Blue Velvet

terça-feira, fevereiro 28, 2006

Acção - Reflexão

Nos Estados Unidos, liga-se a televisão e há sempre alguém a dizer ás pessoas o que elas devem pensar. Há sempre uns gurus a guiar, a dirigir, a garantir, a explicar… Mas o papel do cinema também é confrontar o público com esta questão tão simples e tão difícil: o que é que tu pensas?”

Sam Mendes – Realizador de Jarhead in Y 17/02/2006


“Nos Estados Unidos, fazer um filme que não aborde a questão do médio oriente de forma simplista é difícil. Existe pressão para tratar o assunto de forma redutora, em tons de preto e branco, e essa é uma pressão que os jornalistas também sofrem. Não é por acaso que muitas vezes, em entrevistas sobre «Jarhead», me perguntavam porque é que o filme não tomava partido nem posição. «O que é que se deve pensar?», queriam saber. Mas eu não quero levar as audiências a pensar uma coisa concreta. O que eu quis com este filme de guerra existencial foi que as pessoas pensassem por elas próprias.”

Sam Mendes – Realizador de Jarhead in Y 17/02/2006


“Mas claro que há uma intenção de lembrar ás pessoas que hoje, como há trinta anos, o medo do inimigo não nos pode fazer esquecer os limites.”

George Clooney – Realizador de Good Night and Good Luck in Y 17/02/2006


“A forma como o público consome informação hoje é diferente da de há 30 anos. Há três décadas havia 3 canais de televisão que ás 6 da tarde apresentavam as mesmas notícias. Agora há vários canais com notícias 24 horas por dia, e cada um tem as suas. Antes da guerra do Iraque, alguns canais garantiam a ligação de Saddam Hussein com Osama Bin Laden, outros diziam que a Al Qaeda nada tinha a haver com o Iraque. E não estavam a inventar nada, estavam a citar as suas fontes, a seguir as suas orientações editoriais ou empresariais. As pessoas vêem os canais que melhor correspondem ás suas convicções pessoais”

George Clooney – Realizador de Good Night and Good Luck in Y 17/02/2006


“Vamos pelo menos reconhecer que devia haver um debate aberto e não aceitar que nos digam que é pouco patriótico fazer perguntas.”

George Clooney – Realizador de Good Night and Good Luck in Única 11/02/2006


Eu sabia que íamos ser metralhados pela direita. Fiquei surpreendido pela metralha, mais pequena mas não menos dolorosa que veio da esquerda. Fez-me ficar um pouco mais consciente do dogma e da posição reaccionária que as pessoas assumem sempre que se discute o Médio Oriente”

Steven Spielberg – Realizador de Munich in Única 11/02/2006


As pessoas ou adoraram o Crash ou odiaram-no. Uma das primeiras críticas dizia «Paul Haggis acha que nada mudou nas relações raciais em Los Angeles desde Rodney King». E eu pensei: «Bem, podem ter piorado um pouco.»

Paul Haggis – Realizador de Crash in Única 11/02/2006

segunda-feira, fevereiro 27, 2006

Jovem? Licenciado? Sexo Masculino?

Li ontem no Público que tem aumentando o número de jovens que seguem o sacerdócio depois de concluidos os estudos universitários. Chocados? Espero que não porque isto não é só bater punhetas a ver filmes pornográficos de terceira categoria. Os autores deste blogue por vezes também lêem jornais respeitáveis. Não é só o Crime e o 24 “Nós Somos Inocentes” Horas.
Mas voltando ao assunto... As saídas profissionais são cada vez menos. O desemprego entre licenciados tem vindo aumentar. Em que outra instituição se arranja emprego, bem renumerado, com direito a casa, cozinheira, roupa lavada e se pode beber um vinho de qualidade à hora do expediente? Sim, existe a PT, mas para isso é preciso ter alguém muito próximo ligado à politica. Embora se diga o contrário existem muitas pessoas honradas que não gostam de mexer em caganitas de pássaro, para mais agora, com o risco da gripe das aves.
Esta escolha dos jovens demonstra uma lucidez perante o mercado de trabalho impressionante. Tenho medo, no entanto, que grande parte dos padre-licenciados vá ao engano. Quero apenas dizer, isto: O CRIME DO PADRE AMARO É FILME. Não estou a dizer que haja falta de acção. Também não estou a dizer que a haja. Sinceramente não sei. Agora uma coisa é certa, a paróquia da Soraia Chaves é só uma e a não ser que a igreja católica portuguesa crie um regime de rotação quinzenal para todos os padres abaixo dos trinta e cinco, em exclusivo para aquela paróquia, muitos estão a ir ao engano. Sim, existirá sempre uma Tânia Vanessa, uma Maria da Purificação, com alguma sorte, uma Maria de Lurdes mas nunca uma Soraia Chaves.
Tirando este “desgosto” que alguns poderão ter, vejo a adesão deste jovens como um fenómeno positivo que está a acontecer na igreja. Não digo todos, mas grande parte deles antes de descobrirem Deus, poderão ter Vivido, com todos os excessos daí recorrentes. E uma pessoa que tenha Vivido, sem ter sido enclausurada desde nova, em principio, torna-se muito mais sábia e consegue ter uma ideia mais válida sobre o que é a vida de toda uma comunidade e compreendê-la.
Sendo assim. aconselho a igreja, com um registo parecido às forças armadas, fazer a seguinte publicidade na televisão:
“Tens mais de 18 anos? Já te licenciaste? Andas à procura de emprego à mais de dois anos e não encontras? A mulher da tua vida deixou-te e não sabes o que hás-de fazer? O teu encanto pelas drogas e pelas orgias desapareceu?
Junta-te a nós, a Igreja Católica Apostólica Românica. Inscreve-te na paróquia mais próxima e encontrarás uma carreira de futuro. O Senhor espera por ti”

