Blue Velvet

terça-feira, fevereiro 22, 2005

Reflexão

Decorrido o período de reflexão que se impôs, decorrente do período político do país, e que o Blue Velvet achou por bem cumprir, surgem questões importantes que importa responder. São questões que devemos pôr sem medo, sem estigmas, sem complexos, e que podem ajudar a clarificar o panorama político e social português. A bem da democracia, aqui deixo o meu contributo para o debate:

1 – Será só a mim que o termo “escrutínio” parece um palavrão usado para esconder a palavra votação? E se o que houve ontem foi um escrutínio, cada voto será um escroto?

2 – Voltando a sinónimos, não será também a palavra “sufrágio” um termo que aponta para o negativismo do acto? Não parece que vem de sofrimento e que leva a um naufrágio?

3 – Voltando ao sentido negativo das palavras, chamar a aquele caixote desinteressante onde se enfiam os boletins de voto de “urna” não dará um carácter grave e terminal ao acto associado? Como se o nosso voto morresse logo ali, ou como se elegêssemos algo condenado à partida.

4 – Como é que uma sondagem à boca das urnas (outro termo deselegante e promíscuo) estabelece um valor para a abstenção? Será que perguntam aos eleitores que acabaram de votar, quantas pessoas conhecem que não vão votar? Porque, se o universo onde decorre a sondagem é de 100% votantes, como diabo vão descobrir os que não votam!

5 – O que será mesmo uma sondagem à boca das urnas? Será a boca aquela ranhura onde se mete o papelinho? Como se faz aí uma sondagem? E não será demasiado forte chamar-lhe boca, se segundo a nomenclatura lá vamos meter o escroto?

6 – Se a urna tem boca, não deverá ter um cu também? E se do cu sai a votação, quer dizer que no fim do dia sentimos todos que fizemos merda?

7 – Se fazem uma sondagem à boca das urnas, em termos científicos, e tendo em conta que falamos de sondar e de bocas, não a deveriam chamar simplesmente de endoscopia?

8 – Se o que fez reduzir finalmente a abstenção foi um governo execrável de meses que levou o país ao descrédito e ao acentuar da crise, quer dizer que quanto maior for a abstenção, em melhor estado o país se encontra à luz dos olhos dos eleitores?

9 – O período de reflexão é para o eleitor ou para os políticos? E reflecte-se sobre o quê na realidade, se isto foi o melhor que consegui fazer?

Notícia de última hora

José Socrates, promete que se as suas duas medidas inicias no governo resultarem fará algo nunca visto pelo povo.
Sócrates prometeu durante a campanha, enviando e-mails a muita boa gente do país (eu já só recebi um forward), que a sua primeira medida ia ser alargar a Via do Infante para quatro faixas de rodagem. É que a entrada na Via do Infante pelo Algarve, ou vice-versa, estava cada vez mais complicada. Especialmente às horas de ponta. Quanto à segunda, comunicou-a durante um comício. Vai empregar no primeiro mês de governo, mil jovens licenciados. Devido ao elevado número de desemprego, disse que procurava os melhores para a ajudarem a navegar tão grandiosa nau. Os interessados vão ser sujeitos, aos mais duros pré-requesitos, que são:
1º- Ser filiado na Js
2º- Ser filiado na Js
3º- Ser filiado na Js
4º- Ser filiado na Js
5º- Habilitações literárias e média
6º- Experiência de trabalho
Se tudo isto resultar, José Sócrates como terceira medida de governo promete entreter os portugueses durante os seus tempos livres. Ele promete bater palmas, rebolar e apanhar a bola, num qualquer jardim perto de si. Desde que esteja sol, a relva não pique e a temperatura mantenha-se nos 22,5º com uma variação de 0,001ºC, ele está lá. Porque o homem não falha. É enginheiru....

