima do bolo para os Pedretes.
São já 2 horas e 48 minutos. O menino Félix já dorme no sofá com a barriga cheia de bolachas. O Pedro grita-lhe “Oh meu idiota! Agora é que ele não vem! Já não me basta aturar o Zezinho e o Marcelo na escola a dizer que ele este ano não vem cá a casa, e ainda tenho que levar com a vossa incompetência! Vais-me comer as bolachas!”. Félix vira-se, puxa uma almofada, arrota a leite com bolachas, e ressona tranquilamente.
É já de manhã e só Pedrinho está acordado. Com uma lágrima nos olhos Pedro resigna-se à evidência de que o Pai Natal este ano não vai a S. Bento. Pensa em telefonar ao amigo Guilhermito para lhe comprar uma prenda para fingir que recebeu alguma coisa. Mas é então que ouve um barulho lá fora. São crianças a brincar. Vai à janela para ver mais melhor. Ao longe consegue ver Marcelo e Aníbal com bicicletas novas. Cor de laranja como ele gosta. Noutro canto vê Zézinho com a prenda que ele queria e não recebeu. Um Monopólio novinho e um aviãozinho de brincar. Que injustiça pensava ele. Zézinho viu Pedro e abeirou-se da janela. Sorriu para ele, levantou o aviãozinho no ar e disse com um sorriso nos lábios “Olha! Vamos brincar a Camarate?”, e estatela com força o aviãozinho no chão. Pedro encheu-se de lágrimas e foi dormir. Que noite de Natal para Pedrinho!

sábado, dezembro 04, 2004

Tolerância = 0

Inúmeras campanhas de solidariedade, de intervenção social, defensoras de direitos de determinado grupo social, apelam ao nosso bom senso, à nossa sensibilidade. Então esta altura á perfeita para apelar ao nosso sentido solidário. No Natal pede-se tudo, e nós damos. É Natal! Em campanhas como as anti racismo, assim como em quase todas as outras, o que é pedido com mais insistência é a tolerância. A palavra aparece em letras chamativas, a piscar, a rodar, a entrar-nos pelos olhos dentro, a zumbir nos ouvidos como uma palavra sagrada. E nós até vamos tolerando. Há coisas bem piores de tolerar. A minha pergunta é: a tolerância é boa? É assim tão positivo por parte desta instituições pedir a tolerância? E o respeito? O respeito sim é importante. A tolerância não impede um africano ou um ucraniano de se sentir indesejado, ostracizado. A tolerância é a repressão dos impulsos de rejeição. O respeito é reconhecer-lhes o direito a uma existência como igual. O que será mais nobre, mais correcto, mais humano? Tolerar-lhe a existência ou respeita-la? Para mim a palavra tolerância aplicada a estas situações é já um factor de pré discriminação. Mas nem me impressiona muito, pois o comportamento egoísta e pouco civilizado e social de muita gente em Portugal pouco ultrapassa a simples tolerância, em relação a mim ou a qualquer outro português. Porque se haveria de lhes pedir que respeitassem os estrangeiros?

sexta-feira, dezembro 03, 2004

Domingo...

no bairro da tijuca, vai ser celebrado o casamento de dois cidadãos portugueses. O noivo, Sr. Jorge Nuno Pinto da Costa vai ter a honra de des-desposar (e quem sabe, mais alguma coisa depois da boda) a Dr.ª. Fátima Felgueiras. O casamento vai ser realizado por Sua Santidade Padre Frederico, acompanhado nos coros pelos Meninos do Coro do Morro da Gávea.
Pinto da Costa comentou esta súbita mudança na sua vida amorosa dizendo: “Largos Dias têm 100 Anos e a Fatinha põe-me o apito que parece ouro.”