domingo, fevereiro 26, 2006

Pretendentes

Sou e serei um menino de coro. Os avôs na missa e eu a fazer as camas e o almoço. A salada de fruta está feita, a cebola já está cortada para o arroz, a salada escolhida e lavada, só falta fazer o molho. Existirá por este mundo de ww's e http's alguém para fazer companhia ao menino? Temos 40 m até eles chegarem.

sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Males evitáveis

Isto quer dizer alguma coisa

Já tinha trocado umas frases, dito umas banalidades, mas só quando falei com ela, isto é, teclei, pela primeira vez no MSN é que fiquei pelo beicinho.
Era a primeira vez que alguém falava comigo e usava a Lucida Handwriting, ainda por cima com as letras a tamanho oito. Se isto não quer dizer nada, não sei o que dizer. Não tive a coragem de perguntar, mas penso que esta combinação de tipo de letra e tamanho não se usam com todos. Ainda por cima a côr era rosa. Isto demonstra uma tentativa de aproximação clara. Só o pequeno pormenor do tamanho ser apenas oito mostra que a vontade dela era sussurrar-me as palavras ao ouvido, como as quem as está a segredar. Isso, ou quer-me pôr ceguinho de todo porque passado meia hora já começa a cansar a vista.Por acaso sempre que nos cruzamos e trocamos umas palavras ela nunca foi de falar muito, mais abanar a cabeça, mas quase de certeza que é timidez.
Quanto ao rosa. O rosa. O rosa. É uma boa côr, não a estou a conseguir encaixar na lógica de aproximação mas também a semana está acabar e torna-se complicado. Talvez ela quisesse pôr o vermelho e enganou-se, ou até pode ter estado a falar com a sobrinha e esqueçeu-se de mudar a côr. Tenho que lhe perguntar.
E a combinação frases, icones expressivos. Era toda sorrissos. Nem uma vez me mostrou o sonolento o ameaçador ou o sarcástico. Era só sorrisos, bocas abertas, piscar de olhos. Sinceramente se isto não quer dizer nada, não sei o que quer dizer.

O homem que queria ser arquitecto

Jerry: I did it for you.
George: Yeah, but what did you have to tell her that for. You put me in a very difficult position, Marine Biologist! I'm very uncomfortable with this whole thing.
Jerry: You know with all do respect I would think it's right up your alley.
George: Well it's not up my alley! It's one thing if I make it up. I know what I'm doin, I know my alleys! You got me in the Galapagos Islands livin' with the turtles, I don't know where the hell I am.
Jerry: Well you came in the other day with all that whale stuff, the squeaking and the squealing.
George: Why couldn't you have made me an architect? You know I always wanted to pretend that I was an architect. Well I'm supposed to see her tomorrow, I'm gonna tell her what's goin on. Maybe she likes me for me.

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Necessito enviar prenda

Uma amiga fez anos e como a estima que tenho por ela é imensa, apliquei-me. Escrevi uma fábula manhosa que envolve o Willie Fog, Mubarak, Trent Reznor e outros que tais, e comprei um livro para complementar o presente.
Surgiu no entanto um ligeiro problema, só fiz isto depois do aniversário. Como desde aí não nos encontramos por incompatibilização de horários e cidades, ainda não lhe ofereci nada. A culpa é toda minha.
Um dos principais problemas de este processo ainda estar emperrado é a falta de envelope. Por isso, mesmo atrasando o envio da minha oferta mais uns dias, pondo em causa a minha honorabilidade e bom nome, ofereço-me perante o ministério público para ficar com o envelope 9. Foi a primeira vez que ouvi falar de um envelope que queima, sobretudo as mãos de quem com ele lida. Para mim é o ideal já que necessito de algo que transmita emoções, visto a fábula ser fraquinha e o livro demasiado impessoal. No entanto, só farei esse favor ao MP caso o tal envelope não tenha o remetente preenchido, porque para ter que andar com corrector a apagar endereços prefiro comprar um novo. Se assim for, terei muito gosto em sacrificar-me por um bem maior. A vida anda dificil e se há uns anos 1 escudo era 1 escudo, nos tempos que correm 1 euro são muitos escudos.
Não querendo abusar, e nem querendo que pensem que é uma exigência, gostaria que os senhores do MP tivessem em conta o meu gesto grandioso e, caso enviem o dito, pusessem na sua barriguita uns gramas de erva para posterior degustação no aconchego do lar. Só lhes ficava bem.