Varela. Pacheco Varela

Paulo Ferreira: Oi!!! Como estás Sandra?
Sandra: Cheia de saudades de Portugal e da minha família. Já não os vejo desde Agosto.
P.F.: E eles não vão ter contigo?
S.: Sabes, a minha avó arranjou um velho todo entesoado e diz que agora não sai da terrinha. Ele consegue uma média de duas erecções por semana e ela não quer vir ter comigo, sabendo que estava a perder os últimos orgasmos da vida dela. E compreende-se. Já tem 89 anos.
P.F.: E os teus pais, porque não vão eles?
S.: Por causa da velha, têm medo que lhe aconteça qualquer coisa.
P.F.: O Herlander já recuperou do acidente? O saco de cimento deve-o ter aleijado. Em cheio na cabeça, depois de um triplo mortal empranchado do 2º andar.
S.: O que achas? Sabes quanto pesa um saco de cimento? Se ele te ouve mata-te.
P.F.: Então porquê? Não é o nome dele?
S.: Ele agora é um entreteiner. Só responde pelo nome artístico.
P.F: E como estão as gravações para o CD?
S.: Vão bem, pelo menos parece-nos. Sabes que entendemos tanto de música como o Eduardo Prado Coelho de arte. Os gajos que a editora contratou parecem ser bons musicos. As músicas são orelhudas, dinâmicas...Enfim, vamos lá ver se a sorte muda.
P.F.: Mas já sabes como as coisas depois se vão processar?
S.: Então, o CD é lançado, e temos que dar umas entrevistas e tocar ao vivo.
P.F.: E como vão as tuas aulas e do resto da malta?
S.: Oh pá. Eu como sou cantora, acho que não são precisas grandes paneleirices como a afinação e essas merdas. Afinal, nós somos um grupo de new-metal. Eu tenho que berrar, não tenho que cantar. Quanto aos outros…É lixado, não te podes esquecer que embora dê-mos a cara por isto ainda estamos na cepa torta. A editora só pincha algum quando a coisa vender.
P.F.: Ó minha explicaram-te como eram as cenas.
S.: Mas eles chegam das obras todos rotos. O Poschwatta de Vata nem a cor tem, quanto mais o que verdadeiramente interessava. O ponta de lança mesmo que não tivesse nada, ao menos mostrou ás mulheres que sabia dar uso ás mãos, este nem por isso. Achas que conseguiria, neste estado, bater em pratos…
P.F.: Quem?
S.: O Pacheco Varela. O meu namorado. Quanto aos outros…Um…Tadito, até tenho pena dele. Mal se baixa com dores nas costas de uma coça que apanhou duns gajos da extrema-esquerda…Não quis partilhar o charro… E eles pumba, baixaram-lhe o canastro. E queres que o rapaz toque quê? Baixo. Estás-te a passar. O segundo…tocar toca. Mas não é guitarra. Também, a namorada trocou-o por outra… Entende-se. Em tempos de dificuldade, não se come caviar… Abana-se a arvore a ver se dá pêssego.
P.F: Ah!!! Nome artístico, não me digas….
S.: Sim. Tenho que ir trabalhar, falamos mais tarde…
P.F.: Ainda continuas a fazer limpezas à noite?
S.: Sim. Olha, eu agora também já arranjei um nome artístico. A partir de hoje chamo-me Sandra Nasic.
P.F.: Nasic, porquê?
S.: O Pacheco andava-me a foder a cabeça para aumentar os seios. Como comigo quem está bem está, quem não está p*** que p****, ele teve uma luz e não falou mais nisso. No entanto anda a faltar aos treinos. Como sou mazinha resolvi atormentá-lo um bocadinho…
P.F.: ???
S.: Vai ouvir sempre este nome daqui em diante. N-A-S-I-C. Não Aumento Seios.
P.F.: E o IC? O que significa?
S.: É só para parecer alemão. Agora sou Sandra Nasic a vocalista dos Guano Apes.
P.F.: Então até Maio. Beijinhos e dá abraço aos rapazes. Treinai, é a vossa oportunidade. Pode ser a única. Asta…
S.: Beijo…Não te preocupes.