Os Abutres Estão à Solta

Os abutres estão à solta. Sobrevoam Gondomar ao cheiro de um Pinto gorducho, um banquete que anseiam há mais de uma década. As televisões estão a postos há meses. Algum dia teria que ser. A ânsia de sangue, a avidez de podridão, altera os sentido jornalísticos, e eis senão quando se ouvem meias verdades, imprecisões. É esta a magia dos directos. Dizem-se coisas no calor do momento, não há lugar nem tempo à confirmação, e no próximo directo tudo é esquecido.
Num directo de uma televisão a anunciar a presença de Pinto da Costa no Tribunal de Gondomar (nos cafés, um meio de informação paralela, já todos diziam que ele estaria no Brasil já fugido da sua anunciada desgraça), é anunciado que Pinto da Costa irá responder perante três casos de tráfico de influências relacionado com situações disciplinares, e não com arbitragens. Tráfico de influências é efectivamente um crime, mas muito diferente de corrupção activa como minutos depois foi anunciado pelo apresentador nos estúdios de Lisboa. O anúncio num trabalho gráfico de reportagem dessa acusação e a colagem da personagem aos árbitros entretanto também detidos não é inocente. A questão é que não é isso que se está a passar, pelo menos para já. Não sei os desenvolvimentos que o caso irá ter nos próximos dias, mas neste momento estamos a falar de suspeita de tráfico de influências em matérias disciplinares.
Quem tem alguma atenção, e nem é preciso muita, ao fenómeno do futebol português, e sabe pensar para além da paixão clubística, sabe reconhecer que a nível da Comissão Disciplinar da Liga de Clubes o FC Porto é altamente prejudicado de há uns anos a esta parte. E só para dar um exemplo recente, veja-se a suspensão por 15 dias do Treinador do FC Porto por gritar “Isto é falta” no decorrer de um jogo da superliga. Foi absurdo, ridículo, e reconhecidamente por toda a imprensa como inadequado, estúpido e de um rigor suspeito e inédito. E tem sido assim, sempre com pesos diferentes, consoante se trate de um jogador dragão ou de outro qualquer da superliga. Pelo que eu sei, e foi dito na televisão, uma das situações foi sobre a suspensão do Deco quando este foi expulso no jogo com o Boavista. Nesse jogo, Deco jogou a bola com o pé descalço, sendo-lhe exibido o cartão amarelo e o posterior vermelho por acumulação. Nada a dizer, está de acordo com os regulamentos apesar de ser uma medida demasiado zelosa. Na sequência do lance, Deco irritado pega na chuteira, mostra-a ao árbitro falando com ele, e atira bota para o chão numa atitude irascível, mas nunca tentando atingir quem quer que fosse. Claro que na altura demonizou-se a acção do jogador, dizendo que foi uma tentativa de agressão clara ao árbitro. Objectivo? Conseguir mais que um jogo de suspensão para o Deco, de modo a que ele não pudesse defrontar o Benfica duas jornadas a seguir. Esta campanha foi bem sucedida, pelo que o jogador levou 2 jogos de suspensão. Depois de recurso a pena foi diminuída. Parece que Pinto da Costa telefonou ao Presidente da Liga para pedir satisfações e interceder pelos interesses do clube. É provável que, consoante o conteúdo da conversa, isto possa ser considerado tráfico de influências, mas é muito diferente de corrupção activa, um crime muito mais grave. Devo também dizer que, ao referir-se a este incidente, a jornalista da RTP disse deliberadamente e com todas as letras que nesse jogo “Deco agrediu com a bota o árbitro da partida”. Uma mentira enorme e que faz toda a diferença. Eu não sou especialista em direito, nem nada que se pareça, mas se por exemplo for provado pelos regulamentos e análise da situação que a redução da pena de Deco foi justa e legal, a conversa de Pinto da Costa com o Presidente da Liga é considerada também trafico de influências? Não sei responder, pode ser que algum de vocês o possa fazer. E gostava também de saber se não é prática de muitos presidentes e membros de SAD’s terem contacto semanal com membros da Liga de Clubes. Eles conhecem-se todos! Se calhar tiveram sorte de as conversas deles não terem sido ouvidas e de não serem presidentes do FC Porto. Vamos ver como isto se desenvolve, sabendo que os abutres esfregam as asas de contentes por finalmente puderem dar azo ao bico venenoso para esventrar o Pinto e o Dragão.
Não quero defender o Presidente do FC Porto dos crimes que ele possa ter cometido. Se os cometeu tem que pagar por isso como qualquer um. Mas há que ser correcto e chamar as coisas pelos nomes, e a comunicação social tem um papel determinante nesse aspecto, e uma enorme responsabilidade. A imprecisão e as meias verdades são também puníveis criminalmente, e são para mim um tráfico de influência de massas, a influência da opinião pública. Mas esse é um crime raramente punido em Portugal. Não esquecer que já muitos jornalistas e jornais foram processados pelo FC Porto e por Pinto da Costa por palavras desapropriadas e notícias falaciosas, e sempre com sucesso. Sem querer justificar o acto, devo dizer que o tráfico de influências deve ser o crime mais cometido em Portugal, e por todos os Portugueses. O telefonar ao médico amigo para o pôr à frente numa lista de espera, o falar com fulano para conseguir determinado emprego ou concurso público, o meter amigos em posições que nos são favoráveis em determinadas instituições. É claro que depende sempre do nível de interesses por trás das situações, mas a fronteira entre o crime e a legalidade é estreita, sendo que mais uma vez evoco a minha ignorância jurídica, pois não sei a exacta designação legal para este crime. Esperemos pelo desenvolvimento da situação, sendo que se as acusações forem estas duvido que os abutres tirem a barriga de misérias.