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Patati... Patata...Patati...Patata

(Blogue 1) – O problema da Ti Alice - 02/02/22 10:00

O grande problema da Ti Maria é que ela comprou as laranjas a 20 e vendeu-as a 24, nem sequer lhes dando o famoso toque Yankovich antes de as pôr no expositor. Toda a gente sabe que é um erro. Se ela tivesse em conta o Manual de Revenda do Ti Capristano e o “How to eat oranges with the eyes” desse guru da venda de frutedo chamado Tony VaideFroskes elas não tinham ficado com as laranjas a apodrecer na prateleira e o lucro seria quase imediato. É por estas e por outras que a frutaria da Ti Maria está a ser ultrapassada pela da Ti Albertine, essa francesa que veio para cá passar a reforma.

(Blogue 2) – Yankovich na laranja? - 02/02/22 22:00

O Ti Ambrosio na sua análise ao pouco escoamento das laranjas na loja da Ti Maria só demonstra o quanto a direita da nossa terreola anda desorientada. Sim, o toque de Yankovich deve ser aplicado, mas sim às leguminosas, nunca às laranjas. Acima de tudo fiquei admirado por o ver citar Tony VaideFroskes, esse revolucionário, esse Che Guevara dos citrinos e não mencionar esse fascista do Charles Le Gome, escritor mais concordante com a sua côr politica. O homem que deu ao citrino um novo significado. Partilha, Povo, Amizade. Todas estas palavras passaram a ser, desde a escrita do “How...”, a bíblia dos citrinos, associadas à laranja. O que o meu amigo devia discutir é porque a Ti Albertine tem a laranja mais barata? Isso sim, é o mais importante. Esqueçe as mãos em ferida dos irmãos Duarte? E como está o Pedrinho, filho dos Nel Cardoso? Ela venda tudo porque anda a explorar os miúdos cá da terra que em vez de estarem a jogar à bola estão na apanha da laranja.

(Blogue 1) – Olhe que não Ti Capristano, olhe que não - 02/02/23 8:00

Como seria de esperar o Ti Capristano discorda da minha opinião. Lá está a esquerda com as suas ideias pré-concebidas. Antes do mais o Ti Capristano devia saber que o toque Yankovich, como Joshua “Orange Juice” Matias bem demonstrou no livro “Os Citrinos e o século XXV”, editado pela Pedilldivo, também deve ser aplicado aos citrinos. Ao contrário do que certas mentes luninárias dizem, incluindo a Ti Alice e a sua gangue do caroço, só com o método Yankovich um citrino atingirá toda a sua plenitude, especialmente quando enquadrado num expositor mediano. Outra das falácias que o meu amigo comete é quere fazer do Tony VaideFroskes um autor exclusivo da esquerda. Se ler atentamente o "How..." da pag. 42 à pag. 54 verá que o seu amigo Tony era um autêntico liberal do citrino. Quanto aos miudos ajudarem a Ti Albertine, mais uma vez tenta tapar o sol com a peneira. Os miudos receberam. Não foi muito, mas mesmo assim uma sande de tulicreme, um sumo e um pacote de chicletes nos tempos que correm é um achado. É melhor do que estarem a partir pernas, fumar barbas de milho ou jogarem às escondidadas com as irmãs Afonso. Diversão para quê? Para depois os pais gastarem o dinheiro da ração dos porcos em hospitais e idas a espanha à procura de clínicas? A Ti Albertine aproveita as contigências do mercado, nem mais nem menos. Se ao menos me falasse da falta de inovação nas prateleiras e na falta de uma estratégia de marketing feito pela Ti Maria. Mas não , não convém nada, afinal quando foi presidente da junta o amigo não ligou aos subsidios pedidos por ela para renovar os expositores... Dizia que não existia concorrência...

(Blogue 1) - Super Vita, ou a chamada piada do dia - 02/02/23 8:30

Já agora, também foi o Tony que associou o Citrino à Vitamina C?

(Blogue 2) – 02/02/23 10 :00
(Blogue 1) – 02/02/23 12 :00
(Blogue 2) – 02/02/23 12 :50
(Blogue 1) – 02/02/23 14 :00
(Blogue 2) – 02/02/23 14 :20

terça-feira, fevereiro 21, 2006

Choque de titãs

É com enorme prazer que a Música no Dedo Mindinho anuncia um fabuloso concerto de hoje a um mês no Pavilhão Atlântico. Este é o primeiro de uma série de concertos que serão dados por todo o país e com o título: “Choque de Titãs”.
No mesmo palco estarão Celine Dion e James Blunt numa intensa luta, canção a canção. É a versão moderna do jogo das cadeiras e dos famosos cantarares ao desafio eternizados por esse grande ser humano chamado Armando Marinho.
Em disputa estará o titulo de “Master of Calcetating Rocks”, isto é, o rei ou mistress das pedras da calçada e disputar-se-á com um conjunto de regras pré-estabelecidas.