terça-feira, fevereiro 15, 2005

A Lenda de S. Valentim

O senhor Alfredo Conceição Valentim era um homem calmo e pacato, mestre na arte das ferragens. No café os amigos chamavam-no de Ção Velentim, ou como era carinhosamente conhecido, São Valentim. S. Valentim tinha a sua oficina de ferragens por baixo de sua casa, um duplex com TV Cabo (Sport Tv incluída), banheira de hidromassagem e dois dálmatas de porcelana a guardar a porta. A oficina era o local onde S. Valentim transbordava a sua arte a moldar ferro fundido. Tinha começado em novo, como ajudante de um amigo do pai que era paneleiro. Mas fazer panelas começou a ser pouco para a ambição de S. Valentim e para a arte do seu martelo. Com a cara queimada dos fornos de forjar foi pedir a garagem emprestada ao pai e dinheiro ao seu padrinho, um merceeiro rico da baixa da cidade. O padrinho foi fácil de convencer. Via naquele menino um prodígio das ligas metálicas. Mas o pai resistia em deixar S. Valentim abandonar de vez a escola e começar a trabalhar por conta própria aos 13 anos. Um dia, S. Valentim deu uma prenda ao pai pelos seus anos. Era uma gaiola em ferro trabalhado para o seu canário Micael. Para além de adornos e floreados como só vira no Mosteiro da Batalha, a gaiola dispunha de 3 quartos, sala de jantar com suporte para o recipiente das sementes, sala de estar e jardim interior, para que Micael soltasse as asas e cantasse com mais alegria que nunca. O pai chorou de alegria e emprestou a garagem a S. Valentim. O negócio prosperou, e vinha gente de todo o país para ver as obras do ferreiro prodígio. Em cinco anos S. Valentim tinha o seu estabelecimento, uma boa casa, e uma namorada belíssima chamada Maria Amorosa. Maria era tudo o que sempre sonhara. Bonita, esbelta, e amorosa, de nome e virtude. Não tardou que casassem com pompa e circuntância, em cima de um altar em ferro forjado e adornado com pétalas de papoilas campestres. O casamento fora marcado à pressa, pois Maria tinha engravidado, e o seu pai não iria gostar de saber que Maria não iria imaculada para o casamento. O seu pai era um homem conservador, com uma rigidez apenas inferior à rigidez dos seus punhos. O Sr. Teotónio era um ex pugilista de renome, ainda hoje lembrado pelo seu famoso soco de batatas, assim chamado graças ao estado em que deixava a cara dos adversários, com hematomas enormes do tamanho do dito tubérculo. Seis meses depois do casamento, eis que nasce o rebento esperado numa simulada cesariana, não fosse o Sr. Teotónio ainda conseguir fazer as contas aos meses, apesar do inchaço cerebral crónico que mantinha desde os tempos do boxe. O parto fora simples, e viria a marcar a vida da criança, ou pelo menos o seu nome. A parteira, a mulher do Vicente do talho, apenas disse “Puxe Maria, Puxe”, e quando se preparava para segurar a sua mão, ouve um grito e vê um bebé de 2.471 kg a voar pelo quarto e a parar com estrondo na porta do roupeiro. S. Valentim, que esperava ansiosamente à porta do quarto, fica em pânico e entra de rompante no quarto a gritar “Já pariu?”. A parteira, ainda atónita disse: “Oh senhor! Este não foi parido! Foi cuspido!”. O homem chorou de alegria e correu para a criança desmaiada no chão do seu quarto. Aquela frase da parteira ficou-lhe gravada na memória, e assim foi que, quando registou a criança decidiu assinalar o acontecido chamando a criança de Cuspido. Teimosamente, o homem dos registos não permitiu tal celebração, e obrigou a queda do s no nome do infante, passando-se a chamar Cupido Amoroso Valentim. Como o episódio do seu nascimento o sugere, Cupido era um diabrete, não parando um segundo no mesmo lugar. O pai achava piada à sua rebeldia, enquanto a mãe perdia claramente anos de vida a cuidar do seu filho. S. Valentim começou a levar Cupido para a oficina, e a verdade é que o míudo acalmava com o calor dos fornos e a observar o seu pai trabalhar. Isto, até a famosa encomenda das armas de caça. Um abastado homem do norte, um tal de Leopoldo Cação, encomendara um pequeno arsenal de caça, para a caçada monumental que ía organizar para comemorar o seu quinquagésimo aniversário. Cupido engraçou com os arcos e as respectivas setas que o pai forjava com arte e empenho. Temendo que Cupido de magoasse, S.Valentim mandou-o brincar para o jardim anexo à sua casa. No entanto a encomenda estava atrasada, pois S. Valentim perdera muito tempo a olhar por Cupido, negligenciando o seu trabalho. Cupido, com a sua natureza irreverente, conseguiu facilmente subtrair um arco e um punhado de setas da oficina de seu pai. Lá fora, procurou o que lhe parecesse um alvo interessante, e encontrou um caniche irritante que se passeava no jardim. Empenhado em trespassar com perícia o pobre canídeo, Cupido disparou duas setas que não percoram mais que 15 metros. Irritado, preparou-se para disparar a terceira. Puxou o braço atrás com toda a sua força, apontou, soltou a flecha, e caiu para trás com a força do arco. “Ahhhh!!!” Ouviu um barulho que não era o de um caniche em desepero. Olhou pelo meio de uma sebe, e viu Ezequeil Vinténs desmaiado nos braços de Lulu Milheiro. Ezequiel estava à uma hora e três quartos a tentar dizer a Lulu o quanto a amava, mas o nervoso miudinho, a juntar à gaguez, não lhe facilitaram a tarefa. Lulu pressentia-o, mas precisava de um sinal, pois sentia o mesmo por Ezequiel. Quando Cupido disparou a seta, Ezequiel preparava-se para falar. Mas as palavras não saiam. Lulu deseperava. De repente Ezequiel grita “ AHHHHHHHmo-te”, abraça Lulu, bate-lhe com a cabeça, no que os mais românticos chamaram um beijo impetuoso, e desmaia em seus braços. Lulu, agora sem os dentes da frente, sorria de felicidade enquanto a sua boca jorrava sangue abundantemente. Um mês mais tarde, quando saiu do hospital, Ezequiel fez questão de ir a casa de S.Valentim anunciar pessoalmente o seu noivado com Lulu, convidá-lo para padrinho, e agradecer ao seu filho Cupido, pela ajuda dada neste belo desenlace. Ezequiel nunca esqueceria aquele dia 14 de Fevereiro, até porque a seta o atingira num tendão e agora mancava um pouco da perna esquerda. Desde então, os habitantes daquela pequena cidade chamam o dia 14 de Fevereiro dia de S. Valentim.

Do you Want To Be My Anti-Valentine Girl ?


Posted by Hello


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Ontem foi dia 14 de Fevereiro

Antes do mais as minhas desculpas por ter deixado passar o dia sem uma pequena nota. Milhares de casais fizeram juras de amor, trocaram prendas, carinhos e organizaram noites românticas para se entregarem ao desejo e à paixão. Afinal ontem foi o Dia Europeu da Disfunção Erectil. Para comemorar o dia e chamar clientela, os restaurantes, bares, discotecas e hotéis distribuiram, gratuitamente, caixas de Viagra pelos frequentadores do seu espaço. Felizmente não precisei de festejar, porque no meu caso todos os dias são dias erectos (para já, daqui a uns anos não garanto).
Mas compreendo a celebração. O carinho que é posto, o desejo dos intervenientes para que tudo corra bem e nada falhe. Afinal, não é todos os dias que estes casais se podem amar e fazer umas festas de um para um no aconchego do lar (ou noutro lugar qualquer). Não é todos os dias que conseguem expressar o amor que sentem pelo seu complemento.
Gostava é de deixar uma pergunta para quem festeja esta data: Se a noite correr mal, como é? Esperam mais um ano, ou passam a comprar Viagra todas as semanas e tentam fazer de todos os dias do ano um dia especial?