quinta-feira, dezembro 02, 2004

Comunicado

Devo pedir desculpas a aqueles que têm por hábito a leitura do nosso blog idiota, que se divertem um pouco com alguns dos nossos devaneios, que se riem com as observações improváveis, que dão algum valor à loucura, assim como a aqueles que cá vêm porque não gostam de nós, se irritam com a nossa falta de propósito e nos acham arrogantes e parvos. Tanto eu como o Transpose temos faltado com a nossa missão de desinformar, desvairar, aparvalhar, e espicaçar os nossos leitores. Ora por falta de tempo, ora por falta de inspiração, a nossa nobre tarefa não tem sido possível. E perguntam os nossos caros leitores, “E é preciso inspiração para escrever as porcarias que vocês escrevem?”. E eu respondo muito vigorosamente que sim. Ser-se idiota tem que se lhe diga. Se este fosse um blog político com certeza não chegaria o espaço do blog para tantos posts, dada a situação interna, e mesmo a externa. Mas não, nós falamos de nada, coisa nenhuma e o raio que o parta, como está bem patente na nossa missão exposta nesta mesma página. E convenhamos que falar de nada não é fácil. Podíamos entrar na discussão filosófica, conceptual e mesmo física de o que é o nada. Seria interessante, mas infrutífero. O nosso nada não faz parte destas doutrinas. O nosso nada é tudo o que aquilo a que não damos valor mas é indissociável da nossa existência, é o pormenor que não notamos mas sabemos estar lá, são silêncios entre as palavras, as pausas entre os gestos. E ás vezes é mesmo nada. Este post, por exemplo, não tem conteúdo nenhum bem vistas as coisas, mas parece-me a mim que o blog estava há muito tempo sem ser actualizado pelo que isto foi o melhor que se arranjou.
Prometo eu, e arrisco-me a prometer pelo meu amigo Transpose, que de hoje em diante vamos escrever com mais assiduidade. Vamos estar mais atentos aos laivos de estupidez que esta nossa sociedade nos proporciona, vamos colocar as perguntas que ninguém põe, e escrever aquilo que ninguém escreve e pouca gente lê. A partir de hoje vamos tentar perseguir o objectivo de no mínimo termos um post novo por dia, como já foi prática nossa. E vocês, caros leitores, participem, comentem. Digam de vossa justiça. E já agora dêm um toque aos amigos para ver se temos mais visitas que isto tem andado mal.
E agora me despeço com um até amanhã, que amanhã é dia de post. Um grande abraço.