1- Cada um cantará uma canção alternadamente.
2- A moeda ao ar decidirá quem será o primeiro a subir ao placo, a não ser que o marido da Céline entretanto morra. Nesse caso, por cavalheirismo, não existirá sorteio e a cantora será a primeira a começar o extreminio.
3- Não vale jogo sujo, por isso a adaptação de qualquer das áreas dos cantores ao fado está totalmente fora de questão.
4- Ganha quem conseguir matar mais pessoal da assistência devido à entrada em estado de desgosto profundo. Ataque fulminante de coração devido a tristeza também serve.
5- O concerto só acaba quando toda a assistência estiver morta, ou o número dos que faltam morrer já não der para ultrapassar a pontuação feita entretanto pelo outro concorrente.
6- Suícidios contam apenas meio ponto.
7- Assassínios, perpretados pela entourage do cantor, não contam para pontuação, sendo descontados à pontuação do cantor.
8- Relativamente ao ponto anterior existem excepções. Se forem assassinados políticos, construtores civis, juizes ou bancários a pontuação conta, caso contrário era impossível estes espectadores terem uma participação activa no concerto.

O vencedor além do título e de uma bela soma em dinheiro oferecida pela Segurança Social, partilhará o palco com a Ivete Sagalo no rock em Rio.
Não existem razões para faltares. Por isso, se és fã ou queres morrer e ter um funeral de caixão aberto anda assistir a este maravilhoso evento. A entrada é grátis para reformados e para funcionários públicos com mais de trinta anos de carreira. Existem também descontos de grupo para pessoas que frequentem as páginas da Caras e da Lux. É estritamente probida a entrada de moçoilas com sangue quente e idade inferior a 40.

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Já existem preservativos para a língua?

Ontem estava a visionar o Padrinho pela centêsima vez e ao ver a noite de núpcias entre o Michael e a Apollonia (mamma mia que pizza), lembrei-me de um pormenor que penso ser tabú na nossa sociedade. Os casamentos costumam ser marcados com alguns meses de antecedência. Algumas vezes com mais de um ano. Quando esta marcação é feita, a possibilidade de na noite de nupcias a mulher estar com o período ou não, é tema de grandes contas ou preocupações? Falo nisto, porque ao longo dos anos já ouvi muito boa gente dizer que nunca fazia amor quando o periodo se fazia anunciar. As razões dadas nem eram assim muitas. Acima de tudo um certo desconforto. Em tempos normais, se Deus descansou ao sétimo dia, faz sentido o homem e a mulher descansarem entre o 22 e 26 dia. Não é vergonha para ninguém. Isto é, por acaso é vergonha para Deus, mas não falo sobre esses assuntos porque quero evitar manifestações à porta do tasco. A noite de núpcias já é um caso diferente devido à perspectiva romanesca que se faz do dia. A ilusão que existe de o dia ser irrepetível, pelo menos com a inocência inicial porque ao quinto casamento já não há por ali nada de inocente, desperta em cada um dos seus intervenientes a personagem encantada que existe nas suas cabecinhas. Tudo precisa de ser perfeito. O acordar, o penteado, o fraque, o vestido, a igreja, as flores, o copo de água, o hotel e por fim a noite de nupcias. E aqui é que se encontra o busilis da questão. Falando como homem para quem dar é tão importante como receber ou pondo-me no lugar da mulher que sabe aquilo que quer e como quer, não se privando a nenhuma das suas fantasias e prazeres, mesmo sabendo que o dedo pode ser muito bem usado, uma língua trabalhadora é outra coisa. E noite de núpcias sem língua não é noite de núpcias. É um mau auguro.

O Senhor Nonsense

Não gostaria de voltar ao tema tão cedo, mas acabei por ser obrigado e, para mostrar que a tolerância e a liberdade de expressão ainda é um assunto que não é consensual na sua extensão e nem mesmo na sua essência, dou aqui mais um exemplo actual. Vinha este domingo no Público que o CDS, pela pessoa do seu errante líder, queria que Portugal considerasse o embaixador do Irão “persona non grata” devido ás suas declarações na sequência da verborreia alucinada do nosso Ministro dos Negócios Estrangeiros em que, entre outras coisas, questionava o Holocausto.

Corrijam-me, se estiver enganado, mas não estamos numa mesma situação de liberdade de expressão? Há a diferença de ele ser um representante oficial de um país, mas como Portugal não cortou relações com o Irão por causa das suas posições oficiais, seria ridículo fazê-lo agora. Mas, não terá ele o direito de manifestar a sua posição, ainda que aos nossos olhos nos pareça absurda, ou até ofensiva? Temos o direito de resposta, mas teremos agora o direito de o expulsar, sendo Portugal um país da EU que respeita e fomenta a liberdade de expressão? Se quisermos tomar uma acção política, tudo bem, é legítimo. Mas se estivermos a falar do cidadão, não terá ele o direito de o dizer? Não é isso tão óbvio, especialmente agora? Não seria a hipocrisia maior fazer o que o lírico Dr. Ribeiro e Castro propõe que se faça?

O que vale é que isto foi dito por este senhor obscuro que considerou que o fundamentalismo islâmico tinha origens no extremismo de esquerda, o que lhe retira qualquer credibilidade à partida. Mas começo a gostar das suas intervenções. São coerentes no seu non sense, com um aguçado sentido de ironia política e sarcasmo ideológico. Um verdadeiro John Cleese da política. Ficamos à espera de outras declarações deste ex-candidato a Presidente do Benfica que viria a ser derrotado pelo inigualável Vale e Azevedo.