Ps: A disfunção tem cura. Por isso desejo a todas as pessoas que ontem saíram à rua para comemorar o dia (e chorar os outros 364), que tenham calma e paciência. Afinal, a disfunção é mais psicológica que fisica. Só tendes que acreditar em vós mesmos. E claro, nas vossas cabecinhas...

segunda-feira, fevereiro 14, 2005

A Claúsula

O Japão deve ser um país fantástico de se conhecer com algum detalhe. Ir viver para o Japão por um certo período de tempo, é uma experiência que deve ter tanto de fascinante como de chocante. As diferenças culturais, linguísticas, hierárquicas, simbólicas, iconográficas, tecnológicas, e quantas mais quisermos mencionar, fazem dessa experiência tanto rica como difícil. E acontece que tenho um amigo que está neste momento a viver tal experiência. Como manda o bom senso, cedo tratou de tentar aprender algo da língua e da cultura nipónica. Mas nada o preparou para assinar um contrato de arrendamento com cláusulas próximas do absurdo. Ora, ao assinar o contrato, o jovem deparou-se com as seguintes condições: não poderá utilizar o seu apartamento de 22 metros quadrados para reuniões com a máfia; e não poderá jogar mah jong. Interessante a cláusula relacionada com a máfia. Pensei que as reuniões com a máfia seriam já por si proibidas pela lei judicial nipónica. É como eu ir assinar um contrato de arrendamento aqui em Portugal e ter uma cláusula a proibir-me de assassinar pessoas no meu apartamento. É claro, há quem assassine, mas em geral a coisa é crime e já por si providencia uma outra morada ao usuário do imóvel. Mas será necessário especificar isso no contrato de arrendamento? E se estiver a planear reunir-se com a máfia será que pode escolher um apartamento onde de facto venha no contrato que se pode reunir com a máfia? Haverá condomínios só para mafiosos, com morgue, salas de tiro, poços onde despachar corpos, bares de strip, e claro… salas de reunião de mafiosos! E depois, aprecio bastante a ironia e bom humor, assim como o optimismo do senhorio do apartamento. Contando que deverá existir uma cama, uma cadeira ou sofá, uma casa de banho, pelo menos, dentro do apartamento… como espera o senhorio que o pobre rapaz faça reuniões com quem quer que seja no seu apartamento de 22 metros quadrados? Estará a pensar na videoconferência? Depois temos o pormenor da proibição de jogar mah jong. Portanto, será como proibirem aqui um inquilino de jogar dominó. Aparentemente, o barulho das peças a tocar umas nas outras, ou no tampo de uma mesa (será que tem espaço para a mesa), é insuportável para os vizinhos. E queixamo-nos nós da qualidade de construção cá em Portugal! Se é assim, o rapaz nem pode mexer-se dentro do quarto, porque só o barulho dos pés deve ser ensurdecedor. Provavelmente viria no contrato também a obrigatoriedade do uso daquelas sabrinas pretas que os ninjas utilizam, assim como a aplicação da técnica ancestral de caminhar silenciosamente e calmamente, pé ante pé, como quem prepara um ataque letal. Parece que o estou a ver a caminhar pelo quarto, como se esperasse um ataque do Chuck Norris em qualquer canto da casa. Isto é, se couberem lá os dois.

sexta-feira, fevereiro 11, 2005

Carnaval Catita

Eis se não quando, num movimento nocturno aleatório, me deparo com um concerto dos alucinados “Irmãos Catita”. Já há muito tempo que não via o candidato Vieira em qualquer um dos seus alter egos musicais. Num sábado prenúncio de Carnaval, nada melhor que delirar em conjunto com estas personagens. Revi alguns clássicos do cancioneiro Catita, como o Fado do Barnabé ou o Putas do Mundo, ouvi algumas novidades, pelo menos para mim, como aquela fantástica que é rematada com “e a levar no ** estragas tudo quando dizes I Love You”, e ainda um Merdlley de Carnaval como eles lhe chamaram, com alguns clássicos brasileiros em versões catita, uma versão portuguesa do “I Just Called to Say I Love You”, músicas dos partidos políticos e por aí fora, por onde a imaginação e o álcool e aditivos os levavam.
Anos e anos de activismo imbecil fazem destes tipos um caso ímpar. Ao contrário do que muitos pensarão, eles não são uma cambada de bêbados que fazem músicas com o maior número de ordinarices que conseguirem encaixar num verso. Ok … também são… Mas isso faz parte de uma personagem que eles criaram, muito à imagem do Manuel João. Alucinado ele é de certeza, mas de estúpido tem muito pouco, parece-me a mim. Ele encarna o non sense musical. E não se esqueçam que todos eles são excelentes músicos, tanto em técnica como em criatividade. Depois temos a fabulosa candidatura à presidência da república. Essa foi magnífica. Eu interpreto isso como um manifesto, uma posição face ao panorama político e social. Tentar agitar consciências. Só o lema de campanha dele era disso exactamente exemplo :”Só desisto se for eleito”. É claro que isto vem a propósito das desistências dos candidatos menores em favor dos dois principais concorrentes ao cargo, e por outro lado não deixa de ser verdade. É claro que ele não quer ser eleito, e se por alguma razão fosse, desistia. O Vieira estudou pintura na Faculdade de Belas Artes, é culto, é inteligente. Aquela atitude não é fruto de uma educação pobre, pais ausentes, pai que bate na mãe, filho que apanha dos dois, e muitas sopas de cavalo cansado em miúdo. Aquela atitude é propositada. E até acredito que ele seja um bocado assim na realidade. Maluco, excêntrico, desbocado? O que quiserem. Mas um concerto de Irmãos Catita ou de Ena Pá 2000 é uma experiência muito enriquecedora. Pelo menos é rir do princípio ao fim. Foi a minha festa de Carnaval, eu que nem sou grande apreciador da quadra.

quinta-feira, fevereiro 10, 2005

Porque é que...

Sempre que nos batem à porta perguntamos quem é, e nunca quem foi...!

O Carnaval já passou...

E ainda bem. Tirando a minha adolescência nunca mas nunca gostei do Carnaval. A maioria dos disfarces que usei já não se encontram alojados no meu CPU, mas ainda me lembro de ter andado disfarçado de cowboy, drácula e de pierrot. Já não sei dizer se gostava muito ou pouco, mas acho que era tudo uma questão de seguir o grupo. Quando um gajo é puto não pensa, apenas age. E se todos se mascaravam, aqui o vosso amigo seguia a banda.
O tempo foi passando e cada vez mais punha, a mim próprio, a questão: “ Que piada tem o Carnaval ?”
Seria pela necessidade de pôr uma máscara e encarnar um personagem? Não, porque para encarnar um personagem prefiro ir para o teatro amador ou fazer figuras cómicas à frente do espelho. Gostava que reparassem que cada vez é maior o número de homens que se mascaram de mulher...Como também é maior o número de homens que estão a assumir a sua homossexualidade... E não é preciso chegar ao Carnaval para se usar uma máscara. O ser humano mascara-se todos os dias.
Seria pela música, especialmente pelo samba? Sempre me considerei um pé de chumbo, tirando certas alturas em que me encontro na companhia do Deus Baco e julgo que sou o novo Fred Astaire, e mesmo assim... Se ainda fosse um rock-samba...
Seria pelas mulatas, com os seus bumbuns generosos, semi-escondidos (semi, eu é que sou um bom semi) por aquela maravilhosa invenção brasileira chamada fio dental? Estou em Portugal, não no Brasil. Estou num país onde a temperatura no Carnaval ronda os 10ºC ou menos e as mulheres não têm nem os atríbutos, nem o jeito herdado pelas brasileiras. Têm outros, mas não aqueles. Então para quê virem para a rua, desfilar, sambar (quando o jeito não é muito), com aqueles pequenos trajes, quase a dizer: “Pronto, estou em condições para morrer de frio. Anda, vem a mim espírito branco do inverno e leva-me para baixo da terra.”. Não era preferível, sendo a vontade muita, requesitar o namorado(a) ou um amigo(a) sempre pronto para as ocasiões e ir sambar para um local mais sossegado. Quiçã mais quente. De preferência com ar condicionado?
Acima de tudo falta-nos atitude. Pode-se fazer umas coisas engraçadas mas somos um país de fado, não de samba. Já viram os italianos ou os alemães, de traje brasileiro a sambar pelas ruas fora? Numa discoteca, pode ser que sim. Eles adaptaram o Carnaval aos seus costumes e não querendo imitar ninguém, criaram uma cultura específica da própria festa. Não precisam de trazer artistas brasileiros pagos a peso de ouro simplesmente para mostar o sorriso Colgate (a Pepsodent deixou de me patrocinar) e dizer:” Eu tou muito feliz de vir a Portugau. Já cá tinha estado uma vez e amei. Quê posso dizer. É o povo irmão. Existe um carinho grande. A comida é muito boa. Amei, amei e amei.” E ao mesmo tempo pensar: “Foda-se, cara. Ondi mi vim metê. Estes portugas são doidos. Tá um frio de rachá. Aí que sou tão burro. Tava tão bem no Brasiu....Mas a grana dá cá um jeitaço...”
Prefiro juntar-me com amigos que, como eu não apreciam o Carnaval. Sim, nós existimos e exigimos o direito à diferença e ao reconhecimento. Exigimos o direito de não alugar fatos nem comprar máscaras. Gostavamos de passar pelo meio dos foliões sem ouvir bocas maldosas, nem levar com serpentinas e bombas de mau-cheiro. Gostavamos de frequentar bares com samba-free e onde fosse possível adoptar livremente o género de música pretendido. Gostavamos...
A associação Opus-Carnaval está a ser criada para ajudar todos a viver num mundo mais tolerante, onde o direito à diferença seja sempre possível... mas, sem Carnaval.

quarta-feira, fevereiro 09, 2005

Deixem falar quem sabe...

If a man has not drawn firm, restful lines along the horizon of his life, like the lines drawn by mountain and forest, his innermost will itself grows restless, distracted and covetous, as is the nature of the city-dweller: he has no happiness himself and bestows none on others.

Friedrich Nietzsche

segunda-feira, fevereiro 07, 2005

Toda a Verdade - Entrevista a Candidato a Primeiro Ministro

Entrevista a um candidato a primeiro ministro:

Jornalista - Boa noite Sr. Candidato.

Candidato - Boa noite.

J - O que o motiva para concorrer ao lugar de primeiro ministro?

C - É engraçado fazer-me essa pergunta. Mas não foi uma decisão muito pensada. Foi algo que nasceu, que foi crescendo à medida que o país se afundava, e quando dei por mim estava a lutar por isso. Senti que podia fazer a diferença, devolver a confiança aos portugueses, devolver-lhes a esperança, a alegria, dar-lhes uma razão para se orgulharem de serem portugueses. Não vai ser fácil, mas é um desafio que me move.

J - Ok. Essa é a resposta que costuma dar. Mas quase ninguém acredita nela. É lógico que o ideal era que o que movesse um candidato a primeiro ministro fosse um sentido de dever cívico e patriótico de fazer o melhor por Portugal, usar os seus conhecimentos como figura maior do nosso país em prol do seu desenvolvimento e afirmação. Mas todos sabemos que isso não é bem assim! Tanta gente por lá passou, e a cada um que passa são mais buracos e mais contratos para amigos, aquilo a que vulgarmente se chamam tachos.