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

A Expressão da Liberdade

Que fique claro desde o início que estou completamente do lado do ocidente e do seu direito à liberdade de expressão, ainda que esta possa ofender terceiros. A meu ver, na democracia, cada um se responsabiliza pelos actos que toma, e será automaticamente julgado popular e socialmente por eles. Um grupo de 10 nazis pode muito bem escrever um artigo anti-semita, ou xenófobo. O julgamento deles será público, será pelos seus pares que não se revêem nas suas ideias, será pela opinião pública, pela pressão social. É uma espécie de auto controlo em que a Democracia está assente, e que para funcionar bem necessita de uma população bem informada e minimamente evoluída intelectualmente. É um mecanismo que tem as suas falhas, mas que vai funcionando. Notemos que ninguém reparou nos infames desenhos há 4 ou 5 meses atrás. E assim estariam remetidos ao seu lugar insignificante na história, não fosse um grupo de agitadores islâmicos pegar nelas com segundas intenções e oferecer um protagonismo aos seus autores que eles nunca teriam de outro modo. E pior, estão a colar-lhes um papel de vítima, o que lhes confere aos olhos do público em geral uma imagem bem mais simpática.

Mas agora vejamos outra situação. Não aplica também a nossa sociedade ocidental a censura quando algo lhe revolve alguns sentimentos mais íntimos. Querem que vos dê alguns exemplos? José Saramago viu o seu livro "Evangelho Segundo Jesus Cristo" censurado pelo governo de Cavaco Silva, aliás um tratamento que acabou por o empurrar para uma vida descansada numa remota ilha das Canárias. Também Herman José foi vítima da censura deste bastião democrático. Primeiro no seu programa "Humor de Perdição", onde as suas entrevistas históricas em que se parodiava figuras da nossa ilustre história nunca foram bem vistas por alguns sectores da sociedade. A gota de água terá sido uma entrevista à Rainha Santa Isabel, que originou o cancelamento do programa quando ainda faltavam 2 episódios para terminar a série. Mais tarde, no programa Parabéns, Herman José parodiou a Última Ceia e foi excomungado por uma grande parte da nossa classe política e clerical, e até por alguma imprensa. E lembram-se a tempestade que se levantou quando Saramago comparou os colonatos judeus e os campos de refugiados palestinianos aos campos de concentração? Foi logo acusado e desmembrado por 90% da imprensa e classe política. E logo veio a comunidade judaica acenar com o Holocausto como a sua reserva moral histórica, que aparentemente lhes dá uma margem de manobra bastante grande. Por fim, segundo a edição de hoje do Público, a Opus Dei ter-se-á insurgido contra o filme "O Código de Da Vinci" que tem estreia prevista para Maio. Segundo esta, algumas partes do filme deveriam ser cortadas para evitar que se ofenda a sensibilidade cristã.

Não aceito que se questione o holocausto, mas é verdade que o tema é um tabu para o Ocidente, e que ninguém pode falar dele sem se ajoelhar e se benzer 3 vezes. Se as caricaturas fossem de Moisés a deitar abaixo casas de palestinianos com bulldozers ou a dirigir mísseis a dirigentes políticos palestinianos, podem ter a certeza que a reprovação política e social dos desenhos seria violenta e exemplar por parte do ocidente. Tal como assuntos cristãos têm sido tabu na nossa sociedade, e parodiar ou criticar um padre ou aspectos da igreja católica é o passaporte para a marginalidade nesta nossa sociedade de cariz cristão.

Estou do lado do Ocidente. Temos o direito de falar e criticar aquilo que nos apetece. Também temos o direito de nos ofender. E devemos sempre respeitar-nos. É esta discussão e este equilíbrio que nos faz evoluir como sociedade. Nem os islâmicos têm razão ao quererem impor-nos uma lei que está ligada à sua religião, nem nós ocidentais temos uma sociedade equitativamente e totalmente livre de expressão. Ainda assim, as nossas sociedades serão as que mais se aproximam de um ideal democrático e de igualdade de direitos. Partindo daqui, podemos discutir o lugar da cultura islâmica na nossa sociedade, e o nosso papel na sociedade islâmica. Ou queremos convergir e compreender-nos mutuamente, ou andamos todos ao estouro. E cada vez mais nos dirigimos para a segunda hipótese.

terça-feira, fevereiro 14, 2006

Surpresa !!

Porque festejamos hoje o dia de S. Valentim? Porquê dia 14, e porquê dia dos namorados? Ninguém sabe! Mas todos gostam de vestir a camisa de sábado à noite (para eles), o salto alto (para elas), e atafulhar os restaurantes em mesas de 2 onde ardem velas cansadas do seu gesto simbólico: se pudessem ao menos de vez em quando iluminar realmente alguém. Hoje esgotam as velas, os peluches, os balões pirosos em forma de coração, as flores, e os lugares comuns. Enquanto este é um dia em que muitos dos que não partilham uma cara-metade encontra uma razão para se sentir deprimido, foi sempre o dia em que me orgulhei de não ter namorada. Sempre odiei a obrigação do gesto neste dia. O que há de especial em levar a nossa amada no dia 14 de Fevereiro a um restaurante onde estão mais 15 pares melados a jantar à luz de velas com um ramo de rosas no colo? Ela sentir-se-á realmente especial? Ou estará agarrada aos direitos adquiridos numa postura tipo funcionário público? Sim, porque o jantar e as flores do dia 14 de Fevereiro fazem parte dos direitos adquiridos de uma namorada. Mas meus amigos, hoje surpreendam! É aí que está a magia. Não hoje, mas todos os dias. Fujam ao lugar comum de todos os anos e sejam diferentes. Este ano eu tenho namorada, e pelo menos jantar fora nós não vamos…

A Ofensa de S. Valentim

Num clima de tensão social, política e religiosa como vivemos hoje, será legítimo, respeitoso e sensato festejar o dia de S. Valentim? Uma efeméride com nome de santo mas com carácter pagão que pode ajudar de novo a incendiar os ânimos. Sim, porque para os Testemunhas de Jeová este não é dia de S. Valentim, para a Igreja do Reino de Deus o S. Valentim é o padroeiro das pedras dos rins, e para os Muçulmanos nem se quer se pode namorar. Será então legítimo que nós nas nossas sociedades pluralistas possamos adoptar uma postura de confronto, festejando um dia que não preenche as crenças e as convicções de outras faixas da sociedade? E não ficarão os chamados “encalhados” numa posição de marginalização, visto não terem nenhum motivo para festejar, e servindo até este dia para os lembrar do quanto se sentem sozinhos? Obrigando todos os não crentes em S. Valentim a passar por este dia, não deveríamos nós também jejuar no Ramadão por respeito com o Islão?

Ao raio com isto tudo! Festejemos sim! A febre do politicamente correcto enerva-me tanto que fico com vontade de blasfemar indiscriminadamente e em vão, em nome da liberdade de expressão e da minha liberdade individual. Irrita-me ver o Ocidente a querer auto controlar-se tentando não ferir terceiros, quando qualquer um com dois dedos de testa e alguma atenção ao cenário é capaz de dizer que o problema aqui não foram as caricaturas, mas que estas foram apenas um pretexto, como aquele tipo na discoteca que vai contra outro só para armar porrada. Se o ocidente se encolhe agora e pede desculpas pelo encontrão que não deu, pode estar a dar um passo gigante na direcção errada. Abre um precedente gravíssimo de ingerência em matérias da nossa política interna e da nossa cultura democrática que os outros deviam respeitar, e curva-se perante os cada vez mais atrevidos radicais islâmicos, que vêm sempre na moderação expectante da Europa um aliado na sua sede de confrontação e ódio aos valores mais caros e representativos das civilizações ocidentais. Há muitas alturas para se ser moderado tal como já tenho defendido, mas esta não é uma delas.

A minha paródia acima sobre o dia de S. Valentim tem um paralelo num país Ocidental. Este último Natal nos EUA foi envolto numa certa polémica sobre a designação da árvore de Natal. Segundo indicações de uma instituição qualquer, não sei mesmo se governamental, a árvore não deveria ser chamada de “árvore de Natal” pois o Natal é cristão, e como todos celebram o feriado de dia 25 e compram uma árvore e têm férias nessa semana, a árvore devia ter outro nome, limpo e neutro. E este é o tipo de respeito que se pratica nos EUA em muitos casos. O caso é tão ridículo que quase afasta de si o perigo que ele representa. É o perigo da Europa se tornar numa sociedade podre e aparentemente inócua, onde cada vez mais a pluralidade será reprimida e desencorajada, em nome de um falso respeito e do proibir da discussão aberta dos temas mais delicados. Há princípios dos quais não devemos abdicar, ou então mais vale deixar de celebrar datas como o 25 de Abril ou a libertação dos Aliados do domínio nazi, porque a luta pela liberdade foi em vão.

Esclarecimento

Hoje é dia dos namorados, o folclórico dia de S. Valentim, e em sua homenagem decidi voltar a publicar um texto que aqui foi deixado há exactamente um ano. Perdoem-me a reincidência, mas o texto adequa-se bem à efeméride e sinto-me bem em voltar a publicar aqui o que é a meu ver um dos melhores textos, mais imaginativos pelo menos, que já por aqui passaram. Divirtam-se e feliz dia de S. Valentim.