C - Eu percebo o que quer dizer. De facto aquele discurso é algo que se vai ganhando depois de anos de retórica e demagogia barroca em juventudes partidárias ou associações de estudantes. Sabe que desde as juventudes partidárias somos levados a movimentar-nos de tacho em tacho, arranjar os amigos certos, apunhalar os amigos certos, favorecer os amigos certos. E isto é um jogo de estratégia que não pode ser menosprezado. A partir do momento em que entramos nisto e nos começamos a sair bem, já não sabemos fazer as coisas de outra forma. O outro dia passei à frente numa fila de pagamento na FNAC em troca de um discman. As coisas funcionam assim. Eu sei que é difícil compreender a quem nunca viveu os loucos tempos das juventudes partidárias. E depois eram aquelas viagens pagas aos comícios e congressos, com dormida paga, comida, e muito vinho e cerveja. Eram festas até altas horas. No dia a seguir nem sabíamos no que estávamos a votar. Tínhamos um tipo que nos dizia quando devíamos votar ou não.

J - E não lhe custa enganar as pessoas assim? Dizer essas tretas do dever cívico e do sentido de responsabilidade. De falar em coisas tão sérias, de brincar com a vida de pessoas que surpreendentemente vos dão a oportunidade de fazer algo por elas?

C - Repare que se eu falasse como estamos a falar aqui não ganhava nada. E por outro lado era extremamente injusto, porque os outros falam tal e qual como eu. Se fossemos todos honestos e disséssemos o que realmente pensamos, aí sim seria justo. Mas não me parece que isso vá acontecer. E estes discursos funcionam muito bem. 80% da população nem nos percebe muito bem, porque os nossos discursos são feitos de maneira a que se usem muitos advérbios e muitas palavras mais elaboradas, conseguindo dizer num discurso de 10 minutos pouco mais que nada. Depois metem-se palavras como emprego, competitividade que a maioria nem sabe o que é, educação, crescimento económico, com mais ou maior à frente, e temos um discurso muito interessante para o eleitorado. E como muitos sabem tanto de português como eu de atum de conserva, são facilmente ludibriados pelo que eu chamo engenharia linguística.

J - É também essa uma razão para as reformas de fundo na educação serem sempre evitadas? Interessa ter um povo pouco preparado para perceber o que realmente se passa no país?

C - Essa é uma pergunta difícil. É claro que é muito mais fácil enganar um povo analfabeto e com graves falhas na interpretação de português. Mas depois essa falta de educação também é má para atrair investidores estrangeiros. Se queremos cá grandes empresas de elevado nível tecnológico, temos que ter mão de obra minimamente qualificada. Ao menos que saibam ler as instruções das máquinas. E nós precisamos desse dinheiro para nos governarmos. Se não qualquer dia temos que vender o parlamento para um condomínio de luxo.

J
- Muito obrigado por esta entrevista senhor candidato. Durante a campanha teremos provavelmente outras hipóteses de conversar.

C - Naturalmente. O prazer foi meu. Espero que possa ter esclarecido os portugueses.

J - Boa noite.

C
- Boa noite.

quinta-feira, fevereiro 03, 2005

Aushwitz - Memória

Passam 60 anos da histórica libertação do campo de concentração de Aushwitz e a humanidade não aprendeu nada. Lições de moral à parte, que eu não tenho jeito para as dar, há coisas que me saltam à vista. Espero que por abrir aqui a minha mente não seja perseguido no metro, não ergam um muro à minha volta, nem me acusem de anti-semita. Sou apenas um pobre ser pensante, a quem por ventura a propaganda não tenha feito tanto efeito.
Estamos todos de acordo que os judeus passaram algo inimaginável nas mãos dos alemães durante a segunda grande guerra. Foram perseguidos, torturados, humilhados, mortos. Mas que raio de visão selectiva, ou cegueira colectiva, permite que cada vez que se fala da segunda guerra mundial apenas se fale na matança de judeus, e não se complete o rol com outros perseguidos? Nunca se fala dos outros. Nunca se lembra os outros. Muita gente nem sabe que houve outros. Eu já estive em Aushwitz. Uma experiência algo desagradável mas, penso eu, obrigatória para qualquer ser humano. Lá, numa das casernas usadas como mostruário de provas e factos relativos ao que ali se passou, figura um decreto assinado por Hitler. Um decreto dos primeiros tempos de ocupação relativo à perseguição de determinados grupos específicos. Eram eles os roman (ciganos), polacos, e judeus. Os ciganos aliás, foram dos primeiros a serem perseguidos. Mas disto ninguém fala. Os ciganos vendem pólos Ralph Lauren na feira de espinho e os judeus têm bancos, deputados, congressistas e governadores nos EUA, petróleo, armas poderosas, e outros extras. Ninguém fala dos outros povos mortos e humilhados. Apenas os judeus parecem ter direito à história. O que eles passaram nunca deverá ser esquecido. Mas deverá ser lembrado também que outros passaram pelo mesmo. E foram bem mais do que aqueles que muitos imaginam.
Está de certo modo claro porque o lobby judaico pelo mundo inteiro, com maior incidência no americano que é ultra poderoso, insiste em lembrar a história, esquecendo outros companheiros de dor. Enquanto o mundo se curva em comiseração e angustia, existe uma margem de tolerância em relação a atitudes por eles tomadas. Do género o puto a bater noutro na escola... “Coitadinho. O pai dele apanhou tanto no colégio e agora ele é assim. Não lhe ralhes…”.
Ou seja, não estou a negar o direito ao respeito pelo passado judaico. Nunca deverá ser esquecido aquilo que um dia se passou. Apenas acho que há mais pessoas que merecem a honra da memória.