A Lenda de S. Valentim Revisitada

O senhor Alfredo Conceição Valentim era um homem calmo e pacato, mestre na arte das ferragens. No café os amigos chamavam-no de Ção Velentim, ou como era carinhosamente conhecido, São Valentim. S. Valentim tinha a sua oficina de ferragens por baixo de sua casa, um duplex com TV Cabo (Sport Tv incluída), banheira de hidromassagem e dois dálmatas de porcelana a guardar a porta. A oficina era o local onde S. Valentim transbordava a sua arte a moldar ferro fundido. Tinha começado em novo, como ajudante de um amigo do pai que era paneleiro. Mas fazer panelas começou a ser pouco para a ambição de S. Valentim e para a arte do seu martelo. Com a cara queimada dos fornos de forjar foi pedir a garagem emprestada ao pai e dinheiro ao seu padrinho, um merceeiro rico da baixa da cidade. O padrinho foi fácil de convencer. Via naquele menino um prodígio das ligas metálicas. Mas o pai resistia em deixar S. Valentim abandonar de vez a escola e começar a trabalhar por conta própria aos 13 anos. Um dia, S. Valentim deu uma prenda ao pai pelos seus anos. Era uma gaiola em ferro trabalhado para o seu canário Micael. Para além de adornos e floreados como só vira no Mosteiro da Batalha, a gaiola dispunha de 3 quartos, sala de jantar com suporte para o recipiente das sementes, sala de estar e jardim interior, para que Micael soltasse as asas e cantasse com mais alegria que nunca. O pai chorou de alegria e emprestou a garagem a S. Valentim. O negócio prosperou, e vinha gente de todo o país para ver as obras do ferreiro prodígio. Em cinco anos S. Valentim tinha o seu estabelecimento, uma boa casa, e uma namorada belíssima chamada Maria Amorosa. Maria era tudo o que sempre sonhara. Bonita, esbelta, e amorosa, de nome e virtude. Não tardou que casassem com pompa e circuntância, em cima de um altar em ferro forjado e adornado com pétalas de papoilas campestres. O casamento fora marcado à pressa, pois Maria tinha engravidado, e o seu pai não iria gostar de saber que Maria não iria imaculada para o casamento. O seu pai era um homem conservador, com uma rigidez apenas inferior à rigidez dos seus punhos. O Sr. Teotónio era um ex pugilista de renome, ainda hoje lembrado pelo seu famoso soco de batatas, assim chamado graças ao estado em que deixava a cara dos adversários, com hematomas enormes do tamanho do dito tubérculo. Seis meses depois do casamento, eis que nasce o rebento esperado numa simulada cesariana, não fosse o Sr. Teotónio ainda conseguir fazer as contas aos meses, apesar do inchaço cerebral crónico que mantinha desde os tempos do boxe. O parto fora simples, e viria a marcar a vida da criança, ou pelo menos o seu nome. A parteira, a mulher do Vicente do talho, apenas disse “Puxe Maria, Puxe”, e quando se preparava para segurar a sua mão, ouve um grito e vê um bebé de 2.471 kg a voar pelo quarto e a parar com estrondo na porta do roupeiro. S. Valentim, que esperava ansiosamente à porta do quarto, fica em pânico e entra de rompante no quarto a gritar “Já pariu?”. A parteira, ainda atónita disse: “Oh senhor! Este não foi parido! Foi cuspido!”. O homem chorou de alegria e correu para a criança desmaiada no chão do seu quarto. Aquela frase da parteira ficou-lhe gravada na memória, e assim foi que, quando registou a criança decidiu assinalar o acontecido chamando a criança de Cuspido. Teimosamente, o homem dos registos não permitiu tal celebração, e obrigou a queda do s no nome do infante, passando-se a chamar Cupido Amoroso Valentim. Como o episódio do seu nascimento o sugere, Cupido era um diabrete, não parando um segundo no mesmo lugar. O pai achava piada à sua rebeldia, enquanto a mãe perdia claramente anos de vida a cuidar do seu filho. S. Valentim começou a levar Cupido para a oficina, e a verdade é que o míudo acalmava com o calor dos fornos e a observar o seu pai trabalhar. Isto, até a famosa encomenda das armas de caça. Um abastado homem do norte, um tal de Leopoldo Cação, encomendara um pequeno arsenal de caça para a caçada monumental que ía organizar para comemorar o seu quinquagésimo aniversário. Cupido engraçou com os arcos e as respectivas setas que o pai forjava com arte e empenho. Temendo que Cupido de magoasse, S.Valentim mandou-o brincar para o jardim anexo à sua casa. No entanto a encomenda estava atrasada, pois S. Valentim perdera muito tempo a olhar por Cupido, negligenciando o seu trabalho. Cupido, com a sua natureza irreverente, conseguiu facilmente subtrair um arco e um punhado de setas da oficina de seu pai. Lá fora, procurou o que lhe parecesse um alvo interessante, e encontrou um caniche irritante que se passeava no jardim. Empenhado em trespassar com perícia o pobre canídeo, Cupido disparou duas setas que não percoram mais que 15 metros. Irritado, preparou-se para disparar a terceira. Puxou o braço atrás com toda a sua força, apontou, soltou a flecha, e caiu para trás com a força do arco. “Ahhhh!!!” Ouviu um barulho que não era o de um caniche em desepero. Olhou pelo meio de uma sebe e viu Ezequeil Vinténs desmaiado nos braços de Lulu Milheiro. Ezequiel estava há uma hora e três quartos a tentar dizer a Lulu o quanto a amava, mas o nervoso miudinho a juntar à gaguez, não lhe facilitaram a tarefa. Lulu pressentia-o, mas precisava de um sinal, pois sentia o mesmo por Ezequiel. Quando Cupido disparou a seta, Ezequiel preparava-se para falar. Mas as palavras não saiam. Lulu deseperava. De repente Ezequiel grita “ AHHHHHHHmo-te”, abraça Lulu, bate-lhe com a cabeça, no que os mais românticos chamaram um beijo impetuoso, e desmaia em seus braços. Lulu, agora sem os dentes da frente, sorria de felicidade enquanto a sua boca jorrava sangue abundantemente. Um mês mais tarde, quando saiu do hospital, Ezequiel fez questão de ir a casa de S.Valentim anunciar pessoalmente o seu noivado com Lulu, convidá-lo para padrinho, e agradecer ao seu filho Cupido, pela ajuda dada neste belo desenlace. Ezequiel nunca esqueceria aquele dia 14 de Fevereiro, até porque a seta o atingira num tendão e agora mancava um pouco da perna esquerda. Desde então, os habitantes daquela pequena cidade chamam o dia 14 de Fevereiro dia de S. Valentim.

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

O Coro das Velhas

O Português, como espécie, tem características particulares na dimensão humana. Não vou dizer a típica falácia “isto só em Portugal” que pretende realçar a nossa especificidade perante os outros, mas que em geral, quase sempre, está longe de ser verdade. Isso faz parte, aliás, de algumas dessas características, como a autocrítica exacerbada em relação aos si e aos seus pares e a auto comiseração. Mas há muitas mais.

Há duas semanas, por ocasião da visita de Bill Gates a Portugal, levantou-se um coro de protestos devido à importância que se deu ao evento, e o governo chegou a ser acusado de provinciano e lambe botas. Segundo os protestos, lá por sermos pobres não devíamos andar a beijar as mãos a um tipo com cara de “nerd” só porque ele nos vai oferecer milhões de euros em formação tecnológica e softwares, incluindo alguns projectos piloto inovadores mesmo dentro da Microsoft. Segundo outros, ninguém dá nada a ninguém e o senhor Gates apenas estará a preparar mais uma futura manada de utilizadores dos seus produtos.

Meus amigos, pensemos calma e pragmaticamente no assunto. Não devemos nós tratar bem quem vem investir uns milhões no nosso país, ainda para mais sem contrapartidas directas? Para além de pobres deveremos parecer também mal agradecidos? E acham mesmo que o Bill Gates, o homem mais rico do mundo, vai oferecer cursos e formação aos Portugueses e colaborar com empresas Portuguesas só para vender mais uns Windows daqui a 5 ou 10 anos? Vale mesmo a pena investir isso tudo num universo de uns míseros 10 milhões de pessoas? Não nego que interessa à Microsoft, e a todas as outras empresas de informática e tecnologia, ter o maior número de pessoas e países desenvolvidos e com acesso às tecnologias de informação. Mas daí a achar que o Bill Gates foi um interesseiro ao vir aqui esfregar os milhões na cara dos Portugueses já acho um bocado demais. É claro que são acordos positivos para a Microsoft, que pode eventualmente alargar a mais alguns o seu mercado, mas é também muito positivo para Portugal, que consegue quase de graça formação qualificada e com um líder mundial e de mercado. Se é verdade que poderá interessar à Microsoft o acordo por ganhar mais utilizadores a médio/longo prazo, umas migalhas no entanto para a dimensão da empresa, não é também verdade que interessa a Portugal que a sua mão de obra se qualifique com um produto que lidera o mercado, tornando-os aptos para uma linguagem Microsoft que é largamente maioritária e dominante? De que interessava qualificar todos os Portugueses em Linux ou Unisys se quase nenhuma empresa utiliza esses sistemas?

Em Portugal espera-se sempre o pior de tudo. O mau agoiro paira sempre no ar quando alguém se atreve a ser grande, a pensar grande, a ambicionar mais do que aquilo que tem, e mais do que aquilo que os outros ambicionam. Esse alguém é em geral olhado de soslaio enquanto se sentencia a seu provável falhanço. Enquanto transparece o mau pressentimento, adivinha-se encapotada a inveja pela ousadia, o medo da diferença, medo da mudança. O comodismo da mediocridade e a arrogância dos ignorantes entristece-me. Diz o provérbio “em terra de cegos quem tem olho é rei”, e em Portugal parece que os cegos têm medo daqueles que querem ver, enquanto alguns reis tentam evitar que mais olhos reluzam no meio da cegueira.

terça-feira, fevereiro 07, 2006

Simetria

Há uns dias descansava o cérebro em frente à televisão e deixava os meus olhos serem bombardeados pelo fogos-fátuos hertzianos, quando tive uma visão alucinante. Ao que parece, duas belas meninas vão apresentar um programa qualquer na RTP. São elas a menina Catarina Furtado e a menina Sílvia Alberto. E eis que elas me aparecem assim no ecrã, lado a lado, reluzentes na sua figura, e eu só consegui reparar numa coisa. Elas apresentam um sinal improvável de simetria! Um eixo comum, a marca personalizada que funcionou até hoje isolada, e que agora em parceria adquire um outro significado, uma unidade, como aqueles transformers que se juntavam e formavam um mais forte e poderoso. Vejam o spot publicitário ao programa e digam-me lá se as duas meninas não têm os respectivos sinais cutâneos no canto inferior exactamente simétrico um ao outro na sua bela cara. O sinal, essa verdadeira instituição sexy, e quem não se lembra de variados casos por esse mundo fora, está então agora a ganhar uma dimensão nunca antes alcançada, formando um ser cujas propriedades ainda se desconhecem. Isto é um sinal claro da inovação que o país precisa, reinventando-se, neste caso, com a matéria prima existente. Será isto uma consequência do Plano Tecnológico? Não sei! Mas terá certamente um grande impacto social, de proporções imprevisíveis. Terão elas coragem de se juntarem num futuro próximo a Alexandra Lencastre, formando então uma trindade do sinal? Um triângulo unido pela mais fina epiderme, qual prisma de tripla aresta refractando os olhares incrédulos do público. A ver vamos. Esperemos primeiro para ver os efeitos desta união.