Pedro Oliveira, O Censor

Há uns dias, pela primeira vez senti o que era a censura. Não estava à espera dela, mas fui atingido que nem um raio. E logo de um lado que eu não contava: O Esquerdo. Ouvi um ditado popular que diz que existem duas coisas às quais não conseguimos escapar: Os impostos e a morte. Quanto à morte nada tenho a dizer, agora essa de não conseguimos escapar aos impostos??? Acredito que foi brincadeira de alguém depois de uma noite de copos. Virou-se para os amigos e disse:

“- Ó pessoal, vamos inventar um ditado que não seja totalmente verdade, para baralhar o cérebro a quem o ouvir???”

O mais provável é o ditado não ser português. Porque se fosse, era óbvio que ele era:

"- Podes não conseguir fugir a nada. À morte, à tua ex-namorada, ao bibi, à PJ. Mas concerteza consegues fugir aos impostos."

Claro que o gajo podia estar a ouvir o Zeca Afonso e confundir animar com enganar, e ficou-lhe debaixo da língua:

“- O que faz falta é enganar a malta, o que faz falta...”

E ele pumba. Inventou tão enganoso ditado. Como podem ver o alcool distorce a verdade, não bebam (não nos podemos esqueçer, mais uma vez, o público alvo do blog. Dos 5-14). E a música é um objecto do Demo, tapem os ouvidos.
Eu sei. Começo a falar em censura e já vou em ditados populares e a dar conselhos aos leitores. Mas tudo tem uma lógica.
Fui censurado por um blogue que costumo visitar todos os dias. O nome: Barnabé (como o burro). O censor de serviço: Pedro Oliveira. Imagino-o sentado em frente ao PC, fato com um corte horrendo, chapeu de coco, óculos redondos, bigode fino e uma caneta BIC de escrita grossa nas mãos. E sempre a deitar abaixo. O que disse, nada de especial. Insultei ou chamei nomes alguém? Não. Fiz alguma chalaça? Fiz. Disse que o Louçã era bisneto do Lenine. Quanto ao essencial que é a discussão de ideias dei apenas a minha perspectiva política. Boa ou má, não me cabe a mim decidir. Insultuosa ou passível de censura? Acho que não.
Entendo é que existindo uma caixa de comentários, todas as opiniões são válidas. Mesmo que escrevesse lá alguma coisa do tipo:

“- Foda-se, que é esta merda caralho? Ide censurar o caralho que vos foda e jágora começainde a ter sentido de humor!!!”

Primeiro: Sou um homem do norte e isto simplesmente quer dizer:

“-Então o que é isso? O meu objectivo não é ofender, apenas brincar um bocado. E vá lá, toca a ter um bocado de sentido de humor!!!”

Segundo: Ou se tem ou não se tem. Ou se deixa entrar ou não se deixa entrar. Sempre pensei que ter um porteiro à porta de um estabelecimento nocturno a barrar a entrada, baseando-se no aspecto das pessoas era uma estupidez. Anti-democrático. E principalmente, uma politica saloia e de direita. Para os comentários penso exactamente a mesma coisa. E qual não é o meu espanto que esses grandes esquerdistas, defensores da solidariedade e democracia sejam uns censores implacáveis. Já não existem panos bons, limpos. É só nodoas. Se no final tivesse comparado o Louçã ao Estaline (como pensei inicialmente) compreendia. Mas, pesei os prós e os contras. Telefonei à Fátima Campos Correia. E ela disse-me:

“- Já leste a Sabado? Na entrevista que o Louça dá ao MEC ele fala com admiração do Lenine.”

E assim dito, assim feito. Já sabia que no aspecto ideológico, a direita actual é conservadora, tacanha de espirito e de ideias. Não imaginava (por acaso já, nunca tinha dito antes) é que a esquerda fosse tão enjoada e sem sentido de humor. Então quando agulha vira para eles e brinca com as suas convicções ideológicas eles ficam doidos. É pena isso acontecer porque o fado só leva à depressão. Ficavam com menos rugas na cara e na alma. É excelente gozar os outros, as ideias dos outros, desde que as ideias sejam diferentes. Agora quando gozam connosco é que é o CARALHO. Mas lá está, é preciso ter estômago e acima de tudo sentido de humor. Coisa que está mais que visto, o Sr. Pedro Oliveira não tem.
Mas o que se pode fazer? Os grandes pensadores modernos andam a ser perseguidos. Já era de esperar. Primeiro o Luís Delgado, depois o Marcelo, depois o Louçã e agora Eu. Os censores estão cada vez mais a perder a vergonha. E sempre à procura de personalidades admiradas na sociedade portuguesa, pela sua isenção e integridade . Felizmente o Papa está no hospital e não se pode manifestar, caso contrário era o próximo a sofrer com tão indecoroso acto. O risco azul.
Mas não quero que pensem que fiquei amargurado, ou que depois deste post vou-me suicidar. Não. Continuarei a ler o Barnabé com uma religiosidade diária. Porque desde a quase ausência do Gato Fedorento não apreceu nenhum blogue ao nível da comédia que se possa comparar ao Burro Enjoado.

quarta-feira, fevereiro 02, 2005

Isto é só trabalho...

I'd sell your heart to the junkman baby
For a buck, for a buck
If you're looking for someoneto pull you out of that ditch
You're out of luck, you're out of luck

The ship is sinking
The ship is sinking
The ship is sinking
There's leak, there's a leak,
in the boiler room
The poor, the lame, the blind
Who ore the ones that we kept in charge
Killers, thieves, and lawyers

God's Away, God's away
God's away on Business. Business. God's Away,
God's Away
God's Away on Business. Business.

Digging up the dead with
a shovel and a pick
It's a job, it's a job
Bloody moon rising with
a plague and a flood
Join the mob, join the mob
It's all over. It's all over, It's all over
There's a leak, there's a leak,
in the boiler room
The poor, the lame, the blind
Who are the ones that we kept in charge?
Killers, thieves, and lawyers
God's away. God's away, God's away
On Business. Business.
God's away, God's away. God's away
On Business.

Instrumental Break
Goddamn there's always such
a big temptation
To be good, To be good
There's always free cheddar in
a mousetrap, baby
It's a deal, it's a deal
God's away, God's away, God's away
On Business. Business.
I narrow my eyes like a coin slot baby,
Let her ring, let her ring
God's Away, God's Away
God's Away on Business.
Business..........

God´s Away On Business-Tom Waits :)

terça-feira, fevereiro 01, 2005

Tirem-me Daqui ...

Algures, num gabinete de apoio ao desenvolvimento e incentivo ao jovem:

- Boa tarde. Gostava de me candidatar a um subsídio, um fundo europeu.

- Sim senhor. E para que queria esse subsídio. Qual é o sector?

- O sector? Bem… É preciso ser específico?

- Claro. Temos subsídios para tudo e mais alguma coisa, mas temos que os enquadrar segundo o quadro comunitário aplicável. Para cada um tem diferentes procedimentos e diferentes papeis a preencher.

- Ah sim… Compreendo. Bem, o sector será Europa Central, Europa do Norte, América do Sul talvez. Ainda não decidi, sabe…

- Pois… Mas quer subsídios para internacionalização? Isso não é aqui. Devia ir à AIP ou ao ICEP. Lá pode ter mais informações.

- Não é bem para internacionalização. É mais… Bem, é o seguinte. Eu queria um subsídio para imigração.

- O que? Mas olhe lá! Não existe tal subsídio.

- Tem que haver! Procure lá bem!

- Estou-lhe a dizer que não há! Então eu não trabalho nisto há que tempos! Não haveria eu de saber!

- Veja lá. Não lhe custa nada. Eu tenho que sair daqui! Este país dá-me vertigens. Alergias. Ando com uma sinosite agora por causa das eleições! Nem lhe passa pela cabeça. E quando foi da convocação das eleições antecipadas!? Fiquei cheio de erupções na pele. Parecia uma cobra a mudar de pele. Faça-me lá esse jeitinho.

- Mas olhe. Se fica doente com isso pode é pedir um atestado, ou uma receita. Com um bom médico e um bom advogado consegue um tratamento à base de apartamento em Berlim, e um bom emprego numa multinacional estrangeira. Tenho uma amiga da pasteleira que está agora na Venezuela. Tudo por causa da urticária que as novelas brasileiras lhe causavam. Estava atacadinha! Era costas, braços, cara, até nas plantas dos pés! Se quiser dou-lhe o número do médico dela. Subsídios é que não temos mesmo. Peço desculpa.

- Ora essa. Valeu a pena tentar. Mas vou aceitar o número desse médico.

- Também pode é fazer uma coisa… Humm … Se calhar não dá …

- O quê? O quê?

- Bem… estava a pensar… E se fizesse uma permuta com um ucraniano ou moldavo? Isso no SEF é capaz de se arranjar.

- Uma troca de identidades?

- Bem… não é bem… Quase!

- Mas isso já não me interessa tanto. Embora o leste me fascine. Mas hei-de ser Silva até morrer. Tirem-me Portugal debaixo dos pés, mas não mo tirem da minha pessoa. Cá dentro serei sempre Português. Afinal o Figo ainda é nosso…

- Será? Olhe que ele já fala muito espanholado. E casou com uma loirita ali do norte da Europa. Qualquer dia nem ele …

- Pois … Tem razão. Bem… se o médico não me resolver o problema vou lá ao SEF ver que ofertas há nas permutas.

- Faça isso.

- Ok. Muito obrigada pela ajuda.

- Estou aqui é para isso.

- Adeus. Boa tarde.

- Boa tarde.

Todos Sabemos Quem Este Homem É ...

Vejo um homem em decomposição. Um triste espectáculo numa infinidade de actos. Actos falhados, ou tristemente conseguidos. Um homem com um futuro anunciado, ou sem futuro, se quisermos ser mais precisos. Vejo um homem que, no que podia ser chamado de bravura, recusa-se a abandonar o barco. Mas é ele o buraco por onde a água entra. E o buraco aumenta, o barco afunda-se, e ele nada na catástrofe. Vejo os seus imediatos, num passo de mágica virarem ratos, e fugirem desse barco. Ao sair roem a corda, e o homem que eu vejo está cada vez mais sozinho. Ouço esse homem dizer burradas, tiradas de 3º escalão, frases impensáveis, insinuações asquerosas, um autêntico mau hálito de verborreia. Viesse um gato e comesse-lhe a língua, e ele arranjaria maneira de vomitar qualquer coisa, bem nojenta por sinal. Vejo um partido rendido. Rendido ao que o futuro lhe reserva, e rendido à incompetência do seu líder. Dá ideia que esse homem é o único que ainda está em campanha, porque a campanha do partido é outra. Apanhar os cacos, e são muitos, e preparar uma cola forte e estanque que refaça a jarra maior do par de jarras governamental. Entretanto, este homem cria divisões, insinua, indigna, insulta, as pessoas e a sua inteligência. Este homem é uma vergonha. É uma nódoa. Este homem é indigno de representar Portugal, de o dirigir, de falar em seu nome. Todos sabemos quem este homem é. Tem ele razão, ao menos nesta simples constatação.